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Aviso:
Este capítulo contém cenas explícitas de cárcere privado, abuso físico, ameaça e intimidação. Tenha cuidado durante a leitura.

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Irene♧

O som do cascalho sendo esmagado conforme as rodas da carruagem giravam era uma das poucas coisas que quebravam o silêncio. Isso, somado aos compassados solavancos típicos de uma estrada antiga e o estalar dos cascos dos cavalos, era quase o suficiente para me fazer dormir. E mesmo com todos esses estímulos e a perspectiva de um longo caminho para ser seguido manhã afora, não consegui pregar os olhos durante todo o restante da noite.

Antes de tudo, caberia ressalva dizer que não foi por falta de vontade. De longe, eu gostaria de me render ao sono, nem que fosse para que aquelas torturantes horas de viagem passassem mais rápido. Minha vontade no entanto não pôde ser maior que o nervosismo que me preenchia - e que me impedia de ceder à inconsciência. A cada vez que minhas pálpebras se fechavam, meus ouvidos eram preenchidos com sussurros preocupados sobre o destino que nos aguardava, com toda aquela situação. Com os pensamentos embaralhados, questionamentos espalhados por toda parte e me assombrando mesmo ao menor dos espaços cedidos, simplesmente não pude dormir.

Apesar disso permaneci o mais imóvel que pude, deitada em minha cama improvisada sobre os brancos do coche, conservando meu silêncio e fazendo tudo o que podia para não ter a minha insônia notada por Taehyung. De complicações para aquela madrugada, já bastavam o caminho mal iluminado e de difícil acesso e as longas horas que o mesmo enfrentaria guiando os animais em direção ao nosso destino, e ele definitivamente não precisava de mais preocupações, quanto mais de uma tão fútil como aquela. A oferta de termos a companhia de um cocheiro fora recusada veementemente, de maneira tão rápida quanto a proposta feita pelos Kim e sob o argumento irrefutável do único filho de que seria arriscado que mais alguém, mesmo sendo uma pessoa de confiança como afirmara a matriarca, soubesse de nossos paradeiro com precisão. Preferíamos não nos arriscar mais do que já o estávamos fazendo, colocando uma terceira pessoa diretamente envolvida em nosso percurso noturno e furtivo; assim, caíra sobre o colo de Taehyung a responsabilidade de fazer tal tarefa, fato que não o tinha perturbado um segundo sequer desde o início de todo o plano, mas que agora começava a preocupar-me.

Do lado de dentro, mesmo estando envolta em várias mantas pesadas e vestida em trajes quentes, sentia o frio congelante que soprava dos bosques ao nosso redor. A temperatura parecia decair cada vez mais, conforme avançávamos em nosso compasso regular - nem muito veloz e tampouco devagar -, e me causava arrepios a ideia de que o mesmo acabasse sendo afetado diretamente com um resfriado ou mesmo uma gripe. Pelo que eu me recordava, também não havia feito nenhuma refeição em minha presença, e se bem o conhecia não haveria de tê-lo feito antes de deixar a casa dos pais, estando portanto há mais de quatro horas sem qualquer traço de comida e muito pouca água. Por diversas vezes em um curto intervalo de tempo, questionei-me se não devia pedir que fizéssemos uma parada a fim de que o mesmo pudesse se aquecer e incluso alimentar-se, mas sempre chegava a conclusão de que o mais provável era que me recusasse, alegando que não poderíamos perder um único segundo.

Quanto a isso infelizmente não poderia erguer uma palavra de discordância. Havia sido bem claro ao especificar que uma vez que iniciássemos o trajeto, faríamos pausas apenas em casos de extrema necessidade e apenas por poucos períodos, até que nos distanciássemos o suficiente da cidade. Não tinha me dito com todas as letras que distância era essa tida como "suficiente", mas eu tinha imaginado que não passaria de um quarto ou dois de todo o percurso; contudo, já faziam horas que tínhamos deixado o local, e não haviam sequer previsões de quando e se haveria um descanso para o mesmo. Era bem verdade que tínhamos nos demorado ainda uma hora fora do previsto, justamente para atender a esta situação urgente, explicada a mim por resumo, em nossos metros finais no atalho que segundo Taehyung somente ele e Jimin sabiam da existência.

Just one more - Seulmin FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora