Capítulo 26 - Fada Madrinha

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As semanas seguintes entraram numa relativa paz. Não eram bem normais com a presença de Alice em todos os lugares, mas pelo menos ela não havia feito nada pra se aproximar. Poncho pareceu ficar bem assim.

Eu temia porque uma hora ele teria de enfrentá-la e é ai que eu posso sair perdendo. Porém eu nunca fui egoísta e não começaria justamente agora. Meu amigo merecia a chance de... limpar o orgulho ferido.

Imaginá-lo com Alice não me deixava nem um pouco feliz. No entanto, eu sentia que Poncho só se desligaria completamente dela quando terminasse de vez com esse namoro mal resolvido.

Dois dias após eu tirar o gesso, eu sentia que a paz estava prestes a acabar. Hoje aconteceria a festa que marca o início das férias de verão. Era um evento realizado a céu aberto na Universidade e que movimentava o campus inteiro. Isso significava bebida, música alta, muita gente se pegando e o que era pior: Poncho e Alice no mesmo lugar.

Tudo bem que nas semanas anteriores a vimos várias vezes, mas hoje seria diferente. Uma coisa é encontrar a pessoa pelos corredores da faculdade, outra bem diferente é isso acontecer em uma festa onde a pegação rola solta. Alice era descarada demais para ficar no canto dela.

- Santo Cristo! – Maite se encostou na porta do quarto parecendo um tanto assustada.

- O que foi? – Perguntei sentada a frente do espelho. Estava tentando tomar coragem pra me maquiar pra festa.

- O o o Christian... – Gaguejou. – Me-me-me convi-dou pro baile.

- Sério? – Arregalei os olhos porque essa era uma situação um tanto inusitada.

- Sim. - Ela respirou fundo como se buscasse se controlar. Abriu os olhos e então completou mais calma: - Na verdade ele me intimou. Damian estava me convidando pra ir. Eu ia negar, mas ele disse que precisava se redimir e então Christian chegou e ouviu.

Damian não estava mais morando com a gente. Havia se mudado para outra republica assim que recebeu autorização da reitoria. Com isso, os encontros desagradáveis entre ele e Christian terminaram... ao menos até aquele dia.  

- E o que aconteceu? – Indaguei curiosa.

- Christian nem me deixou pensar. Me deu meia hora pra me arrumar ou ele jurou que vem me buscar do jeito que eu estiver. – Arregalou os olhos como se ainda não acreditasse.

E era mesmo inacreditável. Chris exalava ódio quando estava perto de Mai e agora a chamava para a festa. É claro que podia ser apenas um impulso porque estava com raiva de Damian, mas algo me dizia que não era apenas isso. Ele sempre demonstrava reações exageradas com qualquer coisa que se relacionasse a ela. É como diz o ditado: onde há fumaça, há fogo.

- E o que você vai fazer?

- Acho que não tenho muita escolha. – Fez uma careta e emendou: - Deixa que eu faço isso. – Tirou o lápis e o rimel das minhas mãos.

- Não, você vai se atrasar. Já pensou se ele cumpre a ameaça.

Maite engoliu em seco e então respondeu:

- Eu preciso me acalmar. – Deu de ombros. – Sou rápida pra me arrumar. E também duvido que ele vá cumprir a ameaça. Agora fiquei quieta e me deixe terminar.

Maite tinha literalmente mãos de fada. Tinha um toque especial e quando se tratava de roupas e maquiagem, parecia transformar tudo em ouro. Fechei os olhos, tranquila, sabendo que ela era capaz de transformar qualquer garota em uma princesa.

- Pronto já pode se olhar. – Ela disse depois de algum tempo.

Abri os olhos e não acreditava no que via. Aquela era mesmo eu? Sempre soube que o tom de azul combinava comigo, mas não pensei que fosse tanto! Meus olhos pareciam saltar no rosto, parecendo um tanto sexy e perigosos. Ao mesmo tempo, tinham um que de mistério.

- Mai...

- Acho que não importa muito a roupa que você use, porque ninguém vai prestar atenção nela com esse rosto, mas acho que aquela saia jeans que a Dulce comprou e se arrependeu com aquela blusinha frente única que eu te dei de aniversário, cairiam muito bem. – Ela disse com um sorriso vendo meu olhar abismado.

- Alguém já te disse que você é um anjo? – Levantei e fui abraçá-la.

Maite parecia uma mãe, ou uma irmã mais velha, algo do tipo. Cuidava de todos e as vezes até sem se importar com ela mesma. Eu a admirava, amava muito e sabia que ela e apesar do jeito louco de Dulce, seriam amizades que eu levaria pra toda a minha vida.

- Humm, não acho que Christian pense a mesma coisa. – Sorriu e então me soltou. – Agora vai. Antes de me meter nessa confusão toda, Poncho disse que ia te esperar na frente do Ay que rico!

 

 

Mai pegou a toalha, saiu do quarto e entrou no banheiro. Sai do estado de inércia e tratei de seguir a sugestão dela. A blusinha de frente única azul e a saia jeans combinavam perfeitamente. Agradeci mentalmente minha amiga mais uma vez e sai do quarto.

No andar de baixo Christian andava de um lado para o outro parecendo um leão enjaulado.

- Se continuar assim vai abrir um buraco no chão. – Provoquei e ele me deu uma olhada raivosa.

- E o que você tem a ver com isso?

Nome completo: Christian Irônico Tirano Chávez, o cúmulo do mal humor reunido em uma única pessoa. Apesar disso, ele não deixava de me parecer engraçado. Ele se deixava levar muito fácil quando se tratava de Mai. Aliás ainda não descobri o que acontecia entre eles, mas estava na cara que tinha muito mais do que a simples questão de afinidade.

- Ela acabou de me ajudar, portanto tenha paciência e espere mais um pouco, sim?

- Annie... eu gosto muito de você, mas tem vezes que você se torna insuportável.

- A recíproca é verdadeira meu caro. – Soltei uma risadinha e fui em direção a porta. Christian bufou sentando e eu ri mais ainda enquanto saia. Apesar de toda pressão por conta de Alice, eu me sentia bem. Não sei se por conta da maquiagem ou da roupa, ou apenas por ver que a relação de Mai com Christian era bem mais complicada que minha amizade com Poncho. Não importa o motivo eu me sentia bem, disposta a lutar com unhas e garras, enfrentar o que tivesse que vir.

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