Capítulo 24 - Fear

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Teagan Croft P.O.V

Tinha o coração aos saltos ainda, mas pelo menos aprendera a disfarçar por mais que enquanto ele se vestisse não tivesse que o fazer, preferia manter a minha postura de pessoa indiferente às suas provocações de evidente duplo sentido, a ponto de conseguir controlar-me sem me virar para o fitar, morta de vergonha por dentro só com a hipótese de ser apanhada, era impossível que o meu rosto não assumisse um tom idêntico ao do seu capacete se tal ocorresse. Já bastava o momento de há minutos em que perdi o controlo por algo tão estupido como vê-lo sem camisola, como se, quando gravávamos em épocas mais quentes, não tivéssemos passado horas dentro de piscinas, ou como se ele não passasse a vida a postar fotos em tronco nu no Instagram.

Foi o facto de ter sido apanhada de surpresa, foi efeito do espanto, só pode ter sido!

- Estás a pensar no quê? - e é claro que mais uma vez tinha que o fazer, surgindo a meu lado com a cara coberta pelo bem dito elmo apesar de ainda nem se encontrar pronto, fazendo os meus batimentos, que ainda nem estavam completamente recuperados, dispararem a uma velocidade estupida.

- Eu vou matar-te um dia destes sabias! - exclamei dando-lhe um murro no braço antes de abrir a porta do trailer, encolhendo-me contra mim própria mal o ar gélido nos atingira.

- Se a memória não me falha, não é suposto ser a Rachel a matar o Jason, mesmo que ache que ela se esqueceu um bocadinho disso na segunda temporada. - brincou mostrando uma vez mais o seu rosto e os cabelos castanhos ainda mais revoltos agora - Porra, isto protege do frio, acho que vou mantê-lo!

- E maquilham-te como, posso saber? - indaguei sorridente, impedindo-o de realizar o que pretendia, alcançando o objeto de modo a que os nossos dedos se tocaram por um mero acaso, senti aquela faísca, a faísca que se vê nos filmes clichés e de que tenho fugido a sete pés, portanto, ainda que não o tenha soltado, afastei as minhas mãos, direcionando divertida os olhos para os seus como se não fosse nada comigo - Além disso ias deixar-me a sofrer sozinha, achas que isso se faz?

- Não, claro que não. - declarou no mesmo tom irónico por mim usado, porém desistindo, o que eu não esperava é que levasse a mão à peruca roxa que eu não retirara, desalinhando-lhe os fios.

- Curran Walters eu juro, tu não chegas vivo ao final do dia de hoje! - vociferei, pronta a espancá-lo, o pessoal dos figurinos e da produção haviam de me crucificar...

O pior é que, é claro, sendo eu, passem os anos que passarem, ei de continuar sempre a mesma desastrada, logo, ao virar-me encalhei nos seus pés e com as botas de ligeiro salto da Rachel perdi o equilíbrio, como se não bastasse ter ficado com a peruca num caos agora ficaria com a roupa também, tenho tanto que aprender a estar quieta...

- A tua sorte é que não sou grande fã do karma. - murmurou enquanto me alcançava, colocando apenas um braço em torno da minha cintura, sem deixar cair o seu capacete e antes que a gravidade me atirasse diretamente para o chão, mergulhando nos meus olhos e eu nos seus, possuindo um meio sorriso pacato, singelo, afinal não precisava de mais nada para ser encantador.

Queria fugir de tão alterado que se encontrava o meu psicológico, queria continuar descontraída, despreocupada, até um bocadinho insensível por me prender tanto à nossa amizade à qual vim impondo uns limites durante estas semanas, todavia estava-lhe demasiado grata, salvou-me de um grande problema, apesar de ter sido após criar outro...

- Obrigado, se caísse ainda me magoava ou estragava alguma coisa com a sorte que tenho! - disse abraçando-o de súbito, um abraço rápido pois o meu coração pulsava com uma tamanha força que temia que o nosso contacto físico o levasse a sentir isso - Vá, vá vai despachar-te, daqui a pouco mandam alguém à nossa procura e tenho que ir andando, ainda para mais com o "cabelo" neste estado! - afirmei ao afastar-me, morta de constrangimento, correndo na direção das portas que me separavam do set onde a maioria do pessoal se encontrava, uns a gravarem, outros a observarem, retocando maquilhagens e eu que por ali entro, no meio de tanta gente que me conhece há tempo suficiente para ler nas entrelinhas a expressão nervosíssima estampada no meu rosto. 

Sim, onde fora parar o controle? Sim, para quê tanto espalhafato? Porque tenho medo, o medo que na época em que o via como uma grande paixão platónica não tinha, o medo de estragar tudo a qualquer momento, o medo de esta barreira de amizade, a qual nos tem feito tão felizes, seja demasiado frágil, que desejemos ultrapassá-la ambos sem ponderarmos as consequências, ou pior, que eu seja a única de entre nós dois que sente algo muito mais profundo...

Em frente ao espelho da sala por onde adentrei, respirei fundo ao tentar recolocar as madeixas no lugar, quando na realidade o que queria era recolocar-me a mim em ordem, ser capaz de parar de pensar de mais, ao menos aproveitaria em vez de procrastinar, aterrorizada como se me bastasse um passo em falso para descambar, o que não era mentira afinal...

- Merda, merda, merda! - a segunda pessoa a fazer-me saltar com um susto foi Ryan naquele momento, que mais parecia  ter vontade de destruir a porta à pancada pela tamanha força com que a abriu e fechou - Teagan... Desculpa... - balbuciou assim que se deu conta da minha presença. 

See you againOnde histórias criam vida. Descubra agora