22

36 2 5
                                    

Jimin♤

- É de fato uma bela coleção a que tens aqui. - o comentário em tom quase enfadonho deixou os lábios rosados, perdendo-se em meu pensamento antes mesmo que eu pudesse me atrever a tentar interpretá-lo. Limitei minha resposta a um meneio educado de cabeça, a sombra que se estendia sobre nossas cabeças me escapando um pouco, flechas de luz do sol atingindo-me em cheio nos olhos; resmunguei internamente, erguendo o braço livre e cobrindo o rosto com a palma, minha movimentação atraindo seu olhar sobre mim, após tantos momentos.

Não conseguia me recordar de quem fora a ideia de que deveríamos ter aquele passeio, mas agora que ele ocorria, não poderia sentir mais arrependimento. Antes tivesse me enfurnado em meu próprio quarto, ou na biblioteca, ou fosse fazer qualquer coisa que me destinassem nos escritórios; por ironia havia me chego um recado, em intermédio de um moleque, ainda no começo daquela manhã, avisando-me de que minha presença não era necessária no dia em questão, dada a pouquíssima quantidade de papelada a ser resolvida. Péssimo momento para um dia de folga, pensei e não me sobraram desculpas consistentes para escapar à tarefa árdua e entediante de guiar nossa indesejada hóspede por um passeio pela propriedade. De início, haveria de ser algo rápido, uma hora, talvez uma hora e meia - mas a velocidade que ela me impunha pelas passadas, somado ao seu interesse forçado por toda e qualquer mínima pedra que nos cruzava o caminho, ou cruzávamos nós a ela, tomava-me um minuto ou dois; perdera a noção de quanto fazia que estávamos a dar voltas pelo jardim, de quantas moitas e canteiros de flores ela já havia insistido que nos aproximássemos, e quantas perguntas sem nenhum fundamento havia me feito. Continuávamos com aquilo, e definitivamente ia me pôr louco. Como se não fosse o bastante, o calor não parecia dar sinais de que amainaria, o sol imponente cada vez mais alto e soberano no céu limpo de nuvens. 

Voltou-se para mim, não se afastando um único centímetro, um sorriso sereno e fechado em seu rosto de porcelana. Não tinha tido a mínima noção do quanto era pálida, ainda que não fosse em nada algo em que poderia compará-la com as outras mulheres, de minha cidade; estas eram alvas, de uma pele tão lisa e uniforme, que era como se lhes fossem tingidas as faces, ao invés de naturais de sua origem. Algo em suas expressões a fazia parecer um tanto doentia, a palidez não parecendo saudável, como se pensaria que haveria de lhe ser. Questionava-me se seria algo relativo a viagem, e se o cansado a punha de alguma forma enferma, porque, se o era, deveria lhe aconselhar a tomar alguma providência. Ainda que a desprezasse, sabia como soaria terrível ao meu nome e ao de minha família se algo de terrivelmente ruim lhe ocorresse por ocasião da viagem, mesmo que não houvesse um consentimento pleno quanto a sua permanêcia ali.

- Minha mãe sempre foi amante das flores. Não mediu esforços, todos esses anos que está casada com meu pai, para que este jardim se tornasse o mais belo de todo o Distrito. - rebati-lhe, meu tom igualmente desinteressado. Assentiu uma vez, e então desviou as atenções mais uma vez para a grande quantidade de petúnias brancas perfeitamente arranjadas em um terreno circular, enfeitado com pedras brancas e outras flores menores, de um amarelo delicado; deslizou o braço de entre o meu, baixando-se somente o necessário para que uma das mãos tocasse as flores, as pétalas fazendo-lhe uma terna carícia contra a pele. Ergueu-se, não muito depois, tornando a enlaçar nossos braços nessa postura que é característica aos pares que andam juntos, indicando com um balanço suave que poderíamos voltar a andar; guiei-a adiante, nossos passos abafados pelo calçamento de pedra, a barra de seu vestido azul claro mal encontrando o chão. Atrás de nós, a criada com a sombrinha acompanhou-nos, sempre fiel ao seu propósito de não permitir que ficássemos demasiadamente expostos. Queria dizer-lhe que não se incomodasse, de nenhuma maneira. Não diziam, pois, que os demônios eram imunes ao fogo? Não deveria fazer-nos mal, se essa era uma estória verdadeira. Mas, pelo sim ou pelo não, concordei comigo mesmo que ela prosseguisse ali, prometendo-me que não me deixaria acanhar por sua presença, uma vez que estava ali para servir, não para prestar atenção às nossas conversas; ergui levemente o olhar, vasculhando na extensão do jardim, não encontrando outras almas vivas que não os três, silenciosos. Aproximamos-nos agora de um canteiro de rosas, as flores crescendo viçosas em sua rama alta, chegando quase a altura de meu quadril; soltou mais uma vez meu braço, avançando lentamente para a roseira imensa, retirando uma das luvas a fim de evitar que o tecido delicado se rasgasse com os espinhos. - Deverias mantê-las postas, se não queres correr o risco de perfurar aos dedos. - comentei, sem estar de fato preocupado. Seus ombros se ergueram e baixaram, o tecido de suas roupas acompanhando o movimento grosseiro, com perfeição.

Just one more - Seulmin FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora