Capítulo 42 - Segredos

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Um mês depois e eu estava tão destruída como nunca pensei ficar. A princípio pensei que estivesse sonhando, ou pior, tendo um pesadelo. Mas longe disso, era a mais crua realidade.

Poncho estava cumprindo sua palavra. Praticamente não o via e quando isso acontecia, ele sempre dava um jeito de me evitar. Nem ao menos me dirigia a palavra pra me dar bom dia. Doía, sinceramente doía ver uma amizade de tantos anos acabar assim, de uma hora pra outra. Literalmente o que eu temia aconteceu e eu não pude evitar.

Eu sabia que tinha errado, mas a reação dele foi exagerada. Eu sei, eu devia ter contado que eu era eu por trás da máscara. Na verdade tinha toda a intenção de fazer isso, mas o medo não deixou e agora o resultado estava ai o resultado. Bem, a única coisa que me consola é que pior que tá não tem como ficar.

- Ai Ponchiiii!

Quase cai do sofá ao ver Alice e Poncho entrando em casa aos risos. Em apenas um mês pareciam ter se tornado melhores amigos de infância. A mágoa que ele sentia por ela simplesmente havia desaparecido. Já comigo, era como se eu tivesse cometido um pecado mortal, culpada de todos os males do mundo.

- Obrigada pela companhia eu queria muito ver esse filme.

Quebrei o lápis que tinha entre as mãos e eles finalmente perceberam que eu estava ali. O silencio foi imediato. Minha mão começou a sangrar, mas eu não estava nem ai. A raiva que eu sentia me tornava imune a dor. De repente percebi que a única trouxa que tinha naquela história era eu. Estava sofrendo por um cara que não estava nem ai pra mim. Mas isso ia mudar e ia ser agora.

A passos largos sai da sala sem dizer nada. Entrei na cozinha e escorreguei pela porta até o chão. Era muito complicado se fingir de forte, mas eu sei que era exatamente isso que eu precisaria fazer daqui pra frente se quisesse sobreviver naquela casa.

- Annie! - Mai veio correndo. -O que você fez menina?

- Mai... eu não aguento mais. - Assumi e uma lágrima solitária escapou.

- Não diga isso Annie. Vem, me deixa ver o que você fez. - Me ajudou a levantar e colocou minha mão debaixo da pia.

Me sentia uma garotinha perdida, sem rumo, em completo desespero. Minha firme decisão de instantes atrás de não ligar mais para Poncho parecia estar indo por água abaixo. Era muito difícil ter que admitir, mas a sensação de derrota era iminente.

- Tem uma felpa no seu dedo, por isso sangrou. Fica aqui, vou pegar uma pinça e já volto. - Mai me colocou sentada e deixou a cozinha.

Baixei a cabeça me sentindo vencida e ao mesmo tempo com uma raiva imensa. Raiva de Alice, porque tinha certeza que a culpa era dela. Não sei como ela conseguiu abrir minha gaveta e pegar o diário, mas de fato ela tinha feito. Também tinha raiva de Poncho. Se ele se sentia magoado, eu estava profundamente decepcionada. Eu não tinha perdido apenas um namorado, mas tinha perdido meu melhor amigo. Ele disse que não confiava em mim, mas eu por acaso poderia confiar nele?

- Era exatamente assim que eu queria te ver querida. - Ao ouvir aquela voz nojenta, o sangue me subiu a cabeça.

- Tudo que vai, volta Alice e pode ter certeza de que vai ter volta. - Falei sem perder a calma. A vantagem de quando eu estava com raiva é que era subitamente tomada pela calma frente ao inimigo. Eu estava destruída por dentro, mas ela não precisava ver.

-Exatamente minha cara. - Puxou a cadeira e sentou na minha frente. - Arruinou minha vida há dois anos, agora chegou a minha vez.

Ah como eu gostaria de ter o poder de matar com o olhar! Infelizmente, não era assim que a coisa acontecia. Tinha que ficar ali, vendo o sorriso debochado de Alice e isso era o pior que podia acontecer. Era duro, mas lá estava de volta a sensação de derrota.

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