A música clássica que saia dos violinos me fazia pensar que estava vivendo em plena Idade Média. Aliás, as pessoas daquele baile também pareciam estar encarando da mesma forma. Todos pareciam dançar, cochichar e até mesmo lançar olhares misteriosos por trás das máscaras como se estivéssemos vivendo no período medieval.
O ambiente também ajudava e muito. Além da orquestra de violinos, o salão repleto de flores era iluminado por uma centena de velas que deixavam o ambiente mais escuro e ao mesmo tempo estranhamente aconchegante.
Meus olhos varreram o salão em busca de uma única pessoa. É claro que eu estava falando de Alfonso, o meu Poncho. Fazia meia hora que Dulce havia me abandonado no meio do salão e sumido do mapa e agora eu estava ali, procurando me encaixar em meio a toda aquela loucura histórica.
“Se ao menos Maite tivesse vindo...”
Só me restava lamentar mesmo. Infelizmente, por mais que tentássemos convencê-la, Mai foi firme e forte e se negou obstinadamente a vir ao baile. Eu queria tanto ela aqui... sempre me deixava calma quando eu estava prestes a ter um colapso nervoso, o que era o caso no momento.
O irônico da situação é que Mai era quem fazia os vestidos de festa maravilhosos que eu e Dulce estávamos vestindo. O meu era roxo frente única com uma abertura bem generosa atrás. O vestido de Dulce era um vinho intenso com três camadas bem finas de seda o que dava leveza ao modelo. Maite tinha um talento e tanto para costura. Não entendia porque ela não cursava moda ao invés de jornalismo. Além do mais, não éramos as únicas a usar os seus modelos. Algumas meninas do campus costumavam contratá-la quando tinha essas festas, o que sempre rendia um dinheiro a mais. Isso me deixava feliz porque sabia o quanto ela precisava.
Mas no momento, o vestido era o de menos. Queria Mai ali pra me acalmar, pra dizer que tudo ia ficar bem, mesmo parecendo impossível. Ela era o meu porto seguro, meu ponto de equilíbrio naquela casa que parecia de loucos.
“Se ao menos aquela ruiva encrenqueira não tivesse me deixado sozinha...”
Olhei para o relógio instalado no centro do salão e agora já eram 45 minutos que Dulce havia me largado ali sozinha. Havia murmurado qualquer coisa sobre “vingança”, “loiro de caixinha”, e “um pequeno estrago”. Sinceramente não entendi, mas a medida que o tempo passava e ela não aparecia só ficava ainda mais nervosa. Meu estomago só sabia dar voltas e voltas.
Um garçom se aproximava com taças de champanhe. Eu não era muito adepta das bebidas, pois não precisava de muito álcool para me sentir bêbada. Mas sabe, é como dizem... situações desesperadas, exigem medidas desesperadas. Por isso não pensei duas vezes e agarrei uma taça...
- Uma taça para a mais bela. – Uma voz sensual sussurrou atrás de mim.
Meus dedos ficaram gelados no instante que aquela mão que estava sempre nos meus sonhos eróticos cobriu a minha. Minha respiração ficou presa, mas o ar não se fazia necessário quando uma onda de pânico me assolava. Lentamente me virei ficando frente a frente com aquele que fazia meu coração querer disparar para fora do peito.
Poncho me olhava com um sorriso malicioso no rosto. Foi ai que eu notei que ele não tinha percebido quem eu era. Eu estava diante não de Poncho, o meu melhor amigo e sim de Alfonso, o predador, enquanto eu não era Annie, a irmãzinha e sim, a Desconhecida, o pedaço de carne que ele queria. Naquele momento não sabia se agradecia ou não à Dulce por me deixar sozinha na festa e também pela ideia de cachear os cabelos para não ser reconhecida tão facilmente.
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Despretensiosa
Romance"Não pretendo que você retribua o meu amor. Muito menos espero que me olhe de maneira diferente somente porque agora sabe o que eu sinto. Minha única pretensão é que você encontre o amor ainda que não seja comigo, pois quando se ama, não há nada mai...