Catorze

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—Vamos lá — disse Lisa depois que todas receberam suas bebidas e fizeram os pedidos na lanchonete na qual foram tomar café —, conte o que aconteceu com Heechul.

—Não há muito o que contar — respondeu Momo, dando de ombros. — Quando cheguei em casa ontem, ele estava lá. Começou a exigir que eu parasse de falar com os meus amigos. Três amigos específicos, e vocês podem imaginar quem são. Eu rebati dizendo que ele teria que abrir mão de um amigo para cada uma dos meus. E aí... Acho que foi intuição feminina, porque, de repente, comecei a questionar se ele não havia passado os últimos dois anos sendo tão frio por causa de outra mulher.

—Qual é o problema dele? — esbravejou Jennie, indignada. — Será que Heechul não sabe como é sortudo por ter você?

Momo sorriu.

— Obrigada, não vou desistir, sabem? Talvez a gente consiga dar um jeito nas coisas, mas, caso não dê certo, não vou deixar isso me destruir. Pensei bastante ontem à noite, e Heechul não é o único culpado. Ele pode não ser o homem perfeito, mas eu também não sou a mulher perfeita.

Você não está tendo um caso com outro homem — observou Jimin.

—Eu não disse que somos culpados da mesma forma. Se ele quiser salvar o casamento, vai ter que melhorar muito. Mas eu também terei.

—Em que sentido? — perguntou Jimin .

—Ah... Não é que eu tenha ficado largada, mas também não me esforço em nada para atraí-lo. E também faço todas as vontades dele para agradá-lo, o que, convenhamos, aparentemente, é bom para ele, mas, se Heechul quer ter um casamento em que os parceiros são iguais, isso deve ser enlouquecedor. Eu divido minhas opiniões com vocês da mesma forma como costumava fazer com ele, mas, agora, parece que, quando estou em casa, escondo tudo de interessante que tenho em mim. Eu sou a cozinheira e a empregada, nunca a amante e a parceira, e isso não faz bem para o casamento. Não é de se espantar que ele tenha perdido o interesse.

—Você sabe como isso é clichê? — indagou Jimin num tom cheio de indignação. — Independentemente do que aconteça, as mulheres se sentem culpadas. — Ele mexeu o café, encarando a xícara. — Eu sei, eu sei, às vezes a culpa é mesmo nossa. Mas que merda, odeio estar errado!

—Vinte e cinco centavos — disseram três vozes.

Ele revirou a bolsa atrás de trocados, mas só encontrou quarenta e seis centavos. Acabou colocando um dólar sobre a mesa.

—Alguma de vocês pode trocar o dinheiro para as outras. Preciso arrumar mais trocados. Jungkook acabou com as minhas moedas.

Houve uma longa pausa, com três pares de olhos focados nele.

Finalmente, Jennie perguntou com delicadeza: — Jungkook? Quem é Jungkook?

—Vocês sabem, Jungkook, meu vizinho. — Lisa apertou os lábios.

—Esse seria o mesmo vizinho que é policial, apesar de você tê-lo descrito várias vezes como um babaca, alcoólatra, traficante de drogas e filho da puta vagabundo, um desleixado que não via uma lâmina de barbear e um chuveiro há milênios...

—Certo, certo — disse Jimin. — Sim, esse cara mesmo.

—E você agora o chama pelo nome? — perguntou Momo, maravilhada. O rosto de Jimin ficou quente.

—Mais ou menos.

—Ah, meu Deus. — Os olhos de Jennie  estavam esbugalhados. — Ele ficou vermelho.

—Que medo — disse Lisa, e os três pares de olhos piscaram, chocados. Jimin se remexeu no banco, seu rosto ficando cada vez mais quente.

—A culpa não é minha — soltou ele na defensiva. — Ele tem uma picape vermelha. Quatro por quatro.

O homem perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora