À Espreita

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Cirilla

 Quando o questionei acerca da identidade de Yennefer de Vengerberg não estava querendo saber exatamente quem ela era, e sim, o que a mulher representava para o bruxo. Esperei por uma declaração que pudesse fazer-me imaginá-la, conhecê-la e saber que de fato ela poderia nos ajudar, contudo, as respostas que obtive foram vazias , porém não totalmente desprovidas de qualquer sentimento. Através das poucas palavras de Geralt pude notar que a feiticeira era de fato muito poderosa, e que de alguma forma seu passado estava ligado ao do lobo branco. Como? Eu não fazia ideia, visto que o homem esquivava-se de minhas perguntas sempre que possível.

 Assim como no dia em que o conheci, há pouco mais de uma semana, estava me cansando de tentar uma aproximação onde eu forçava diálogos que eram mantidos apenas por obrigação, sendo assim, após minha divagação sobre o destino e o que eu pensava a respeito dele, limitei-me a me recolher em um canto e aninhar meu corpo sobre o manto azul real. O que nos separava era uma curta distância, cujo o centro era delimitado pela pequena fogueira que ainda crepitava.

 Tentei dormir, contudo, o receio de que a figura misteriosa que me salvava da morte ocupasse meus sonhos por mais uma noite não permitia que eu fechasse meus olhos, logo, contentei-me em encarar as labaredas que dançavam diante do pálido rosto de Geralt. Vez ou outra meu olhar deixava o fogo e se dirigia às feições rígidas do bruxo, que mostrava-se concentrado na tarefa de partir em pequenos pedaços um galho que segurava entre os dedos. Suspirei e balancei a cabeça negativamente assim que objeto de meus pensamentos se tornou o riviano. 

 Estava cada vez mais difícil negar a intensidade do que eu sentia sempre que me recordava do beijo, das carícias e da sensação de prazer crescente que seus dedos irradiavam ao tocar o interior das minhas coxas. Fechei os olhos com força, mordi os lábios e respirei fundo, contudo, a incapacidade de fingir que aquela noite não havia existido estava enraizada em minhas memórias, pois para mim, as feições do bruxo haviam se tornado sinônimo de desejo. 

 Eu daria qualquer coisa para voltar no tempo e concluir  o que havíamos começado, no entanto, não tinha certeza se aquilo era o que Geralt queria já que a decisão de cessar havia partido única e exclusivamente dele, levando-me a crer que talvez ele não me desejasse tanto quanto eu o fazia. De qualquer forma, ele ainda era um homem, e mesmo que estivesse lutando pela sua moral, cedo ou tarde cederia aos caprichos de seu corpo, e eu seria a pessoa quem garantiria aquilo.

 ***

 Eu não sabia exatamente onde me encontrava pois um saco havia acabado de ser retirado de minha cabeça, forçando minha vista a se acostumar com a penumbra do ambiente. Quando enfim fui capaz de enxergar a meia luz, vislumbrei as paredes de pedras cobertas por musgos, e delas grandes e pesadas correntes estavam fixadas a intervalos de distância. Fui tomada pela surpresa quando, ao tentar me mexer, meus movimentos foram limitados pelo tilintar metálico dos elos enferrujados.  

 Com o pânico crescente me debati e tentei chamar por ajuda, entretanto, o medo parecia calar a minha voz, que subia pela minha garganta e saia como um pequeno gemido. Eu temia que ao gritar eu despertasse a fúria de meus captores, contudo, o desejo de clamar por socorro não abandonava facilmente os meus ossos. 

 Olhei em volta da masmorra, absorvendo os detalhes até onde a falta de iluminação me permitia, buscando por alguma pista ou algo que pudesse me ajudar a me desvencilhar daquelas correntes que me mantinham presa com os pulsos acima da cabeça. Nada encontrei, pois tudo o que havia no ambiente era lodo e ratos que eventualmente corriam pela pequena claraboia, desfilando com sua liberdade bem diante de meus olhos.

 O silêncio sepulcral foi quebrado quando, de súbito, ouvi passos que se dirigiam até as masmorras. Meu coração parou no instante em que a porta rangeu e foi aberta, revelando uma figura alta e encapuzada seguida por outras duas. Pelo porte físico julguei serem homens. O do meio se dirigiu a mim, dando passadas firmes e lentas, como se desdenhasse de minha posição de prisioneira, e mesmo quando estava a poucos centímetros não consegui enxergar seu rosto oculto pela capa, contudo, observando suas roupas e o brasão que tremeluzia no tecido negro, deduzi que ele pertencia a alta posição de alguma côrte. 

Lei do Destino [Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora