Capítulo 16 - Situações Inexplicáveis

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- E você encontrou a loja? – Kallie pergunta enquanto eu desço as escadas da pousada.

- Ainda não, estou indo até a cidade agora

Aceno em despedida para Juliane e saio pela porta estremecendo agradavelmente quando sinto os raios de sol em minha pele.

- Deve ter sido horrível, não sei nem como você teve coragem de ir andando

- Mais ou menos, não estávamos tão longe, o problema mesmo foi a chuva

- Imagino que Caleb tenha ficado bem irritado – penso de novo na noite passada e fico tentada a responder que irritado não é bem a palavra certa para o que eu senti quando ele tocou em mim.

Mas aí eu teria que explicar porque passamos a noite na mesma cama e em como eu fiquei calculando em que hora da madrugada eu fui parar quase em cima dele, ou em como ele colocou o braço em minha cintura e me puxou para perto quando eu despertei e tentei me afastar, ou quando ele acordou e eu fingi que estava dormindo.

Inferno

- Estávamos os dois irritados para dizer a verdade – acabo dizendo e caminho rapidamente pela rua vendo a rua principal aparecer em meus olhos.

- Sinto muito pelo trabalho

- Não tem problema nenhum, o bom é que a chuva deve ter lavado alguns dos meus pecados mais guardados

- Engraçadinha – Kallie fala rindo e eu sorrio estreitando os olhos quando vejo uma placa de madeira com os dizeres "Saint John"

- Acho que encontrei a loja Kallie – abro a porta principal e falo em tom de despedida para ela – A gente se fala depois, tudo bem?

- Combinado, boa sorte

Encerro a ligação e coloco o celular no bolso da saia enquanto caminho até as mesas dispostas do outro lado, cada uma é mais bela do que a outra com detalhes vividos e delicados. Olho uma por uma e pego o meu tablet olhando para o meu desenho.

- Posso ajudar? – um senhor se aproxima sorrindo e eu sorrio de volta apontando para as mesas.

- Ouvi falar muito bem do seu trabalho. Sou de Nova York e trabalho em uma empresa de design de interiores.

- Olha só, agradeço a quem tiver dito. Meu nome é John – ele estende a mão e eu a aperto – No que está trabalhando agora?

- Em um dos hotéis, eu queria uma coisa diferente dos outros lugares

- Como o que?

Estendo o tablet para que ele veja, colocando os óculos ele pega-o e analisa a imagem, depois do que parecem ser minutos ele me devolve e aponta para outro lugar.

- Acho que tenho algo para você

Sigo ele animada e depois de entrar em uma sala distante das outras mesas ele me leva até outras mesas ainda em estado incompleto. Desvio de algumas e paro quando vejo o que ele está querendo me mostrar.

- Nossa, ela é linda

A mesa redonda de quatro pessoas é em tons de preto e cinza claro, os pés dela é um encrustado detalhado com arabescos simples e delicado, passo a mão e sinto o apoio dela, os pés de cor cinza e a tampa de cor preta é simplesmente uma combinação incrível para as cores do salão.

- Você deve ter tido um trabalho bem grande para fazê-la

- Não muito, tenho muito ajuda aqui, todos os meus filhos me ajudam e gostam do que fazem

- Isso é ótimo – me levanto e vejo que a mesa é leve, como se não pesasse nada e ainda sim robusta e firme. Além de claro, muito fácil para limpar – Quantas mesas você tem assim pronta?

- Umas seis. Mas ainda precisam pintar, ela é a única pronta

- E quanto tempo demoraria para fazer digamos......- calculo o tamanho do salão mentalmente – Umas 20 mesas nesse mesmo estilo?

Ele arregala os olhos animado e faz os seus próprios cálculos antes de me responder.

- Um mês e meio, talvez dois

- Perfeito, e o preço?

Ele me fala um preço e eu calculo vendo meu orçamento, peço um desconto e depois de alguns segundos ele aprova. Saio contente da loja com uma foto da mesa e um contrato para ser assinado, olho para o celular e mando uma mensagem para Kallie junto com um anexo.

- Estava te procurando – olho para cima e vejo Caleb vindo em minha direção com as mãos no bolso da calça, a camisa social azul está com alguns botões abertos perto do colarinho e vejo um traço de uma das tatuagens, desvio o olhar e aponto para a loja atrás de mim

- Consegui as mesas, só preciso que fiquem prontas algumas amostras para a gente levar. Tudo bem?

- Claro, quanto tempo?

- Ele disse uns dois dias ou menos.

- Ótimo – Caleb está de óculos escuros então não teria como eu saber qual é a sua expressão de fato, então olho para a rua e vejo mais algumas lojas artesanais.

- Preciso dar algumas voltas, ver se encontro algo mais.

- Tudo bem, vou até o escritório que Declan me pediu. A gente se encontra depois?

- Sim, ah e como ficou o lance do carro? – eu pergunto e ele dá de ombros

- Deu tudo certo, eles vão pegar o carro ainda hoje e me trazer o meu. Já que ele saiu da oficina.

- Ah, perfeito

Nossa, podia ser mais constrangedor? O que aconteceu conosco? Pigarreio e aceno me despedindo indo em outra direção, mas sinto por todo o caminho seu olhar em mim.

Preciso de alguma coisa doce

É a resposta para tudo.

.............................

Minutos depois e com um sorvete na mão começo a caminhar pelas lojas parando brevemente quando vejo algo que goste.

As pessoas são simpáticas e sorridentes, mas acho que eu também seria se vivesse a todo tempo perto da praia. Principalmente sentindo o ar mais leve sem aquela densidade de Nova York.

Jogo o potinho de sorvete no lixo quando termino e dou por encerrada a curiosidade de hoje. Olho para a breve trilha descendo e sorrio colocando os óculos escuros no rosto e seguindo em direção a ela.

Talvez vir para Hampton tenha sido uma ótima ideia afinal, eu penso quando vejo o mar se abrir aos meus olhos.

(Des) EncontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora