Capítulo 23 - Segredos (Parte 2)

911 50 15
                                    

Eu não podia acreditar no que estava vendo... não mesmo! Ali, parados na minha frente, estavam as duas pessoas que mais deveriam se importar comigo e com Poncho, mas ao contrário das minhas expectativas, estavam aos beijos e abraços como se fossem um simples casal de namorados!

 

- Vai com calma gatinha... – Diego disse enquanto se atracava ao pescoço de Alice. – Assim não vai sobrar força pro meu amigo aqui debaixo. – Ela riu.

 

Senti nojo. Mas era um nojo tão grande que por alguns momentos pensei seriamente que fosse vomitar. O que estava acontecendo ali? Por mais que fosse óbvio o que se passava na minha frente, me agarrei a pequena esperança de que estivesse sonhando ou que não fossem eles. Mas isso logo se mostrou impossível...

 

- Olha só meu amor, porque não vamos... Annie?! – Ambos me encararam assustados. Literalmente, agiam como se fossem culpados, como de fato eram.

 

Diego foi o primeiro a reagir e se separou de Alice. Esta, por sua vez, recuperada de seu estado de torpor, me voltou a olhar com deboche. Será que aquela garota não perdia a pose nunca?

 

Diego começou a andar na minha direção. Tinha aquela cara de cachorrinho abandonado que por algumas vezes eu achei fofa, mas que no momento, era completamente repugnante.

 

- Annie, não é nada disso que você está pensando. Querida, eu...

 

Atirei a jaqueta em seu rosto dele. Minha vontade era de socar aquela cara de falso e dizer um monte de coisas! Porém eu sabia que se fizesse isso, acabaria ficando descontrolada e perder a cabeça na frente daquela lambisgóia da Alice era tudo o que eu menos precisava. Por isso, falei tranquilamente:

 

- Não precisa mais aparecer. Vocês se merecem. – E me virei, andando sem olhar pra trás...

 

Mas se engana quem pensa que a noite terminou ai. Não mesmo! De uma coisa eu tinha estado o tempo todo certa. Aquela noite, estava muito longe de terminar. Mal sabia eu, mas a pior parte da noite ainda estava por vir..

Cheguei em casa e bati a porta da frente com força. Dulce, que estava no sofá se agarrando com alguém, me olhou em princípio com raiva por interromper seu momento, mas ao ver a minha cara arregalou os olhos.

- Cadê o Poncho? – Perguntei sem meias palavras. Havia me decidido. Tinha que contar a ele, antes que a bruxa da Alice pensasse em inventar uma história. Além do mais, tinha que aproveitar enquanto a raiva me fazia ter coragem.

- Está lá em cima... – Dulce respondeu me olhando com a boca aberta, parecendo chocada.

Subi as escadas correndo como se minha vida dependesse disso. Na verdade eu acho que dependia mesmo. Poncho não podia ficar mais com aquela cobra. Eu morreria se isso acontecesse.

De repente me dei conta de que o fato de Diego ter me traído com aquele projeto de biscate, não havia me afetado tanto, quanto a possibilidade dela continuar com Poncho, inventando cada vez mais mentiras. Naquele momento me dei conta de que eu não gostava verdadeiramente do meu ex-namorado, apenas não queria estar sozinha pensando o tempo todo em Alfonso. Mas quer saber?

- Que se dane! – Murmurei pra mim mesma, antes de abrir a porta do quarto dos meninos.

Poncho estava estirado na cama. Encarando o teto como se pudesse ver as estrelas dali. Essa era uma mania que ele tinha quando estava pensativo. Normalmente eu me deitaria ao lado dele e ficaria tentando adivinhar o que ele estava pensado, começaria então a falar as ideias mirabolantes que passavam na minha cabeça e ele cairia na risada.

Sim, geralmente isso era o que aconteceria. Mas a noite de hoje não tinha nada de comum. Eu estava num misto de sentimentos que não me permitiram nem ao menos eu me aproximar da cama. E ele percebeu isso.

- Aconteceu alguma coisa? – Indagou sentando na cama. Ele bateu nela pedindo que eu me sentasse na sua frente.

- Temos que conversar.

- Acho que sei sobre o que. – Ele disse rindo.

- Sabe? – Duvidei desconcertada.

- É. – Se ajeitou melhor na cama e bateu novamente para que eu sentasse. Como se estivesse hipnotizada, meus pés obedeceram a sua ordem, até que eu estivesse sentada na sua frente. – Olha Niña, sabe que eu gosto muito de você não sabe? – Assenti e ele segurou minhas mãos entre as suas. – E sabe que eu também gosto muito da Liz, não sabe? – Com uma careca voltei a assentir. – Então tem que parar de implicar com ela. Sei que não gosta dela, mas eu garanto que ela é uma ótima pessoa e...

- COMO É QUE É? – Praticamente gritei, soltei suas mãos ficando de pé de novo.

- Niña... – Ele parecia cansado, mas eu estava com tanta raiva que nem me liguei – O que eu quero dizer é que... isso não pode continuar entende? Me sinto entre a cruz e a espada. Liz me ligou, disse que você a viu na festa do Felipe. Disse que você certamente me diria que ela estava dando em cima dos homens, se divertindo sem mim, enquanto ela só foi porque é prima dele e a irmã dele estava querendo conversar com a prima, desabafar sabe? Ela não foi lá se divertir, foi ajudar a prima!

- Alfonso... como pode ser tão cego?! – Questionei indignada. – Juro que não entendo! Alice te engana o tempo inteiro e você age como.. um tonto! Não enxerga que está bancando o panaca?!

- Ei, ei, ei! Vamos com calma, eu não te ofendi pra você achar que pode fazer isso! Agora se a verdade incomoda tanto...

- Verdade? – Soltei uma gargalhada e Poncho fechou a cara. – Mas que verdade? Você é que não sabe o que é verdade! Mas sabe de uma coisa? Você merece ser enganado, merece a vadia que tem por namorada e merece ser feito de trouxa!

O silencio foi instantâneo. Não éramos mais Poncho e Annie, os amigos. Como se tivéssemos num campo de guerra, estava a espera do próximo ataque do inimigo. Estávamos de lados opostos.

- FORA DAQUI AGORA! – Ele agarrou o meu braço e me puxou em direção a porta. – NÃO QUERO TE VER! CAI FORA ANTES QUE EU ME ARREPENDA!

-----//-----

DespretensiosaOnde histórias criam vida. Descubra agora