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Jimin♤

Três dias. Foi esse o tempo que permaneci inconsciente.

Durante três longos dias, minha mente vagou para longe do corpo, perdendo-se em uma imensidão escura e clara, de intensa luz e profundas trevas, deixando a todos na expectativa pelo que viria a seguir. Soube por Lalisa que dois médicos haviam sido chamados para tomarem parte em minha enfermidade, sendo o primeiro deles um especialista recém chegado à cidade e que, em minutos de avaliação, decidiu dizer aos meus pais que minha situação era crítica e que não deveriam alimentar muitas esperanças; de fato, o médico da família veio a confirmar posteriormente, eu não poderia ter estado em condições piores. Não foi dito em precisão a doença que me acometera, mas pensando profundamente e olhando para mim mesmo nas horas seguintes ao despertar, concluí que não era preciso que ninguém me dissesse qual era o meu problema. Eu sabia perfeitamente o que ocasionara a perda de consciência, e o que me arrastara para tão perto da morte.

E era atrás dela que eu precisava desesperadamente ir. Quanto mais brevemente, melhor. Mas infelizmente minhas vontades não foram bastante para fazer cumprir o meu desejo. Lisa foi a primeira a se opor, quando demonstrei o menor dos intentos de me levantar, ordenar que me preparassem uma montaria e partir em busca de Seulgi; mandou que eu não me movesse, que me recordasse de quanto tempo havia permanecido imóvel e de que não estava em mínimas condições para partir em uma caçada. Obviamente tentei protestar, alegando que já havia perdido demasiado tempo jogado sobre aquela cama, para desprender um segundo a mais que fosse sem tomar nenhuma atitude, mas fui forçado a reconhecer que seus argumentos eram fortes, e eu não conseguiria demovê-la de suas ideias sem algum trabalho - e apenas para provar que ela estava certa, uma dor de cabeça infernal me atingiu nesse ponto, impedindo que maiores discussões se sucedessem.

- Não posso permitir que cometa suicídio, montando em um cavalo e saindo cidade à fora. - ditou, puxando um jogo de mantas para que me cobrirem até o pescoço. Suspirei, mordendo a parte interna da bochecha para me impedir de contra argumentar. Ela se afastou, batendo uma poeira inexistente da frente do vestido. - Não quando tivemos tanto empenho em mantê-lo vivo, por esses três dias... - acrescentou, e então desprendeu um belo par de segundos a me observar. Por alguma razão me senti incomodado, talvez pela primeira vez em anos, em ser alvo da atenção de uma mulher. Não conseguia me lembrar de muitas ocasiões onde receio me impedira de tomar alguma atitude, uma vez que geralmente todos os meus passos eram extremamente bem calculados e cada fala passava por um cauteloso processo de concepção antes de ser dita, reduzindo as probabilidades de culminar em arrependimento. De maneira geral, eu não costumava me arrepender de algo que havia feito. Mas ultimamente o verbo não me dera um único instante de descanso. As últimas duas semanas haviam reduzido muitas das minhas certezas à pó, e os três dias inconsciente apenas coroaram a sequência de remorsos.

Tinha para mim que não fora um evento repentino, que o processo deveria estar ocorrendo sob os panos, oculto em minha própria pele e nas camadas mais obscuras de meu pensamento, onde eu sequer conseguia me aprofundar - mas que somente então tudo viera a tona. Como uma grande ebulição, tudo aquilo que há muito vinha fervilhando dentro de mim transbordou, derramando-se por meu corpo e para além dele, alterando tudo que eu um dia julgara estar em seu devido lugar e perfeitamente enterrado.

Não era hipócrita em pensar que todos os meus feitos anteriores seriam apagados, apenas porque minha consciência finalmente encontrara sua epifania, mas eu esperava por uma oportunidade de consertar o que estava errado, resolver todas as minhas pendências com meu eu passado e finalmente encontrar a minha redenção. E ela viria na forma humana, na forma da mulher que ocasionara toda aquela mudança. Eu precisava estar diante dela, confessar todos os meus crimes e apresentar-lhe o meu arrependimento, e suplicar o seu perdão; precisava que ela olhasse em meus olhos, que visse a verdade em minhas palavras e acreditasse nelas, e que estivesse disposta a me perdoar... ou ao menos ceder-me uma chance de provar que estava disposto a me transformar, a ser o homem que ela merecia que eu fosse... ser a pessoa que eu deveria ser... Mas para isso eu precisava encontrá-la.

Just one more - Seulmin FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora