Último Desejo

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Geralt

Eu focava minha atenção no caminho, focado em distinguir os sons da floresta daqueles emitidos por Nevolosos ou Morvudds. Mantínhamos o mesmo ritmo desde que havíamos deixado o vilarejo, cavalgando rapidamente por entre as árvores, evitando as estradas até que tomássemos distância dos soldados de Nilfgaard.

 A noite havia chegado e eu não tinha intenção de fazer com que Plotka reduzisse a velocidade e trotasse pela floresta, contudo, precisei fazê-lo quando senti os braços de Cirilla afrouxarem em minha cintura, desvencilhando-se delas no momento seguinte. Em questão de segundos, puxei as rédeas da égua marrom e saltei da cela bem a tempo de segurar a princesa em meus braços enquanto ela escorregava pelo lombo do animal. Com cuidado, coloquei-a no chão e ergui sua cabeça, encarando os últimos vestígios de consciência emanarem de seus olhos.

 - Princesa! - a chamei, tomando seu rosto entre os dedos e o virando de um lado ao outro enquanto tentava captar alguma reação da garota. - Está me escutando?

 Ciri piscou algumas vezes e assentiu. Tentou mover seus lábios ressecados, no entanto, as palavras eram impronunciáveis. Sua pele estava mais pálida do que de costume, seus olhos eram incapazes de focar em um ponto por mais de alguns segundos sem que tremulassem por debaixo das pálpebras avermelhadas, e sua respiração e batimentos estavam acima dos limites considerados saudáveis para um ser humano. A visão que eu tinha era a de uma garota doente, ofegante e exausta.

 - Você está desidratada. Beba isso. - retirei um cantil de água do suporte de Plotka e o levei aos lábios da garota ajudando-a a beber. 

 Pedi que descansasse enquanto eu procurava por algo que pudéssemos comer já que havíamos cavalgado o dia todo sem uma única refeição, e eu acreditava que seu estômago de monarca não estava acostumado a pular o café da manhã. Deixei-a junto a égua e embrenhei-me no mato empunhando minha espada, e não tardou para que eu encontrasse uma ave em um galho baixo e a apanhasse sem grande esforço.

 Retornei e encontrei a jovem de cabelos prateados no mesmo local em que eu a tinha deixado. Ela não havia mexido nenhum músculo mesmo que aparentasse estar se sentindo um pouco melhor. 

 Comemos em silêncio, evitando até mesmo olhares direcionados um ao outro.

 A princesa havia dito que não queria conversar sobre os acontecimentos do dia anterior, e eu não a culpava por isso, no entanto, estava sendo difícil, na verdade quase impossível, manter meus pensamentos para mim. Eu, que há muito havia me habituado ao isolamento e a evitar as palavras sempre que possível, encontrava-me em uma situação onde externá-las era tudo o que eu mais ansiava por fazer. De repente, dizer o que eu estava sentindo havia se tornado minha prioridade, entretanto, quando fui fazê-lo, a princesa me interrompeu, restando apenas que eu finalizasse nosso breve diálogo com a revelação de que meu arrependimento se dava ao fato de eu ter feito o que fiz quando Ciri não estava sóbria para consentir. O álcool que eu ingeri não havia anuviado minha razão, tornando-me constantemente consciente do quanto eu a desejava, mas o mesmo não se aplicava a ela.

 Nos segundos que discorreram após aquilo, emudeci e pus-me a observa-la cautelosamente, percorrendo minha visão por seus olhos, descendo por seus lábios e em seguida a clavícula, onde me demorei por considerável tempo até que mirei seus seios que subiam e desciam pelo tecido fino da camisa branca. Sua respiração já estava controlada e através de sua pele eu podia ouvir sua pulsação se normalizar.

 - Você havia dito que muitas mulheres são capazes de manipular o caos, mas que nunca viu tamanha demonstração dele antes. - sua voz cortou o silêncio, buscando meus ouvidos no instante em que entreabriu os lábios para pronunciá-las. 

Lei do Destino [Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora