Dez

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Jungkook lidou com o problema. Ele saiu da garagem, trancando o cadeado para que nenhum jornalista mais fuxiqueiro que o normal conseguisse dar uma espiada lá dentro e encontrá-lo — embora Jimin desconfiasse de que o objetivo maior por trás daquilo fosse esconder o carro, não ele. Da porta, o ouviu caminhar até o Viper e dizer: 

— Com licença, preciso chegar até aquela torneira para desligar a água. Podem sair do caminho, por favor?

Jungkook estava sendo muitíssimo educado. Jimin se perguntou por que ele nunca era educado assim quando falava consigo. É claro que seu tom emitia mais uma ordem do que um pedido, mas, mesmo assim...

— Como posso ajudar vocês?

— Queremos entrevistar Park Jimin sobre a Lista — respondeu uma voz desconhecida.

— Não conheço nenhum Park Jimin — mentiu Jungkook.

— Ele mora aqui. De acordo com o registro público, ele comprou esta casa algumas semanas atrás.

— Errado. Eu comprei esta casa algumas semanas atrás. Droga, deve ter acontecido algum erro no registro do imóvel. Vou ter que resolver isso.

— Park Jimin não mora aqui?

— Eu já disse, não conheço nenhum Park Jimin. Agora, se vocês não se importam, preciso lavar meu carro.

— Mas...

— Talvez eu devesse me apresentar — disse Jungkook, o tom subitamente gentil. — Sou o detetive Jeon, e isto aqui é uma propriedade particular. Vocês estão invadindo o meu terreno. Precisamos continuar esta conversa?

Era evidente que não precisavam. Jimin ficou imóvel enquanto os motores eram ligados e os carros partiam. Era um milagre que os jornalistas não tivessem escutado os dois conversando na garagem; deviam estar falando alto entre si, ou teriam ouvido. Eles dois certamente estavam compenetrados demais na própria conversa para ouvir a chegada dos visitantes.

Ele esperou Jungkook voltar para abrir a garagem. Ele não fez isso. Park ouviu o som de água caindo e de alguém assobiando.

O babaca estava lavando seu carro.

— É melhor que você esteja lavando do jeito certo — disse Jimin entre dentes cerrados. — Se deixar o sabão secar, arranco seu couro.

Impotente, ele esperou, sem ousar gritar ou bater na porta para o caso de ainda restar algum jornalista à espreita. Se qualquer um deles tivesse metade de um cérebro, teria percebido que, apesar de Jungkook talvez conseguir caber apertado no Viper, de forma alguma gastaria tanto dinheiro para comprar um carro que teria de dirigir como se estivesse numa lata de sardinha. Vipers não eram feitos para sujeitos altos e com porte de jogador de futebol americano. Uma picape combinava muito mais com ele. Jimin pensou na quatro por quatro vermelha da Chevrolet e ficou amuado. Quase comprara uma igual antes de ser conquistado pelo Viper.

Sem o relógio de pulso, Jimin estimou que havia passado uma hora, talvez uma hora e meia, quando Jungkook finalmente abriu a porta. O crepúsculo escurecia o céu, e sua camisa estava seca, provas de quanto tempo passara, impaciente, esperando para ser liberado.

— Você não teve pressa nenhuma — reclamou  enquanto saía da garagem.

— De nada — respondeu Jungkook. — Terminei de lavar seu carro, depois passei cera e lustrei tudo.

— Obrigado. Você fez direito?

Jimin correu para o Viper, mas não havia luz suficiente para analisar se ele deixara manchas.

O homem perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora