O Cerco do Norte - Parte 1

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Por algum momento o silêncio era tão grande e pesado que parecia pesar mais ainda sobre Kira que esperava Iroh chegar até ela pelo outro lado do tatame. Os olhos dos soldados não sabiam se olhavam para ela ou para Jin que estava estirado no chão. Pela sua visão periférica não conseguia ver se ele respirava, e naquele momento, ela nem sabia se queria saber. Estava exausta.

- Venha, minha cara. Me ajude, por gentileza - disse Iroh para o soldado ao seu lado - Vamos para dentro.

O caminho até seu quarto parecia longo demais. O soldado a segurava em sua cintura com os braços firmes, prontos para segurá-la se fosse preciso. Pra ela não havia dúvidas de que era Zuko ao seu lado.

- Kira... - disse ele a fazendo se sentar na cama.

Ele então agachou a sua frente e tirou o capacete. Zuko a olhava de forma carinhosa, mas preocupada. Ela não estava ferida, mas ele notou algumas manchas que com certeza virariam hematomas quando seu sangue esfriasse.

- Estou bem, Zuko. Estou apenas cansada. - respondeu ela a pergunta que passava na mente dele.

Ele queria dizer que quis entrar e defendê-la várias vezes durante a luta por medo de perdê-la, mas não conseguiu juntar as palavras. Seu coração que ficou apertado durante todo o duelo se acalmou ao vê-la dando um meio sorriso para despreocupa-lo.

- Você foi incrível! - disse ele.

- Realmente... Foi um agni kai de alto nível. Poderia falar e acrescentar muitas coisas, mas temo que temos um assunto mais urgente. - Kira levantou seus olhos para o tio - Zhao só voltará a atacar ao amanhecer. Como você fará para entrar na tribo da água sem ser notado?

- Não se preocupe, tio. Já tenho tudo planejado. Sairei pelo mar enquanto ainda estiver escuro.

- Melhor se apressar, então. Você já deve ter perdido o tempo do duelo.

- Preciso apenas trocar de roupa e pegar algumas coisas no dormitório. Você ficará descansando? - perguntou Zuko ainda preocupado.

- Terei a noite toda para isso. Irei até lá com vocês. - respondeu ela sorrindo.

Zuko saiu do quarto rapidamente e depois de um tempo Kira seguiu com Iroh para a parte mais inferior do navio. Era uma pequena sala com uma parede a menos onde estavam penduradas uma porção de cordas que fariam os dois pequenos botes que descansavam no canto direito da sala descer até o mar. O ar que entrava estava gélido e Kira, preocupada, já ia perguntar a Iroh se Zuko tinha roupas para a ocasião quando ele entrou silenciosamente na sala. Ele vestia um traje todo branco e grosso por cima do uniforme de soldado que já estava usando e tinha uma longa corda enrolada de um ombro até a cintura.

Concentrado, ele começou a arrumar o pequeno bote. Iroh disse uma de suas frases de sabedoria, que Kira não entendeu, mas Zuko não estava muito disposto a ouvir.

- Me desculpe... Eu só o incomodo assim porque desde que perdi meu filho...

- Tio, sabe que não precisa dizer isso. - adiantou Zuko ainda de costas para eles.

- Eu o considero como meu.

Emocionado, Zuko se virou e encontrou os olhos amorosos de seu tio. Kira sentiu como se não tivesse que estar ali, aquele era um momento vulnerável dos dois.

- Eu sei, tio. Nos veremos em breve. - respondeu Zuko e sem jeito fez uma saudação de respeito, mas tio Iroh ainda emotivo o abraçou carinhosamente

- Você tem tudo o que precisa? - perguntou Kira.

- Sim. Se certifique de sair do navio com suas coisas também. - lembrou Zuko.

- Com certeza não voltaria para cá.

Livro 1 - Questão de HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora