Capítulo 36 - Decisões a Tomar

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- Amor? – sinto Caleb acariciando o meu cabelo e pisco os olhos tentando acordar – Já chegamos

Me afasto dele e o vejo sorrindo, esfrego os olhos tentando afastar o sono, mas só o que eu consigo é ficar mais cansada ainda.

- Você está bem? – ele pergunta preocupado – Você dormiu a viagem inteira

- Acho que sim, só estou me sentindo meio exausta

- Você parece meio pálida, não estou gostando disso Âmbar – Caleb diz e eu abano com a mão dispensando a preocupação

- Vou ficar bem – olho para a poltrona do outro lado e vejo meu pai ajeitando a gravata, suspiro cansada e me ajeito na poltrona me preparando para o pouso

- Seu pai parece estranho

- Ele está se preparando para assumir o papel de juiz – respondo e ele franze a testa – Quer saber porque eu não deixei você dar um soco na cara dele?

- Porque?

- Porque ele espera que as pessoas reajam com a mesma fúria que ele mesmo reage. A única diferença é que ele consegue sair dessas confusões porque ele é uma pessoa reconhecida como o bom da sociedade americana – eu falo fazendo uma careta – Então a última coisa que você quer é lidar com policiais perguntando o porque de você bater em um senhor que preza a vida humana.

Caleb me olha e depois desvia o olhar com nojo para o outro lado, meu pai nem mesmo se mexe de onde está. Impassível

Como sempre

O avião pousa e logo em seguida estamos em terra firme, estalo o pescoço me espreguiçando e caminho pelo aeroporto ignorando alguns olhares de pessoas que conhecem Davies.

- Sua mãe está no hospital onde Crispin trabalha, vá até ela, o jantar é as sete, não se atrase – o meu pai diz e logo em seguida entra no carro dele, reviro os olhos e olho para um Caleb enojado

- Bem que ele merecia uns socos

Dou risada e o pego pela mão puxando-o para um taxi.

...............................

Crispin vem ao nosso encontro quando descemos do taxi, parecendo estar com tanta raiva quanto eu estava no momento.

- Quem contou para ele? – Crispin pergunta me puxando para um abraço apertado.

- Não faço ideia

- Inferno – ele diz e me solta me averiguando – Você está bem? Ele te machucou?

- Não, o Caleb estava lá

Eu falo e vejo o olhar dele se desviar de mim para o cara ao meu lado. Acenando para Caleb ele estende a mão.

- Valeu cara

- Como ela está? – eu pergunto arrastando a mala pela entrada

- Está ficando melhor

- Foi ele? – Crispin olha para mim e revira os olhos

- Você acha mesmo que ela vai me contar alguma coisa?

Ele nos acompanha até o quarto dela, mas antes que ele entre também eu o impeço e peço com um sorriso.

- Preciso falar com ela a sós. Tudo bem? – Crispin me olha confuso, mas depois assente e abre a porta para mim.

Caleb pega a minha mala e eu sorrio antes de entrar no quarto cheirando a álcool e remédio.

- Âmbar? – me aproximo da cama e olho para a minha mãe.

Se o papai era todo contraditório a gente, mamãe nos mostrava de quem erámos parecidos. Com o mesmo tom de pele, os mesmos olhos claros, o cabelo preto e até mesmo o nariz.

A única diferença era as pequenas rugas em torno dos olhos, o cansaço no olhar e aquela mancha escura em uma das bochechas.

- Oi mãe

- Você veio minha querida – ela estende a mão e eu a pego apertando de leve – Pensei que mesmo com sua mãe no hospital você não viria

- Não era como se eu pudesse escolher

Ela entorta a boca naquela expressão e eu suspiro soltando sua mão

- Você sabe que a gente só quer o seu bem – ela diz abaixando o tom – E ficar naquela cidade trabalhando naquele lugarzinho podre ganhando tão pouco que nem se veste direito é o epitome do que você poderia fazer Âmbar.

- Pois é, e adivinha quem está mais ferrada do que eu – eu falo e ela se senta na cama

- Olha a boca, estou assim porque você não nos escuta. O que custa voltar para cá? Ficar um tempo conosco?

- E ver você apanhar? Tentar me intrometer e levar os tapas por você? – eu falo e balanço a cabeça negando – Não, obrigada, vou ficar no meu apartamentozinho imundo

- Estou cansada Âmbar, até mesmo seu irmão seguiu uma vida melhor do que a sua. Ele é feliz aqui, porque você não pode ser?

- Ele ainda está aqui pelo mesmo motivo que eu vim até aqui antes de ir ao papai – ela franze a testa levemente e eu tiro uma pasta de dentro da bolsa – Sempre voltávamos a esse inferno por sua causa, porque mesmo depois de você nos rebaixar a nada menos que um grão de poeira em sua roupa, nos ainda sentíamos pena de você.

- Não preciso de pena

- Sim você precisa, acredite em mim. Ver você com essa mancha roxa no rosto não é sinônimo de coragem e superação. É sinônimo de pena mãe

- Não foi ele quem fez isso, eu tropecei

- Tropeçou na mão dele? – ela abre a boca, mas eu a paro – Para com isso, nem tenta, passei anos ouvindo suas desculpas. Tropecei na escada, cai da cama, ah e tem a melhor de todas, alguém invadiu a casa e tentou nos roubar.

Faço uma careta e olho para ela que parece ter envelhecido alguns anos a mais.

- Eu não a culpo de todo, até acho que você poderia ter sido uma pessoa melhor se não tivesse se casado com ele – eu falo e abro a pasta – Mas infelizmente você disse sim.

- Seu pai, ele....

- Ele vai finalmente sofrer as consequências – jogo uma foto em seu colo e ela a pega arfando – Essa é só um dos milhares que tenho, juntei tudo como se fosse um arquivo.

- Âmbar, o que você está pensando?

- Estou pensando que você tem que fazer uma decisão mãe

- Do que está falando? – ela pergunta e eu posso ver sua boca tremendo de leve

- A primeira escolha é você passar um tempo longe da cidade, pode ir para qualquer lugar longe daqui. Mas tem que ir amanhã – eu faço uma pausa e coloco a foto na pasta de novo – As pessoas não sabem que você está no hospital, então uma saída para um retiro, ou seja lá o que, não vai trazer muitas perguntas.

- Eu...

- A segunda é você ficar e sofrer junto com ele quando eu mostrar essas fotos, e pode ter certeza que ele vai jogar tudo em cima de você como sempre faz.

- Se você divulgar isso a família inteira, incluindo você e seu irmão vão ficar todos manchados

- Me poupe o sermão, sei muito bem disso. Mas acha que eu me importo?

Ela fica em silencio e eu puxo uma respiração antes de me virar para sair do quarto.

- Você tem até amanha de manhã para decidir

(Des) EncontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora