Capítulo 5 - Coisas Quebradas

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- Abre a portaaa – reviro os olhos e corro até a porta do apartamento colocando a caneta na boca enquanto tento abrir – Âmbar?

- Estou tentando abrir – minha voz sai meio abafada pela caneta

- Sabe, não achei que precisasse instruções. Você só tem que girar....

- Cale a boca Flora

Forço um pouco mais o trinco e solto um suspiro quando ela abre, sorrio para Flora, mas paro quando vejo o trinco de ferro na minha mão.

- Puta merda

- O que.... - Flora abaixa o olhar para a minha mão e começa a rir alto – Tinha que ser você a quebrar alguma coisa – ela entra ainda rindo e se volta para mim ainda paralisada na frente da porta - Estava ficando surpresa por não ter quebrado nada essa semana.

Olho tristemente para o trinco e fecho a porta tentando encaixar de novo, será que se eu passasse cola funcionaria? Forço de novo para frente e o trinco cai na minha mão. Bufando deixo a porta do jeito que está e vou até a sala vendo uma Flora ainda risonha.

- Quer parar de rir? Você sabe que a gente está ferrada

- Não seja dramática, é só um trinco

- Na verdade, eu quebrei o botão do chuveiro – eu falo baixinho mordendo a tampa da caneta

- O que? – Flora arregala os olhos e corre para o banheiro – Puta que pariu, ele vai nos matar

Me jogo no sofá fechando os olhos enquanto penso nas consequências. O senhor Fulton é o dono do prédio em que moramos a mais de seis anos, e nenhum dia se passa em que ele não nos lembre do que já quebramos no nosso apartamento minúsculo.

A maioria das coisas quebradas foram obras minhas

Não tenho culpa....

Talvez um pouquinho

- Sabe, eu acho melhor a gente fugir – Flora se joga ao meu lado colocando a cabeça em meu ombro – Tipo, para as Bahamas

- Ótima ideia – suspiro enquanto me acomodo melhor no sofá ao lado dela – Talvez eu possa ir na sua mala quando você for na lua de mel

Sinto o sorriso de Flora crescer enquanto eu mesma já estou sorrindo. Ela levanta a cabeça e seus cachos pretos e luminosos invadem sua visão fazendo com que ela os coloque para trás com impaciência antes de arregalar os olhos animada.

- Dá para acreditar que em alguns meses eu serei a senhora Thompson?

- Não mesmo – pauso por um instante e falo em tom divertido – Será que Frank sabe no que está se metendo?

Flora me dá um soco no braço e eu resmungo chateada alisando o local machucado

- Você é muito agressiva

- E você é insuportável

- Só com você – eu falo e me esquivo de um novo soco, coloco a caneta na mesinha a nossa frente e me inclino no sofá sorrindo para ela – Como foi a viagem?

- Um tédio total, não me deixaram entrevistar quase ninguém importante – ela resmunga e se joga no encosto do sofá – Me pedem para dar o meu melhor, mas como eu posso fazer isso se as pessoas não cooperam?

- Acho que eu entendo um pouco. Eu não iria querer que alguém me gravasse enquanto estou tentando nadar pelada – eu falo ironicamente e recebo um beliscão na perna – Aí Flora, isso doí

- Bem feito, você sabe muito bem que eu fui fazer uma entrevista sobre poluição nas praias e não era uma praia de nudismo

- Você que acha isso. Juro para você que vi uma mulher passando nua atrás de você na televisão

(Des) EncontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora