Capítulo 10 - Entre sabão e água

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- Vai precisar que tire o piso? – George pergunta e eu me viro para ele anotando no tablet sobre as medidas do salão.

- Sim, por favor

- Mas naquela parte o piso está praticamente novinho, só precisa de uma boa limpeza

- Eu sei, só que a cor do piso não vai combinar com a cor da parede e do teto

George coloca o boné de volta e sai da sala. Provavelmente ele não vai gostar muito desse serviço, mas não tenho culpa. Precisava daquele piso de outra cor.

Olho para cima e vejo o lustre pendendo no teto, algumas teias de aranha são visíveis nos pequenos arcos dele. Suspiro e olho para o desenho que eu fiz desse salão.

O plano é que seja uma área de tranquilidade

Preto para parte do teto e azul turquesa nas paredes.

Uma mescla perfeita para um local de relaxamento. Insiro a foto de um lustre de cor dourada e avalio a imagem.

Isso não ficou ruim.

Coloco o tablet de lado e olho para cima de novo, tomando uma decisão caminho até o salão principal e encontro as pessoas que eu queria.

- Tem como me ajudarem um minutinho? – os rapazes olham para mim esperando e eu explico o que eu quero.

..............................

Quinze minutos depois, estou com o lustre sujo a minha frente na área de limpeza. Pego vários baldes com água e sabão e cato uma bucha.

Tiro a jaqueta e a penduro em um canto limpinho antes de me sentar no chão e começar a lavar aquele treco antigo.

Passo a mão em alguns lugares e sinto uma inscrição no meio da sujeira, passo água e esfrego me dando o suficiente para ver a inscrição.

Século XVII?

Sorrio quando vejo que estou tratando uma relíquia e começo a trabalhar.

.............................

- O que está fazendo?

Viro rapidamente a cabeça para o lado e vejo Caleb Campbell parado na porta com os braços cruzados por sobre o peito.

Terno feito sob medida

Cabelo preto arrumado

Pele seca, e perfume exalando na sala

Ok, eu estava o contrário disso tudo. Meus cabelos estavam amarrados em um coque em cima da cabeça e minha blusa preta estava colada no corpo por conta da água e do sabão. Não vou nem comentar que minha pele estava suada.

Fazia quanto tempo que estivera ali?

5 minutos? Uma hora?

- Davies? – pisco os olhos voltando ao presente e faço uma careta mínima quando percebo do que ele me chamou.

- Não me chame de Davies

- Porque não? – reviro os olhos e esfrego um pouco mais, ele percebe que eu o ignorei e dá alguns passos para dentro do quarto – Tudo bem, Âmbar então

Sinto ele se aproximando e finjo não perceber, coloco mais sabão e esfrego um cantinho de dentro com a esponja.

- Porque está fazendo isso?

- Porque acho que vai ficar bonito no salão

- Salão?

- Exato

- E não podia comprar outro? – olho cansada para ele, e ele levanta o olhar do lustre me observando – O que?

- Você é do tipo de que quando algo está quebrado vai lá e joga fora antes de ver se pode ser concertado?

- Isso é algum tipo de metáfora em que se tem uma resposta certa? Porque não sou bom nisso

Ele fala com tanto pânico que eu olho para o outro lado para ele não ver o meu sorriso.

Tiro uma pontinha de sujeira com a unha e continuo esfregando outra parte.

- Posso ajudar?

Olho surpresa para ele que dá de ombros e começa a tirar o paletó e puxar as mangas da camisa para cima.

- Acho que preciso de algo que não seja burocracias

- E acha que trabalhar comigo vai ajudar em alguma coisa? Sério? Comigo?

Ele ri e pega uma esponja esfregando uma parte na minha frente, suas mãos grandes em torno da esponja pequena é uma cena um tanto hilária. Então desvio o olhar e continuo esfregando.

..............................

- É isso aí – eu falo olhando para a minha obra prima, o lustre não mais sujo, está brilhando com a luz da lâmpada, o dourado ganhou de novo cor e os pequenos arcos ficaram lindos com a cera especial que eu passei – Viu? Não era preciso comprar outro

- Você estava certa, afinal

Sorrio vitoriosa, e ele balança a cabeça se levantando e apreciando o trabalho que fizemos em conjunto

- Mas não se exiba muito, fica feio

- Dane-se vou curtir o momento

- Vai curtir estando assim? – ele aponta para a minha camisa molhada e para minha calça suja de terra e pó – Parece que você andou se pegando com a sujeira ou algo assim

Bufo e bato as mãos na calça tirando a metade da sujeira, mas desisto quando vejo ela grudar ainda mais. Olho para ele e vejo a camisa branca ficar cinza, dou um sorrisinho e aponto para ele.

- Você está bem pior

Ele olha para baixo e solta um suspiro desanimado, olhando para mim ele arregala os olhos e fixa o olhar em algo no meu cabelo.

- Fica parada – ele sussurra e eu paraliso

- O que foi?

- Tem uma aranha enorme no seu cabelo

- Tira, tira – finjo arregalar os olhos e estremeço levemente para dar mais um ar dramático. Caleb ri baixinho e balança a cabeça.

- Estava brincando com você – faço um biquinho e faço uma expressão de raiva junto com tristeza

- Como você pôde? – eu grito – Eu tenho alergia a aranhas sabia? Quase morri um dia, por conta disso

Caleb para de rir e se aproxima antes de eu dar um passo atrás e sair do seu alcance.

- Desculpe, eu não....

- Te peguei bobão – falo rindo e cato a minha jaqueta, ele olha para mim e revira os olhos quando percebe o que eu fiz.

- Mentirosa

- Babaca – eu devolvo e vou saindo para a saída, mas paro quando ele me chama de novo.

- Vou te dar uma carona – Caleb diz e eu nego com a cabeça, abrindo a porta da sala.

- Não vou a lugar nenhum com você, uma vez já basta

- Prefere pegar um taxi a ir comigo?

- Prefiro qualquer coisa a ir com você – respondo e saio da sala, mas escuto a voz dele no prédio em silencio.

- Vou fazer você mudar de ideia quanto a isso

- Você pode tentar sr. Campbell – respondo de volta e saio o mais rápido possível dali.

(Des) EncontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora