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Seulgi ♡

Talvez tenham sido os meus três clientes,os três igualmente apressados,ou talvez tenha sido só ilusão da minha mente cansada e louca por uma pausa,mas a noite passou relativamente rápido. Quando eu digo "relativamente",eu quero dizer que foi apenas para mim,mesmo. Enquanto subia as escadas,rumo ao quarto compartilhado,e olhava para baixo numa despedida silenciosa e agradecida àquele salão,eu podia ver outras meninas,andando de um lado para o outro,desamassando as saias dos vestidos ou amarrando de qualquer jeito os espartilhos,vasculhando as mesas com o olhar,em busca de uma bolsa de dinheiro fácil;suspirei ( Acho que pela milésima vez só naquela noite ),voltando a minha atenção para a escada. Não era um caminho muito longo até o quarto,tanto é que demorei menos de dois minutos para chegar lá;passei pelo quarto de banho,e,ao olhar para a porta fechada e imaginar uma tina de água quentinha me esperando,senti vontade de tomar um banho. Meu cansaço,porém,me impediu. Resolvi deixar o banho para o dia seguinte,quando acordasse.
Entrei no quarto,após vencer a resistência da porta de madeira pesada,que vivia emperrando. Alguma das meninas devia ter se esquecido desse detalhe,e a fechado até o fim... caminhei até a borda da minha cama,sentando-me ali,enquanto trabalhava o mais agilmente que podia para tirar o espartilho e,depois o vestido com seus outros acompanhantes,por fim,tirei os sapatos;ajeitei tudo da maneira mais prática,guardando as peças no baú de madeira aos pés da cama. Era um objeto simples,de tamanho médio,mas que servia muito bem para guardar os meus poucos pertences: três pares de sapatos,alguns vestidos (a maioria vermelhos,embora houvessem,também,muitos em tons claros),dois conjuntos de anáguas e espartilhos,um ou dois livros ( que raramente lia,por falta de tempo ) e umas poucas jóias verdadeiramente minhas. O baú era de segunda mão,assim como quase tudo naquele quarto. As camas,de solteito,para ocupar menos espaço,eram as mesmas de dois anos atrás,quando eu chegara aquele lugar,e eu imaginava que sua compra fosse datada de muito tempo antes;os jogos de cama,também;a penteadeira e os espelhos,ambos coletivos,já estavam lascados nos cantos;as jóias compartilhadas,assim como os potes onde se guardavam utensílios como pentes e adornos para o cabelo e afins,estavam levemente amarelados,em alguns pontos.
Mesmo com todos os seus defeitos,o dormitorio compartilhado do senhor Oh era mil vezes melhor do que o relento. Ou as pedras sobre as quais miseráveis da cidade dormiam. Mas isso não quer dizer que fosse o lugar com que alguém sonhasse em viver algum dia. De maneira nehuma. Às vezes,eu ouvia conversas,por acidente,de meninas recém admitidas na casa,onde elas confessavam,umas as outras,seus desejos de encontrar marido e constituir famlia;por vezes,alguma das outras mais velhas lhes riam,zombando de sua tolice ao imaginar que conseguiriam marido ali,naquele lugar,trabalhando naquela profissão ( considerávamos aquilo uma profissão... embora eu não tivesse certeza quanto a essa definição ). Particularmente,eu nunca havia pensado em " constituir família "... ao menos,não com esse termo em mente. Não que eu conseguisse me lembrar.
Como se dizia entre as meninas,não era " algo para mim ". E,sinceramente,não era mesmo. Que tipo de homem olharia para uma garota da vida,com algo além de interesse sexual,pago,ainda por cima?
Eu não conseguia pensar em um só,que fosse capaz disso. Aliás,para mim, o simples fato de os homens buscarem "diversão" fora de casa,sugeria a incapacidade plena de se manterem num casamento. Mas,oras,se era assim, então porque se davam ao trabalho de se casarem? Era uma das perguntas que vagavam,sem resposta,pela minha mente.
Livre de todo o excesso de roupas,levei uma das mãos ao cabelo,juntando-o rapidamente em uma trança,para evitar que baguncasse tanto durante o meu sono,prendendo-a com uma presilha furtada do amontoado de coisas de Irene,jogadas sobre sua cama sem o menor zelo;das que eram mais próximas de mim,na casa,Irene era a mais desorganizada. Em alguns dias,a desordem de seus pertences beirava à uma ameaça contra a sanidade pública. Eu,por exemplo,ficava muito tentada a ir até sua cama, e organizar,mesmo que só um pouquinho,a bagunça que ela deixava,a cada dia que se levantava para fechar o caixa do bar,mas me continha. Sabia que ela ficava uma fera a cada vez que alguém deixava,mesmo que minimamente claro,a intenção de por as mãos em suas coisas... ou suas tralhas. Ainda assim,tinha certeza de que não perceberia o sumiço de uma presilha. Afinal,ela nunca havia se dado conta do desaparecimento de um estojo de maquiagem, há algum tempo atrás.
Deitei-me na cama,de lado,como costumava dormir,puxando o lençol fino até quase o pescoço,apesar do calor que fazia;tinha essa mania de ficar coberta enquanto dormia. Talvez por ficar muito despida quando acordada.
Apesar de todo o cansaço,não consegui dormir imediatamente,como eu previa que fosse fazer. Por alguns minutos,fiquei me remexendo na cama,como que em busca de uma posição mais confortável... mas eu sabia que era pela falta de sono. O que não fazia sentido nenhum.
Finalmente,depois de algum tempo nessa batalha interna comigo mesma,joguei os lençóis para o lado,saltando para fora da cama;caminhei até a penteadeira,onde era sempre mantida uma jarra de água e um par de copos. Servi-me de uma boa quantidade,a engolindo rapidamente,meio surpresa com toda essa sede repentina;ao fim,devolvi o copo ao seu lugar,de ponta para baixo.

Just one more - Seulmin FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora