Seoul, 2000
Park Jimin acordou de mau humor.
Seu vizinho, o terror da vizinhança, chegou em casa em um estrondo às três da manhã. Se o carro dele tivera um silenciador, havia deixado de funcionar há muito tempo atrás.
Infelizmente, o quarto de Jimin ficava do lado da casa, mais especificamente para a garagem dele; nem mesmo cobrir a cabeça com o travesseiro abafava o som do Pontiac de oito cilindros. O sujeito batera a porta do carro, acendera a luz da varanda — que estava maliciosamente posicionada para brilhar bem nos olhos de Jimin se ele deitasse de frente para a janela, o que era o caso —, deixara a porta de tela bater três vezes enquanto ele entrava, saíra de novo alguns minutos depois e, então, voltara para dentro, obviamente se esquecendo de apagar a luz, já que, alguns minutos mais tarde, a cozinha ficara escura, mas a maldita varanda continuava acesa.
Se ele soubesse da existência do vizinho antes de comprar a propriedade, nunca, nunca teria assinado o contrato. Nas duas semanas em que vivia ali, o homem havia conseguido destruir toda a felicidade que Jimin sentira com sua primeira casa.
Tinha certeza que o vizinho era alcoólatra, - mas por que não podia ser um bêbado alegre? - perguntou-se amargurado. Não, ele tinha de ser um bêbado ranzinza e maldoso, do tipo que o deixava com medo de soltar o gato se o sujeito estivesse em casa.
BooBoo não era grande coisa — o bicho nem era dele —, mas sua mãe o amava então Jimin não queria que nada acontecesse com o bichano enquanto estava sob sua custódia temporária. Ele nunca mais conseguiria encarar a mãe se os pais voltassem de suas férias dos sonhos de seis semanas na Europa e descobrir que BooBoo havia morrido, desaparecido ou algo do tipo.
E o vizinho já estava implicando com o pobre gato, porque tinha encontrado pegadas no vidro e no capô de seu carro. Pela forma como o homem reagira, era de se imaginar que se tratava de um Rolls-Royce novinho em folha em vez de um Pontiac de dez anos, com a lataria toda amassada.
Para a sorte de Jimin, ele estava saindo para o trabalho no mesmo horário que ele; pelo menos fora o que havia suposto naquele momento. Agora, achava que o sujeito devia estar indo comprar mais bebida. Se o vizinho tinha um trabalho, seus horários eram bem esquisitos, por quê, por enquanto, Park fora incapaz de estabelecer um padrão para suas idas e vindas.
De toda forma, Jimin tentou ser legal no dia em que o vizinho vira as pegadas; até mesmo lhe dera um sorriso, o que, considerando a forma como o carrancudo fora estúpido com ele por quê sua festa de boas-vindas à casa nova o acordara — às duas da tarde! —, fora um grande esforço. Mas ele não prestara atenção no sorriso que oferecia uma trégua; em vez disso, pulara para fora do carro quase imediatamente após seu traseiro tocar o assento.
— Moço, é melhor deixar seu maldito gato bem longe do meu carro!
O sorriso congelara no rosto de Jimin. Ele detestava desperdiçar sorrisos, ainda mais com um babaca mal-humorado com a barba por fazer e os olhos injetados. Vários comentários ácidos lhe vieram à mente, mas Jimin os engolira, afinal de contas, era novo na vizinhança e já começara com o pé esquerdo com esse cara. A última coisa que queria era uma guerra entre os dois. Park decidira tentar ser diplomático mais uma vez apesar de isso obviamente não ter funcionado durante a festa.
— Desculpe — dissera, mantendo a voz calma. — Vou tentar prestar mais atenção. Estou cuidando de BooBoo para os meus pais, ele não vai ficar aqui por muito tempo. — Só mais cinco semanas.
O homem rosnara alguma resposta ininteligível e voltara para o carro, batendo a porta e então saíra em disparada, o poderoso motor roncando como um trovão. Jimin inclinara a cabeça para o lado, ouvindo. O exterior do Pontiac era horroroso, mas o motor rodava maravilhosamente bem. Havia muitos cavalos sob aquele capô.

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O homem perfeito
Romantik(EM ANDAMENTO) Como seria o homem perfeito? Esse é o assunto que Park Jimin e suas amigas discutem certa noite. Quais seriam suas principais qualidades? Seria ele alto, atraente e misterioso? Precisaria ser carinhoso e atencioso, ou apenas musculoso...