Despretensiosa

Capítulo 14 - O Acidente

Não dormi quase nada naquela noite. Na verdade não dormi, não comi, não estudei, não fiz nada direito nos dois dias que se seguiram. Sentia uma angustia muito grande por Poncho e saber que ele estava com raiva de mim não ajudava nem um pouco.

Era pouco tempo, mas o suficiente para me afogar num mar de tristeza. Se ele estava em algum lugar e eu chegava, ele tratava de sair. Se tinha que pedir alguma coisa pra mim, o fazia através de Mai ou então pedia pra mim daquele jeito super grosso.

Isso me deixava a beira da loucura. Eu sentia que podia conviver com qualquer coisa, desde que ele estivesse ao meu lado... Mas com ele me ignorando... Eu podia sentir a sua raiva e isso estava se tornando insustentável.

Minha única saída era essa que está vendo agora, escrever nesse diário tentando conter um pouco a minha frustração por uma raiva que ele não tinha direito de sentir... Estou cansada, ainda assim, sei que enquanto ele não voltar a ser o mesmo de antes comigo, eu não vou sossegar. Preciso disso, assim como eu preciso de comida, de ar... mas que inferno!

Se ele estava com raiva, eu também! Ele tinha sido injusto comigo! Eu não tinha feito nada pra merecer isso. Minha vontade era de chegar nele e gritar: EI SEU IDIOTA NÃO ESTOU NEM AI PRA O QUE VOCÊ PENSA!

Infelizmente eu me importava e muito com o que ele pensava. Mais do que eu queria na verdade...

- ANNIE!

Fechei meu diário com força. O grito de Christian me deixou assustada e com medo de que alguém visse o que eu estava escrevendo. Isso fez com que a raiva voltasse com força total, afinal eu odiava tomar sustos.

- Inferno! Precisa gritar assim? – Me levantei da cadeira com raiva agarrando meu diário com as duas mãos.

- Eu hein? Que raios aconteceu com você garota? – Essa era a forma super educada de Chris se estava tudo bem.

- Eu só estou cansada. Não se tem um minuto paz nessa casa! – Chris arregalou os olhos e Christopher que estava na sala fez o mesmo.

- Ei ei ei, vai com calma!  - Levantou as mãos em gesto de rendição. - Se acordou com problemas eu não tenho nada a ver com isso!

- Vê se me erra Christian! – Eu detestava entrar numa briga. Por isso mesmo virei as costas e sai da cozinha, mas não convencido ele veio atrás.

- Meça as suas palavras Anahí. – Ele puxou o meu braço.

- Ei cara, solta ela! – Foi a vez de Christopher interferir.

- O que aconteceu? – Dulce apareceu aos pés da escada. Revirei os olhos, aquilo estava parecendo um circo agora só faltava Mai fazer uma entrada teatral e Poncho cair do céu.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Um barulho forte, um grito e... um grito? Eu conhecia aquela voz!

- Mai! – Christian e eu gritamos saindo desembestados pela porta.

A cena era um tanto chocante. De um lado, Maite segurava a perna que sangrava, próximo a ela, uma moto caída havia derrubado a caixa de correio e do outro, um rapaz de jaqueta jeans tentando se levantar parecendo um tanto atordoado.

Eu corri em direção a Mai que chorava e mordia os lábios tentando conter a dor.

- Mai! Por Deus, o que aconteceu? – Puxei seu rosto limpando as lágrimas. -  Você está bem? – Me virei pra trás e Chris nos fitava branco, então mudou a direção do olhar para o rapaz que se levantava e sem pensar duas vezes partiu pra cima dele.

- SEU DESGRAÇADO, NÃO VIU O QUE FEZ? – Ele praticamente gritou fora de controle sacudindo o rapaz pela jaqueta de couro.

- Calma Christian. – Christopher tentou separá-los sem sucesso.

- Me solta, eu vou matar esse desgraçado! – Rugiu empurrando Christopher longe.

Olhei pra porta e Dulce olhava tudo sem saber pra onde corria.

- Liga pra ambulância. AGORA, VAI! – Mandei e ela assentiu saindo correndo para dentro de casa novamente.

- Calma Mai, o socorro já vem tá? – Beijei sua testa e acariciei os seus cabelos. Era a única coisa que podia fazer por enquanto.