Um barulhinho irritante incomodava meu sono. A contragosto, abri os olhos e fitei o teto branco um tanto diferente do meio cheio de estrelinhas na república.
Tentei mover o braço pra sentar na cama, mas não consegui, estava imobilizado com uma tala azul e como se despertasse também, senti uma fisgada.
Não estava entendendo nada até ver Poncho adormecido numa cadeira com a cabeça encostada na cama, quase no meu colo. Não conseguia vê-lo muito bem e de repente me lembrei dos ladrões, do assalto, dos tiros...
Tiros! O desespero foi evidente e num ato impulsivo tentei sentar de qualquer forma e acabei por acordá-lo.
Poncho praticamente saltou da cadeira assustado. Minhas bochechas ficaram vermelhas de vergonha por tê-lo acordado daquela maneira.
- Niña! – Ele segura meu rosto entre as mãos e seu olhar era desesperado. – Como está se sentindo? Dói alguma coisa? Me diz, onde dói? Precisa de um médico? É claro que precisa! Não se mova, eu volto num instantinho!
- Poncho! – Não pude evitar e acabei rindo. - Está tudo bem. – Me apressei antes que ele saísse que nem louco do quarto. – Senta aqui. – Bati na ponta da cama e ele fez o que pedi sem tirar os olhos cheios de ternura de mim.
Senti meu coração se encher de felicidade. Agora não me importavam as brigas, nem mesmo sentir meu ombro começar a latejar, qualquer coisa valia a pena se no final Poncho estava ali, ao meu lado, me olhando como há muito tempo não fazia.
- Quanto tempo eu dormi? – Indaguei curiosa e um tanto confusa.
- Dois dias. – Arregalei os olhos assustada, mas ele não me deu chance de perguntar mais nada. - Não sabe como eu fiquei... quando o grandalhão atirou... – Ele simplesmente parou de falar e abaixou a cabeça e me senti emocionada com a sua preocupação. Ali estava, o meu Poncho de volta.
- Hey... – Levantei seu queixo. – Está tudo bem. – Tratei de sorrir mesmo com o ombro queimando e ai me veio a dúvida: o que afinal havia acontecido?! Foi exatamente isso que eu perguntei a Poncho.
- Você levou um tiro no peito e outro no ombro. – Olhei pra baixo e percebi que o peito também estava imobilizado. Como eu não tinha visto antes? – Foi tudo muito rápido. Nós estávamos discutindo, os ladrões estavam distraídos com a gente e a polícia aproveitou pra invadir o mercado. Eles se assustaram e o grandalhão acabou atirando... em você. – Ele engoliu em seco. – Niña... – ele se aproximou e com todo o cuidado depositou um beijo na minha testa. – Nunca mais faça uma coisa dessas comigo. – E então com mais cuidado ainda me abraçou. Me senti especial com todo aquele carinho, como há muito tempo não sentia. Tentei segurar, mas não consegui e deixei escapar uma lágrima solitária. – Eu nunca mais brigo com você. Aliás, se quiser eu deixo você brigar comigo, me bater, fazer o que quiser... só não me dá mais um susto desses tá?
Eu podia estar enganada... iludida se quiserem dizer. Mas ali, naquele momento eu vi os olhos de Poncho brilharem e quando uma lágrima estava prestes a cair, ele virou a cabeça. Meu coração, mais do que em qualquer outro momento, acelerou por ele. Estava cheio de amor e não me importei nem um pouco se ele soubesse. Ao contrário, estava tão esperançosa com aquele gesto que demonstrava que eu também era importante pra ele, que estava acreditando que as coisas podiam ser diferentes. Talvez meu medo fosse infundado, talvez Poncho também gostasse de mim e apenas não sabia como lidar com isso.
- Me perdoa, me perdoa, me perdoa! – Ele repetiu segurando meu rosto entre as suas mãos. – Sabe eu sou um idiota, um filho da mãe. Mas o filho da mãe mais sortudo por ter você na minha vida.
Se Poncho sabia como me magoar, ele também sabia muito bem como me ver feliz. Na verdade, ele nem precisava se esforçar muito pra isso. Bastava me olhar como fazia agora, sorrir ou simplesmente me abraçar. Poderia ser pouca coisa pra quem visse de fora, mas pra mim, era um tesouro. O tesouro mais precioso.
- Hey, não precisa chorar. – Passou os dedos sobre o meu rosto. Até então não tinha me dado conta de que estava realmente chorando. Pensava que era só uma ou duas lágrimas. – Olha vou te contar uma coisa. – Sussurrou num tom de conspiração. – Um dos policiais disse que éramos malucos, loucos por brigarmos na frente de dois bandidos armados... mas também nos chamou de heróis porque foi graças a nossa “maluquice”, que eles se distraíram e a policia conseguiu invadir.
Era clara a intenção de Poncho de me distrair para que eu parasse de chorar. E sim, estava funcionando. No mesmo instante comecei a me lembrar da situação toda. Na hora, vivemos momentos de tensão, mas agora me parecia cômico o modo como as coisas aconteceram. Havíamos sido realmente loucos por não nos importarmos com as armas apontadas para nós e também teve Poncho dançando de nervoso e também os ladrões um tanto atrapalhados...
Comecei a rir e quando me dei conta eu e Poncho já estávamos gargalhando. Era tão bom estar assim, tão leve...
- Você me desculpa? Fui um tremendo babaca com você nessas semanas. – Ele pediu quando finalmente paramos de rir, o que só aconteceu depois que uma enfermeira de cara fechada pediu que parássemos com o barulho.
- Eu não tenho o que desculpar... não sem tem que pedir desculpas também e...
- Nem pensar Niña. – Poncho pousou os dedos sobre os meus lábios. Já falei como era reconfortante ouvir ele me chamar de Niña? – A culpa foi minha e não, nem adianta insistir. Só diga que me perdoa sim?
Eu sabia que não adiantava insistir. Poncho era teimoso demais para me deixar dividir a culpa com ele. E pensando bem, do que adiantava isso agora? Não levaria a lugar nenhum. Então simplesmente concordei e Alfonso me abraçou novamente. Era tão bom sentir seu cheiro, estar assim com ele, tão pertinho... Me senti como se tivesse de volta em casa, os braços fortes dele eram a minha e era o único lugar que eu desejava estar pra sempre!
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POr hoje é só meus amores. Minha intenção era ter preparado mais um capítulo, mas ai fiquei doente e aqui estou, aos trancos e barrancos, melhor graças a Deus rsrrss
Amanhã estou indo viajar de voltar daqui uma semana e depois viajar de novo. Então não sei bem como vai funcionar, mas espero ter tempo pra postar entre as viagens, se não, antes do dia 15 estou de volta!
Feliz Natal e um Ano Novo Maravilhoso!!
Ah! Continuem comentando sim? Isso vai me dando cada vez mais ideias!
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Despretensiosa
Romance"Não pretendo que você retribua o meu amor. Muito menos espero que me olhe de maneira diferente somente porque agora sabe o que eu sinto. Minha única pretensão é que você encontre o amor ainda que não seja comigo, pois quando se ama, não há nada mai...