*Cirilla*
Eu não atribuo tal feito a noite maravilhosa que tive com Geralt, mas coincidentemente o dia pareceu ter amanhecido mais bonito. Claro, podia estar chovendo a manhã toda e o nosso caminho estar todo enlameado. Confesso que também fazia um pouco de frio e a torta de ameixa que comi no desjejum não estava com um aroma agradável. Nem o sabor. Contudo, eu me mantinha otimista e aparentemente não era a única. Discretamente, pelo canto do olho volta e meia eu observava o bruxo, cujos lábios em linha reta pareciam frequentemente tremer, como se ele estivesse lutando para não sorrir.
Já eu, não podia me dar o mesmo luxo.
Eu cavalgava com um sorriso de orelha a orelha como se o mais belo sol primaveril estivesse brilhando acima de nossas cabeças. Eu ainda me lembrava dos braços dele ao redor do meu corpo, dos toques ásperos de suas mãos calejadas traçando cada centímetro da minha pele com a devoção de um pagão adorando seu mais poderoso deus.
E eu o amava. Ou ao menos, amava o que eu sentia quando estava com ele e amei ter sido dele na noite anterior. Apenas aquilo me bastava.
Plotka trotava preguiçosamente comigo em suas costas enquanto Geralt caminhava a nossa frente e a levava pelas rédeas. Meu corpo úmido pela leve chuva que nos acometia sacolejava ao ritmo da égua. Inalei o cheiro da terra úmida e das árvores que nos cercavam. Eu havia aprendido a amar aquele cheiro. Tinha essência de liberdade.
Abaixei o capuz da minha capa, ergui o rosto em direção as copas das árvores e fechei os olhos ao sentir as gotas de chuva beijarem minha face em uma deliciosa sensação de pertencimento.
Eu estava exatamente onde deveria estar e com quem deveria estar.
Jaskier pareceu notar meu pequeno devaneio, pois pela visão periférica o flagrei com os olhos em mim. Ele sorria com malicia ao mesmo tempo que parecia se questionar como caralhos alguém poderia estar feliz ao encarar horas de viagem debaixo de uma chuva que parecia não querer dar trégua.
- O que foi, Jaskier? - Indaguei com um sorriso de canto e simulando inocência. - Você não tirou os olhos de mim a manhã toda, e ainda assim, não me dirigiu a palavra.
Meu tom de voz carregava diversão e arrisquei um rápido olhar para o bruxo. Ele não se virou para participar da conversa, porém, mesmo que ele não tivesse uma audição sobrenatural, eu sabia que ele estava prestando atenção em nossas palavras pela forma como seus músculos das costas e dos ombros tensionaram debaixo de sua camisa.
- Ora... não é nada, princesa. - O bardo debochou. - Só pensei que ficaríamos mais tempo naquela estalagem. Fiquei surpreso quando fui acordado tão rudemente pelo dono avisando que nossa estadia havia sido revogada sendo que havíamos pago por três dias...
- Eu paguei por três dias - Geralt interveio de modo acusatório.
- Uma gentileza que estou inclinado a retribuir assim que possível. Ainda assim - Jaskier prosseguiu. - Me pergunto o que pode ter acontecido para despertarmos a fúria daquele homem. - Seus olhos se semicerraram e seu olhar se alternava entre mim e o Lobo Branco.
O que ocorreu foi que, na noite anterior, depois que nós dois tivemos aquela conversa sobre o que aconteceu anos atrás antes de eu nascer, acabamos transando mais duas ou três vezes, e por eu já ter acostumado o meu corpo a toda extensão do bruxo, as vezes seguintes foram mais intensas que a primeira. Depois de tudo, nosso quarto se transformou em uma bagunça de penas e lençóis sujos com fluídos corporais, e acredito que o dono não ficou feliz ao ouvir o barulho da cama se partindo.
Geralt, por ser um bruxo, já não era bem visto por onde passava, e depois do ocorrido, fomos convidados a seguir viagem mais cedo do que pretendíamos.
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Lei do Destino [Reta Final]
FanfictionCirilla acordou novamente assustada, com a respiração entrecortada e seus dedos quase rasgando os lençóis. Um nome subia por sua garganta e se perdia em seus lábios, caindo no esquecimento. Há várias noites a princesa sonhava com uma figura mister...