Venha me pegar

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Cirilla

 Deixamos o Cisne Negro fomos até a floresta seguidos por Jaskier, que mesmo depois de ser enxotado diversas vezes por Geralt, insistiu em nos acompanhar nessa "aventura". Queria ter dito que ter minha vida em risco o tempo todo não estava sendo exatamente gratificante para mim, contudo, eu não o culpava pelo seu desejo de se sentir pertencente a um lugar. E após muito insistir, o bruxo desistiu de fazê-lo mudar de ideia através da violência, restando apenas aceitar que seríamos um trio dali em diante.

 Plotka trotava preguiçosamente ao lado do homem que a levava pelas rédeas, esgueirando-se junto a nós por entre as árvores. Durante parte do percurso a vegetação era tão fechada que as copas uniam-se de tal forma que quase impediam que os raios de sol as atravessassem e iluminassem o solo, porém, vez ou outra um galho mais espaçado permitia que um filete de luz incidisse sobre a folhagem pisoteada, dançando diante de nós como cristais no ar.  

 Aquela parte da floresta era fria e úmida, mas após longos minutos de caminhada nos deparamos em uma pequena clareira. Ali, a claridade do dia adentrava livremente, tocando meu rosto assim que me permiti sair das sombras. Fechei os olhos e deixei que o calor agradável esquentasse minha pele, meu rosto e meu corpo. 

 - É um ótimo lugar para um acampamento. - o bardo assentiu, brandindo o seu alaúde e sentando-se sob o frescor de um grosso tronco. - Tem espaço suficiente para uma fogueira, e ainda nos mantém escondidos e seguros.

 O outro não se dignou a responder. Permaneceu em silêncio enquanto com um nó atava sua montaria em uma árvore próxima.

 - Pois eu concordo, mesmo que já esteja farta de dormir sobre a relva. Sinto falta de uma cama confortável e lençóis limpos. - reclamei.

 - Tenho a solução para os seus problemas, princesa. Basta que tire as roupas e deite sobre elas. Tenho certeza de que o chão ficará muito mais macio.

 Não contive o riso, assim como a ardência que impiedosamente se apoderou das maçãs do meu rosto. Olhei de esguelha para Geralt e notei que permanecia com o rosto enrijecido e maxilar trincado, soltando o ar pelas narinas dilatadas.

 - Mas então eu passaria frio. - rebati sua ideia absurda, fingindo que eu estava de fato a considerando.

 Ele colocou com cuidado seu instrumento no chão, levantou o indicador e em seguida pôs-se de pé, correndo em minha direção, e estando então ao meu lado, abraçou-me e me puxou para perto dele.

 - Não, pois eu a aqueceria com o calor do meu corpo ao deitar-me ao seu lado. - explicou, gesticulando com a mão livre.

 Dessa vez segurei o riso, passando compulsoriamente a língua no lábio inferior. Era visível que ele estava querendo dormir comigo, e para ser sincera, mesmo que suas investidas me divertissem, eu não descartava a possibilidade de me entregar a ele. Jaskier era um homem bonito, jovial e com belos olhos verdes, e seria mentira negar que ele me atraia, ainda mais quando eu andava sendo tão rejeitada pelo bruxo.

 - Calado, Jaskier. - ele rosnou, soltando as cordas de sua égua e atravessando a clareira a passos tão pesados que seriam capazes de causar um terremoto. - E se afaste dela.

 O bardo rapidamente me soltou e ergueu as mãos a frente do corpo em um gesto de redenção, indicando que não queria problemas. Já eu, respirei fundo e revirei os olhos. Ele era tão enigmático que eu não conseguia detectar se estava sentindo ciúmes ou apenas sendo superprotetor. 

 Eu havia dito que sua companhia era agradável e por vezes me divertia, contudo, haviam momentos que eu gostaria que um enorme lobo branco devorasse aquele enorme lobo branco apenas porque seria poético.

Lei do Destino [Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora