Livre Arbítrio

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Geralt

Aquela festa estava um porre. A música estava alta demais, as pessoas estavam agitadas demais, até mesmo os lustres pareciam emitir uma luz excessiva, logo, não me admirava o fato de Cirilla parecer extremamente aborrecida. Seu olhar permanecia distante, fixo em um fantasma que parecia flutuar entre a mesa e o resto do salão. Eu mesmo daria qualquer coisa para sair dali e ficar longe de todas aquelas vozes, no entanto, eu havia uma obrigação a cumprir e me considerava um homem de palavra.

Passados alguns minutos, quem sabe uma hora, um rapaz apareceu diante da princesa e a convidou para uma dança como eu havia dito que ele faria. Tinha certeza de que a jovem recusaria, já que em suas expressões não havia pretensão alguma de corresponder ao flerte do convidado. E ela assim o fez, mas mesmo depois de declinar, se viu encurralada pela insistência de sua avó.

Naquele momento, Cirilla era uma criatura indefesa que havia caído em uma armadilha de caça. Ela buscava com urgência apoio de alguém de sua família, até que então, seus olhos encontraram os meus, talvez ao acaso, talvez de propósito ou simplesmente por desespero, e não pude negligenciar o pedido inaudível que suas orbes azuis me lançavam.

- Ela adoraria, mas eu a convidei primeiro.

Com aquelas palavras, tomei a mão da princesa e conduzi a presa para fora da jaula.

- O que pensa que está fazendo? - ela disparou assim que saímos da mesa.

Eu estava fazendo apenas o que havia sido pago para fazer: proteger a aniversariante. Sabe-se lá o que aquele garoto poderia ter feito com a jovem quando estivessem longe do olhar da rainha. Aquilo deveria ter sido o meu primeiro pensamento, contudo, a verdade era que eu odiava a ideia de que o direito de escolha era tirado de Cirilla o tempo todo.

No ritmo da música que embalava a festa, fomos nos afastando da mesa onde a família real se sentava. Esbarrando em mulheres que rodopiavam com seus vestidos extremamente justos e pesados e desviando de homens bêbados que pareciam atraídos pelas únicas pessoas que queriam escapar daquela dança.

Quando já estávamos no fundo do salão, soltei-a, retirando as mãos de sua cintura e abrindo espaço entre nós.

Parecendo confusa, estreitou os olhos e franziu o cenho, me analisando como se eu fosse uma criatura monstruosa que a havia sequestrado, o que era estranho já que minhas intenções eram exatamente opostas.

A garota cruzou os braços na frente do corpo como sua postura de monarca mimada permitia, insistindo em novas perguntas cada vez que eu dava uma resposta. O que mais aquela criança queria ouvir de mim? Que eu tinha senso de justiça e liberdade e me importava com suas escolhas mesmo a conhecendo há apenas um dia? Eu não era o tipo de homem que falava sobre os sentimentos.

Nem havia razão para tal coisa.

Se Jaskier estivesse ali, com certeza me salvaria com sua conversa sem fim. O bardo falaria tanto que ao menos eu teria uma desculpa para evitar os ataques de Cirilla.

Eu mal pensara naquilo quando uma voz inconfundível atravessou os meus ouvidos e seu dono se materializou bem na minha frente. Uma mão trazia um cálice transbordando com vinho e a outra estava pousada na cintura de uma moça que visivelmente pertencia à alguma corte.

- Ora, ora, o que temos aqui. - ele deixou sua acompanhante e se pôs a andar em círculos ao meu redor, parecendo me avaliar. Não nos víamos há anos, mas nossos encontros permaneciam com a característica de serem peculiares e totalmente ao acaso. - Que surpresa agradável!

- Jaskier. - respondi sem entusiasmo. - Lhe pergunto o mesmo.

- Eu? Estou apenas aproveitando uma boa festa na companhia de uma moça adorável. - ele lançou um olhar para a mulher, que retribuiu com uma risada histérica de quem caiu no conto do bardo.

Lei do Destino [Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora