Vinte

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Era surreal, pensou Jimin na manhã seguinte, ao entrar no elevador do trabalho, como seu mundo podia estar tão diferente do da maioria das pessoas que não fora afetada pela morte de Lisa na Hammerstead. É claro que Jennie e Momo estavam tão arrasadas quanto ele, e o pessoal do departamento de Lisa estava triste e em choque, mas boa parte dos funcionários por quem passara não mencionara o ocorrido nem dissera algo como: "Pois é, fiquei sabendo do que aconteceu. Que coisa chata, né?"

Os nerds da computação, é claro, permaneciam inabalados por tudo o que não envolvesse gigabytes. O cartaz do elevador naquela manhã dizia: NOVA DECLARAÇÃO DA ANVISA: CARNE VERMELHA NÃO FAZ MAL. RESULTADOS DE TESTES COMPROVAM QUE É A CARNE VERDE E MOFADA QUE É PREJUDICIAL À SAÚDE.

Como carne verde e mofada parecia algo que estaria presente com frequência na geladeira do nerd de computação médio, aquele cartaz provavelmente tinha um significado profundo para a maioria deles, pensou Jimin. Em qualquer outro dia, ele teria rido. Hoje, não conseguia nem abrir um sorriso.

Jennie e Momo também não tinham ido trabalhar no dia anterior. As duas chegaram à sua porta pouco depois das oito da manhã, os olhos nas mesmas condições dos dele. Irene havia cortado mais fatias de pepino e, depois, fizera mais panquecas, que ajudaram tanto as amigas como Jimin.

A irmã não tinha conhecido Lisa, mas ouvira pacientemente enquanto o grupo falava da amiga, algo que passaram o dia fazendo. Todos tinham chorado muito, rido um pouco e perdido tempo demais bolando teorias sobre o que tinha acontecido, já que, obviamente, Kai era inocente. Elas sabiam que não iriam encontrar a verdade, mas falar sobre aquilo ajudava. A morte de Lisa era tão inacreditável que o incansável debate dos fatos era a única forma de gradualmente aceitarem que a haviam perdido.

Dessa vez, para variar, Jimin não chegara cedo. O Sr. deWynter já estava lá e, imediatamente, o chamou para a sala dele.

Jimin suspirou. Ele podia ser chefe do setor de pagamentos, mas, infelizmente, o cargo não lhe dava nenhum poder, só responsabilidades. Ao sair do escritório mais cedo e não aparecer na terça, ele os deixou com menos um funcionário.

DeWynter devia ter suado bicas, perguntando-se se conseguiriam terminar tudo a tempo; as pessoas tinham a tendência a ficar irracionais quando seus pagamentos não eram feitos conforme o cronograma. p estava preparada para aceitar as críticas do gerente, mas fora pega de surpresa quando ele disse:

 — Quero lhe dar meus pêsames por sua amiga. O que aconteceu foi horrível.

Jimin tinha jurado que não choraria no trabalho, mas a compaixão inesperada de deWynter quase a fez perder o controle. Ela piscou para controlar as lágrimas.

—Obrigado — disse. — Está sendo horrível. E eu quero me desculpar por ter deixado o departamento na mão na segunda...

Ele balançou a cabeça.

—Eu compreendo. Nós fizemos hora extra, mas ninguém reclamou. Quando será o enterro?

—Ainda não tem data. A autópsia...

—Ah, é claro, é claro. Por favor, me avise quando souber; muitos funcionários querem comparecer.

Jimin assentiu com a cabeça e fugiu para sua mesa e uma pilha de trabalho. Ele sabia que o dia seria difícil, mas não tinha imaginado quanto. Gina e todo o pessoal do departamento tinham oferecido suas condolências, é claro, o que quase o fez chorar de novo. Como não tinha trazido pepinos para o trabalho, ele teria de passar o dia lutando contra as lágrimas. Sem planejarem nada, Momo e Jennie apareceram na hora do almoço.

—Railroad Pizza? — sugeriu Momo, e seguiram no carro da amiga até o restaurante próximo.

Assim que pediram suas pizzas vegetarianas, Jimin lembrou que não tinha contado sobre o trote do dia anterior, pouco antes de elas chegarem.

O homem perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora