Jimin♤
A dor nas costas me fez mudar a posição em que me encontrava a pelo menos uma hora.
Resmunguei comigo mesmo, insatisfeito que precisasse fazer aquela alteração, mas era me mexer ou ter de procurar um médico no dia seguinte. A convenção me fez escolher pela primeira opção, o que no entanto não evitou que o quarto e os objetos girassem em minha visão, deslocando-se de volta para seus lugares habituais enquanto eu retornava à posição sentada que ocupava antes de decidir que de cabeça para baixo a realidade poderia parecer fodidamente menos deprimente. Bem, não o fez. E agora eu tinha dor nas costas e de cabeça, e o gigantesco empecilho que aquela história se configurara para mim, nos dois segundos que separaram o bater da porta e a primeira leva de objetos quebrados; duvidava que minha mãe pudesse não ter apreço por alguma das porcelanas decorativas, mas a arte milenar chinesa não arranhava sequer a borda daquilo que eu sempre considerara importante, e que me parecia escorrer pelos dedos como ar.
Liberdade.
Seria de se supor que a maneira mais fácil de encarcerar a um homem seria acusá-lo de um crime qualquer, levá-lo a tribunal e o sentenciar a anos e anos de cadeia. Como advogado, eu aprendera que sim. Não seria necessário nem mesmo um crime verídico, caso o acusador possuísse recursos suficientes para financiar o silêncio de algumas testemunhas e um juiz sem muita experiência, quem dirá dinheiro; mais do que isso, mais do que prender, a condenação seria para os outros uma lição, um pequeno lembrete para não cometerem erros e se manterem longe de poderosos. Mas, se o objetivo fosse fazer sofrer a uma pessoa, da maneira mais cruel e muda possível, de modo que outros não pudessem identificar uma anormalidade em seu comportamento e, portanto, também se tornassem suscetíveis a padecer do mesmo mal, então eu conseguia pensar em algo que seria pior infinitamente mais. E esse algo era o que a igreja e a sociedade chamavam cordialmente de casamento. Diferentemente da ideia de muitos, eu jamais vira nada de romântico ou meramente satisfatório ali; o casamento tão somente me era mais um negócio, uma maneira de se obter mais do que já se possuía - ou de se ter algo, quando o nada era a soma total dos bens de uma pessoa. Raras vezes era uma convenção, uma reunião de aspectos benéficos, dinheiro e a satisfação física que parece nos ser uma dádiva enquanto homens, loucos demais, primitivos demais para não nos deixarmos aproveitar a oportunidade clara. Não mais que isso. Durante muito tempo... apenas isso.
E a certeza de que dificilmente conseguiria encontrar a ambos me manteve afastado da ideia de me casar, enquanto durou a minha adolescência, consolidando-se quando me tornei adulto. Simplesmente não conseguia me imaginar em um tipo tão restritivo de relação, tendo de ver e conviver com a mesma pessoa por anos, estreitar laços que eu sequer gostaria de criar, dividir a vida e meus pensamentos com alguém que não os compreenderia... e ter de cumprir com meus deveres de chefe do lar. Nunca havia sido da classe que sonha em constituir família, a partir pela noção do quão conturbada era a minha - minha mãe, uma megera, meu pai, um pobre infeliz, embora tentasse disfarçar em minha frente. E eu? Um completo filho da puta. Cínico. Frio. Calculista. Manipulador. Não. Não havia nada que eu pudesse transmitir a uma criatura, não havia nada que pudesse se aproveitar de mim para uma criança. Não havia nada em mim que pudesse me qualificar como pai.
E, é claro, ainda havia a minha aversão ao compromisso. Despontada em minha natureza juntamente com os hormônios, criada como uma parte de meu corpo da qual dependiam as operações de meu cérebro, os batimentos de meu coração; imaginar-me atado de alguma forma para o resto de minha miserável existência era o bastante para me causar náuseas. Não obstante, haviam pequenas obrigações as quais nutria apreço por manter-me ligado: meus empregos, meus estudos como advogado... E minha palavra.
Um bolo formou-se em minha garganta, ao recordar-me que naquele exato instante faltava com um dos poucos compromissos que me interessavam levar à sério.
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Just one more - Seulmin Fanfic
FanfictionJovem. Bonito. Ele deveria ter sido só mais um cliente. Só mais um entre os tantos que passam diariamente por este lugar. Um dos tantos homens entediados com suas famílias que vêm até aqui em busca de diversão. Ele deveria ser só mais uma bolsa chei...