Capítulo 6 - Por um Triz

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- Niña você tá bem? –  Alfonso indagou sem deixar de me fitar, como se procurasse no meu rosto uma resposta a sua pergunta.

Minha respiração estava rápida e entrecortada. Sua face confusa me deixava em pânico, mas ao mesmo tempo, me fez perceber que ele não deveria ter notado que eu estava sonhando com ele, caso contrário já teria me perguntado. Numa tentativa desesperada de me proteger, pulei em seus braços e o agarrei com força.

- Niña... o que aconteceu? – Ele perguntou acariciando os meus cabelos.

- Ah Poncho... – Suspirei tentando engolir o choro. Eu sei estava sendo ridícula. Mas fiquei assustada que ele pudesse saber da verdade. Por outro lado, havia momentos em que eu realmente gostaria que isso acontecesse, me tirando um peso imenso das costas.

Ao mesmo tempo toda a tensão do dia parecia ter escolhido justamente aquele momento pra me sobrecarregar. Uma lágrima caiu, outra e mais outra. Poncho me apertou entre os seus braços enquanto eu chorava.

- Não sei o que aconteceu, mas te prometo que vai ficar tudo bem sim? – Ele beijou os meus cabelos e eu puxei sua camiseta. – Agora se acalme e me conte o que aconteceu. Por um momento eu pensei que...

- O que? – Perguntei no instante seguinte, receosa do que ele poderia ter achado.

- Bem, você estava gemendo e... – Abriu um sorriso sacana e minhas bochechas se ruborizaram. – Pensei que estivesse sonhando com alguém Nina, quem sabe... um namorado? – Sugeriu e toda a minha cor vermelha se transformou em um cinza de tristeza, mesclado a um vermelho de raiva. O idiota além de não perceber que eu gosto dele, também apoiava a ideia que eu tivesse alguém e pra mim isso era demais. Naquele momento, pensei em gritar na sua cara que era dele que eu gostava, mas novamente um alarme soou na minha cabeça: se fizesse isso poderia ser o fim da minha amizade com ele.

- Sonhei que o Whiskas me arranhava. – Menti e tratei de mudar logo de assunto. Afinal, falar de sonhos eróticos com ele não iria me fazer nada bem, ainda mais por ele ser o “ator principal”. – Tive um dia péssimo hoje. – Funguei e voltei a me jogar nos seus braços que estavam estendidos para mim. Oras, eu tinha que aproveitar né? Afinal, era duro ter que dividir aquele cantinho que deveria ser só meu, com metade população feminina da universidade. Fiz uma careta ao pensar nisso.

- Vamos meu bem, me conte o que aconteceu. – Ele pediu e eu sorri. Ele me chamava daquela forma e não usava aquele apelido com mais ninguém, o que me fazia sentir especial.

Os quinze minutos seguintes foram bem divertidos, ainda que o relato sobre o meu dia tivesse a intenção de ser mais dramático. Poncho ria sem parar das furadas que eu me meti ao longo do meu desastroso dia e seu riso era tão contagiante que eu passei a rir também. Se fosse pra terminar sempre assim, juntinho dele, poderia ter mais dias sem sorte sem problema algum.

Whiskas acordou, nos lançou um olhar de desprezo e saiu rebolando pela fresta da janela, provavelmente incomodado com as nossas risadas altas. Nos olhamos e gargalhamos ainda mais.

        Me perdi naquele sorriso. Como ele podia ficar ainda mais bonito quando estava alegre? Suas feições relaxadas e risonhas, me envolviam numa aura de paz e felicidade. De repente, comecei a pensar que adoraria que se fosse possível, o tempo congelasse e nunca mais aquele momento terminasse. Queria poder ficar admirando-o para sempre.

- Niña?

- O que? – Indaguei sem desviar meus olhos um segundo se quer dele.

- Por que tá me olhando assim? – Perguntou e então percebi que ele não ria mais. Me fitava com uma espécie de curiosidade e algo como uma ponta de seriedade.

- Assim como? – Precisava estar segura que ele não tinha descoberto meus sentimentos. Amaldiçoei minha Annie interior, por ser tão tola ao ponto de deixar algo tão importante em evidência.

- Assim tão...

- Annie posso entrar?

Nunca pensei que ficaria tão contente em ser interrompida num momento a sós com o Poncho, mas a verdade é que estava, pois mais um pouco e eu teria posto tudo a perder.

- Claro que pode. – Respondi com alívio e Christopher meteu a cabeça no vão da porta.

- Maite pediu pra avisar que o jantar está pronto.

- O jantar? Mas era o meu dia de cozinhar e...

- Não se preocupe Annie. – Christopher piscou, cúmplice. - Ela estava querendo se distrair, se é que você me entende, e além do mais ela disse que você precisava descansar. Disse que você parecia um tanto estressada e...

- Ela já entendeu Christopher. – Poncho interrompeu subitamente me parecendo de mal humor. Estranhei seu comportamento, afinal ele raramente ficava bravo. Geralmente isso era trabalho de Christian.

- Alfonso! – Chamei a sua atenção e ele me enviou um olhar um tanto estranho. Não era raiva, mas também não era alegre. Algo que eu simplesmente não consegui decifrar, mas que serviu pra me deixar perplexa, pois estava diante de um cara que eu não conhecia.

- Nossa! Tudo bem me desculpe! – Christopher levantou as mãos em gesto de rendição.

Sem responder, Poncho saiu do quarto bufando. Christopher e eu nos olhamos intrigados com aquele comportamento atípico e o seguimos.

Sinceramente, o universo masculino é bem mais estranho que o nosso. Difícil de entender e não vou ser eu que vou tentar! E depois dizem que as mulheres é que são complicadas!

        

DespretensiosaOnde histórias criam vida. Descubra agora