Oito

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— Ah. — murmurou Jimin para si mesmo enquanto dirigia no piloto automático, o que, no trânsito de Seoul, era um pouco mais do que perigoso. — Ah?

Que tipo de resposta negativa era essa? Por que ele não dissera algo como "Nos seus sonhos, meu camarada", ou "Minha nossa, será que eu nem percebi que chegou o dia de São Nunca?". Por que não dissera qualquer coisa diferente de ah? Francamente, ele podia fazer melhor que isso com o pé nas costas.

E não falara com indiferença, como se tivesse pedido uma informação e a resposta não fosse muito interessante. Não, aquela droga de sílaba tinha saído com tanta fraqueza que o fizera soar mais do que frouxa. Agora, Jungkook iria achar que bastava aparecer na casa dele para os dois irem para a cama.

A pior parte era que talvez estivesse certo.

Não. Não, não, não, não, não. Jimin não tinha relacionamentos casuais e era péssimo nos sérios, o que, basicamente, resolvia a questão do romance. De jeito nenhum teria um caso com o vizinho da casa ao lado, um homem a quem até a véspera — ou antevéspera? — ele se referia como "o babaca".

Jimin nem gostava dele. Bem, não muito. Com certeza admirava a forma como o sujeito jogara aquele bêbado de cara no chão. Havia momentos em que a força bruta era a única resposta satisfatória; e ele se sentira extremamente satisfeito ao ver o bêbado jogado no chão e carregado com tanta facilidade, como se fosse uma criança.

Mas havia mais alguma coisa de que ele gostasse em Jungkook além do seu corpo — isso era óbvio — e de sua capacidade de escorraçar arruaceiros? Jimin pensou um pouco. Também havia algo interessante num homem que reformava os próprios armários, embora ele não conseguisse entender exatamente o que era; talvez fosse um toque de domesticidade? Jeon certamente precisava de alguma coisa para compensar aquela banca de machão. Tirando o fato de que Jungkook não botava banca alguma; ele era confiante.

Não é preciso botar banca quando se carrega uma pistola do tamanho de um secador de cabelo no cinto. E, no que dizia respeito a símbolos fálicos, essa parte estava bem representada — não que ele precisasse de símbolos com o dito cujo bem ali, dentro da calça...

Jimin apertou o volante, tentando controlar a respiração. Ele ligou o ar condicionado e ajustou o vento frio para soprar em seu rosto. Seus mamilos pareciam rijos, e ele sabia que, se verificasse, os encontraria em alerta como soldadinhos.

Certo. Ele estava lidando com um sério caso de tesão. Isso era um fato, e era preciso encará-lo, o que significava que precisava agir como uma adulto sã e inteligente. Que diabos era o seu problema?, perguntou-se ele, irado. Já vira partes baixas antes. As de Jungkook realmente eram impressionantes, porém, quando era uma garoto extremamente curioso na faculdade, Jimin vira alguns filmes pornôs, folheara algumas revistas de pornografia gay, então já deparara com maiores. Além do mais, apesar de ter se divertido com a conversa sobre o homem perfeito e quão grande seu pênis deveria ser, o membro não era nem de longe tão importante quanto o homem a quem estava preso.

O homem perfeito. A lembrança voltou como um tapa na cara. Droga, como podia ter se esquecido daquilo?

Da mesma forma que mais cedo esquecera sobre Jungkook e seu amiguinho, porque estava preocupado com aquele jornal idiota, simples assim. Na qualidade de distrações, ambos os tópicos eram tão eficientes quanto, digamos, sua casa pegando fogo.

Hoje, o dia devia ser mais tranquilo, pensou ele. Dos oitocentos e quarenta e três funcionários da Hammerstead, havia uma grande chance de várias pessoas que conheciam os quatro amigos terem assistido ao jornal e adivinhado sua identidade. Havia aqueles que perguntariam diretamente a Dawna, que daria com a língua nos dentes, e a informação se espalharia pelo escritório com a rapidez de um e-mail. Mas, contanto que a fofoca não saísse da empresa, Momo pelo menos teria uma chance de Heechul não descobrir. Ele não socializava muito com os colegas de trabalho da esposa, exceto por sua presença obrigatória na festa de Natal corporativa, quando sempre parecia entediado.

O homem perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora