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Aviso:
Este capítulo contém cenas explícitas de violência e agressão. Tenha cuidado durante a leitura.
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Seulgi♡

Que o tempo gosta de fazer brincadeiras conosco, eu já não tinha nenhuma dúvida. Naqueles últimos três dias eu havia embarcado num carrossel tamanho de sensações, maioria esmagadora delas sendo mais do que absurdamente ruins, para ter dúvidas que minha mente era bem capaz de me pregar peças - e esse raciocínio não se limitava aos traçados da consciência. O tempo, quando bem queria, ia e vinha, parecendo querer castigar-me com sua mão de ferro ao prolongar indeterminadamente momentos que não deveriam durar mais do que alguns poucos segundos, convertendo horas de lembranças prazerosas em insignificantes minutos, que se consumiam muito mais rapidamente do que o ar que entrava e saia de meus pulmões.

Também eles pareciam gostar de jogar com a minha sanidade. Contraindo-se dolorosamente, abriam caminho para que largas manchas negras surgissem em minha visão, o escuro que eu outrora associava somente à noite abarcando a luz do dia, abraçando-me como um velho conhecido, tecendo um convite irresistível à inconsciência. E talvez eu estivesse de alguma maneira verdadeiramente inconsciente, porque muito depois que todos esses eventos se passaram, quando questionaram-me a respeito, eu não soube responder com detalhes.

A última coisa de que eu me lembraria, antes que todo o mundo desmoronasse era do som... o som cada vez mais distinto, na direção da casa. Um cavalo. Alguém cavalgando diretamente para a casa. Nos primeiros instantes meus pensamentos estavam tão confusos que não consegui fazer uma distinção mais precisa daquilo que pertencia à realidade, e os elementos que momentos antes estavam presentes em meu sono... não me lembrava se havia sonhado, mas algo na maneira com que aquele som se propagava fazia-me pensar em uma ilusão. Cada vez mais perto... mas em simultâneo, estranhamente distante. Como se não pudesse me alcançar... como se eu nunca pudesse alcançá-lo...

A confusão me deixou estática, por um período que foi suficiente até que o recém chegado se aproximasse ainda mais. Um momento de silêncio, quebrado apenas pela minha respiração e batimentos, tão altos em meus ouvidos que pareciam gritar... e então sua voz preencheu o vazio, esse vazio que se instalara em meu peito e que vinha me consumindo, pouco a pouco e tão dolorosamente. Eu não precisaria escutar mais para ter certeza de sua identidade. Eu o reconheceria em qualquer lugar. Eu sabia que era ele... e isso me trouxe duas avalanches distintas de emoções. A primeira soterrou-me de uma incontida alegria. Ele estava ali. Não era apenas uma brincadeira de minha mente, fruto de minha imaginação ou das noites insones... ele estava realmente ali. O êxtase da constatação varreu tudo o que havia dentro de mim, provocando uma cadeia de reações que culminou com lágrimas... as primeiras lágrimas que se formaram em meus olhos eram de alívio porque ele não me abandonara, de alegria, porque meu pesadelo não duraria mais...

Mas antes que essas lágrimas caíssem, novas se sobrepuseram, e eu soube imediatamente que elas eram diferentes. Era tristeza, líquida e pura tristeza. Porque ele não poderia estar ali por mim... não quando eu não significava nada para ele... não quando eu não ocupava sequer o posto mais baixo em sua vida... quando ele não sentia absolutamente nada por mim. Ele não estava ali por mim. Ele estava ali pela Rose. Pela farsa que conhecera, pela imagem da mulher que eu vestira e usara como se fosse um dos vestidos vermelhos que ele tanto adorava. Ele estava ali, em busca de alguém que eu fingia ser... e não atrás de quem eu era verdadeiramente. Porque ele sequer me conhecia. Como eu não o conhecia. Eu não sabia quem ele era, e ele era totalmente ignorante a respeito de mim.

Que diferença fazia?, perguntava-me essa parte de minha mente. A mais afoita, a mais entregue e a menos racional. Toda, era minha única resposta.

Just one more - Seulmin FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora