See you again

Capítulo 2 - Memories

...Horas antes...

Conor Leslie P.O.V

Muito pouco me faltou para recusar voltar a ser a Wonder Girl, não me interpretem mal, amo aquela personagem, amei e amo o facto de que esta se tornou parte de mim contudo essa não é a única coisa que devo ter em conta, a vida é feita de escolhas as quais nos influenciam eternamente e as minhas escolhas passadas chegaram a fazer-me ponderar a fantástica hipótese de rever um dos meus grupos favoritos de pessoas, fazendo uma das coisas que mais adoro, atuar, representar uma personagem como a Donna Troy.

Durante a gravação da última temporada cometi um deslize, deixei-me levar pelo clima de um dia mais deprimente nos braços de um grande amigo... Amigo esse que verei mal o avião em que me encontro pouse no aeroporto de Toronto, na época destruímos a bela conexão por nós partilhada e a distância tornou-se num calmante para aquela raiva que nasceu dentro de mim em relação à fraqueza de ambos, agora, agora com os olhos postos no ecrã do meu telemóvel vendo os vídeos que outrora gravamos restam unicamente as saudades, com as quais sinceramente não sei se saberei lidar, até que ponto a quantidade de tempo em que cada um seguiu com a sua vida nos tornará fracos uma vez mais, levando os nossos lábios a perderem-se num desejo mútuo?

*Flashback on*

As lágrimas encheram-me de forma dramática a vista quando pela quinta vez seguida me esqueci da fala.

- Peço desculpas tenho que ir apanhar ar... - correndo porta fora de cabeça baixa, coisa que não me recordo de algum dia ter feito.

Sentir raiva de mim própria era uma das coisas que mais detestava, fraquejar em frente aos outros também, nunca foi um hábito exteriorizar e dar a conhecer as minhas emoções, talvez seja essa a principal razão de os momentos emotivos serem os mais difíceis de gravar para mim, contudo a noção de inutilidade ou o simples facto de prejudicar outros, em especial aqueles com que me importo, leva-me a perder o controlo.

Do lado de lá da porta de trás do set, permiti-me chorar, permiti que o meu rosto fosse alagado pela raiva e frustração que me era impossível guardar no peito, era culpa minha se as gravações se atrasassem, era culpa minha se o dia de hoje não valesse de nada! Não poderia dar-me a tamanho luxo, não estava nesse direito...

- Conor! - a voz do Ryan levou-me a levantar de súbito a cabeça instintivamente, ignorando o estado lastimável do meu rosto manchado pela maquilhagem borrada - Oh, calma, que se passou?
- Nada, uma parvoíce, está tudo bem. - apressei-me a declarar de coração acelerado mal me dei conta que lhe mostrava o meu lado sentimental, inseguro - Vamos voltar lá para dentro, há trabalho a fazer!

No preciso segundo em que posei a mão no puxador, pronta a usá-lo para aquilo que foi feito, aquela sua mão quente e reconfortante segurou o meu pulso com delicadeza, porém firmemente.

- Conor... - chamou e limitei-me deslizar o olhar na sua direção, maldita a hora, o carinho e conforto localizado nos profundos olhos castanhos inteiramente vidrados nos meus impediram-me de manter a frieza.

- Desculpa-me por ser uma parva... - balbuciei segundos antes de desabar nos seus braços onde me senti uma frágil adolescente pela primeira vez nos últimos anos, ao mesmo tempo que uma segurança inexplicável envolvia o meu corpo, como se de algum modo nada fosse capaz de me atingir junto dele como se a conexão estrondosa que com o passar dos anos fomos criando culminasse toda naquele momento de incomum carinho.

- Está tudo bem ok? Ter dias maus é normal, acontece aos melhores. - dizia este enquanto deixava as mãos escorregarem pelos meus cabelos que acariciava antes nos afastarmos não mais que uns centímetros, para que secasse com os polegares o meu rosto inundado, borrado e vergonhoso que insistira em segurar entre as duas mãos.

- Os melhores são capazes de disfarçar e fazer o que lhes compete... - ripostei tentando afastar-me - Já eu estou simplesmente um caos.

- Tu estás linda como em qualquer dia sim? Para de te martirizar!

- E-eu linda...Que se passa contigo? - ri constrangida, virando-lhe costas pois sentia que o meu rosto fervia e o seu toque rapidamente o sentiria - Ryan somos amigos, podes dizer-me quando estou uma desgraça, não irei propriamente matar-te ok?

Relutante esfregava o meu próprio braço, incerta sobre aquilo que ali se passava, nós tivemos desde o inicio uma amizade forte, uma confiança incrível, mas nada além disso...Então, porque está o meu coração a bater tão rápido agora?

- E se eu realmente não achar que estás uma desgraça? Porque haveria de mentir-te? - exclamou, calmo como sempre fora, após aquela fase de tenso silencio levando-me a corar ainda mais contudo dando-me inesperadamente a coragem para que os nossos olhos se encontrassem sem todo meu corpo estremecer como se um furação avassalador desse voltas e voltas dentro do meu peito.

- Ryan o que é que... - quando dei por mim as palavras faltaram-me antes mesmo de terminar a frase, afinal para minha surpresa os nosso rostos estavam tão próximos que as nossas respirações descompassadas eram dos mais audíveis sons.

- O que é que se está a passar connosco? - exclamou murmurando parecendo diminuir progressivamente a escassa distancia que nos separava.

- Se soubesse garanto-te que responderia... - quase de modo inconsciente deixei que a tentação, que a atração tomasse conta das minhas ações, do meu cérebro, como se me roubasse a vontade própria, mal dei por mim já as nossas bocas se colavam uma à outra, parecendo que deste beijo dependiam as nossas vidas, o meu coração não era mais que um cavalo de corrida desesperado, até uma forte dor o atingir.

Aquela chama que ardia entre nós dois apagara-se por um balde água gelada de medos o qual me levou a separar-nos, ofegante.

- Isto, isto não podia ter acontecido, não contigo... - gaguejava trémula.

- Conor mas foste tu que...

- Eu sei que fui, só não sei porque! - vociferei entrando de rompante, deixando para trás.

*Flashback off*

"Deixei-o para trás tempo de mais"- pensava de olhos postos nas nuvens que iam ficando para trás, conforme o avião descia, preparando-se para aterrar.