Capítulo 1 - Prólogo

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Dez Anos Atrás

Estrelas cintilavam no céu escuro, como pequenos pontos de luz distantes que piscavam do céu para ela. Como se dissessem em um suave cintilar

Estou aqui

Estou aqui

Suspiro baixinho e uma fumaça sai em contato com o ar frio e úmido, fecho os olhos e sinto as batidas da música repercutindo em meus ouvidos e em meu coração.

Eu sabia que não deveria ter vindo, festas da escola não faziam muito o meu tipo, mesmo que a festa fosse um encerramento de uma parte da minha vida.

Próximo ano, faculdade

Mas mesmo enquanto pensava nisso nenhum tipo de alegria era vista ou sentida. Uma parte do vestido se levanta quando o vento bate em minhas pernas e eu xingo baixinho quando o ar entra pela costura.

Porcaria de vestido.

- Você está bêbada?

Viro minha cabeça para a direita e vejo um dos garotos mascarados vindo em minha direção e parando quando percebe que estou deitada no meio da rua.

- Porque você iria querer saber se estou bêbada? – acabo perguntando a ele

- Não sei, mas talvez eu pudesse chamar a ambulância.... – Ele para quando me vê estreitando os olhos por sobre a máscara – Ou a polícia.

- Idiota

- Você me chamou de idiota?

- Chamei

- Isso foi um tanto rude vindo de uma princesa

Olho para o meu vestido e reviro os olhos deitando a cabeça na mesma posição de antes.

- Não estou vestida de princesa

- E está vestida de que?

- De bruxa, obvio

Sinto ele se aproximando e me forço a continuar olhando para o céu. Mas olho surpresa para ele quando vejo ele se deitando ao meu lado. Ele vira a cabeça para o lado e sorri, meu coração tropeça uma batida e eu inspiro baixinho.

Cacete, ele era lindo. Olhos tão escuros quanto o céu, e tão brilhantes quanto as estrelas.

- Olá – ele diz e eu pigarreio voltando minha cabeça para cima

- Olá

- Posso perguntar o que está fazendo aqui fora?

- Fugindo

- Não gosta de festas? – ele pergunta e eu sorrio quando vejo seu tom assombrado

- Odeio bailes, principalmente aqueles que eu tenho que fingir que estou gostando.

Ele fica em silêncio ao meu lado e eu me viro de novo para ele, me assusto com o seu olhar observador e arqueio uma sobrancelha.

- O que foi?

- Nada, é só que.... – Ele pigarreia e seu olhar desce dos meus olhos para a minha boca rapidamente antes de voltar a me olhar – Você pareceu tão real.

- Real? Mas eu sou real – falo confusa

- Eu sei, pelo menos agora, eu sei – ele vê minha expressão confusa e sorri – Quando eu sai de dentro do prédio e vi você aqui deitada no meio da rua, pensei por um instante se não era uma miragem.

- Uma miragem?

- Sim, sabe quando você fica muito tempo sem água e de repente vê coisas da qual não são reais?

- Acho que sim

- Foi exatamente assim, eu estava cansado e precisando de algo. Então de repente você estava na minha frente.

Sorrio e mordo meu lábio inferior voltando os olhos para o céu, depois de alguns instantes ele faz o mesmo.

- E do que você estava precisando? – eu pergunto baixinho

- De algo real – ele responde simplesmente e eu fecho os olhos sentindo suas palavras invadirem o meu corpo.

Ficamos em silêncio por alguns instantes e pode ser que eu também estivesse vendo coisas da qual não existiam, mas pude jurar que o ar ficou cada vez mais fácil de invadir o meu pulmão. Me deixando leve e despreocupada.

Por isso que quando sinto o dedo mindinho dele roçar no meu em uma caricia suave eu simplesmente estendo o meu e rápido assim, estamos nos tocando, dois corpos ligados pelos seus dedos mindinhos.

Isso é patético

Isso é incrível

É tudo o que eu precisava

A música do lado de dentro começa a tocar mais alto e os acordes de Heaven começa. Pisco com a rapidez dele ao se levantar ao meu lado e sorrio confusa quando o vejo estender a mão para mim.

- O que está fazendo?

- Quero dançar com você, vamos

Faço uma careta, mas ele revira os olhos e me puxa pela mão me colocando de pé, ele sorri e franze a testa quando vê a minha coroa no chão. Se abaixando ele a pega e a música começa lá dentro, inclino minha cabeça para o lado curiosa e ele coloca minha coroa de espinhos e rosas na minha cabeça.

- Minha bruxinha

Sorrio levemente e arfo quando ele se posiciona a minha frente e me puxa para o seu peito, ele espera e eu coloco a mão em seu ombro arqueando minha coluna e posicionando os meus pés, minha outra mão se estende e ele a pega surpreso.

A música é uma valsa suave então deslizamos pela rua, com movimentos ensaiados, acompanho os seus passos e ele sorri quando faço o movimento de descida apoiando meus pés firmemente antes de subir e rodopiar.

Ele me pega e me puxa de novo para si, meus pés sintonizados com os seus, é uma dança, é um duelo, é uma sintonia que de longe iria parecer que tínhamos ensaiado por dias. Mas não, só estamos seguindo um ao outro.

Meu vestido em cores de rosa e preto se move comigo, fazendo se misturar com a noite, dando alguns tons de cores. Era lindo.

- Você odeia bailes, mas dança como uma perfeita bailarina – ele sussurra em meu ouvido enquanto seguimos dançando.

- Disse que odeio bailes, não que odiava dançar

- Verdade – ele responde e me rodopia nos últimos acordes, me pegando assim que acaba, e simples assim estancamos bem no final, com um floreio ele se afasta e se curva em uma reverencia. Finjo uma expressão séria e pego o meu vestido na mão antes de descer em uma reverencia elegante, quase tocando o chão. Subo lentamente e puxo uma respiração quando o vejo me observando com nada menos que desejo no olhar.

- Me diga seu nome – ele sussurra e eu balanço a cabeça negando levemente – Por favor

- Isso iria contra toda história de contos de fadas

- Isso é uma história de contos de fadas?

- Não parece para você? A única diferença é que o mocinho acabou de dançar com a bruxa.

Ele se aproxima e nossas respirações ainda arfantes se misturam e se mesclam em uma só.

- Toda história de contos de fadas é linda, mas a nossa é a minha favorita

Sorrio surpresa por suas palavras e me aproximo um centímetro a mais. Nossos olhares se encontrando e respondendo as respostas um do outro.

Era simples

Era nosso

Era nossa história

Mas toda história tem um começo e um fim

E aquela noite foi o começo e o fim da nossa.

(Des) EncontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora