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    Ao ouvir o despertador tocar, sinto aquele sentimento de preguiça de quem não quer sair da cama, principalmente pelo facto de ser o primeiro dia de uma semana cheia de problemas na agência funerária, mais os apoios de história que dou a alguns adolescentes. Não reclamo do meu trabalho, apenas é exaustivo e gostaria de ter mais tempo para poder fazer algo que me descontrai-se mais e fosse menos desgastante.
Vejo a luz a passar pelas brechas da minha janela, significava que é a hora de começar o dia.

    Ao me olhar no espelho consigo ver o quão os meus olhos parecem inchados por não estar a conseguir ter as minhas noites de sono completas. Não tenho problemas em dormir, o tempo que gasto a criar a minha agenda para os dias seguintes é que é imenso, principalmente com marcações de aulas de apoio para dar aos meus alunos de forma que todos consigam estar presentes, mas nem sempre é uma tarefa fácil, porém é muito mais agradável do que estar a levantar caixões com pessoas sem vida nele.
Lavo a cara para ao menos tentar não parecer tão nojenta e termino as minhas higienes. Pego nas chaves e saiu do meu apartamento.

     Claramente ia chover, o céu não estava nada agradável mas sinceramente não me importo. Como ainda não havia tomado o café-da-manhã, HuTao, uma amiga próxima e colega de trabalho, me chamou para uma lanchonete já muitas vezes frequentada por mim e por ela a caminho da agência, para apenas não irmos de estômago vazio.

     - Ás vezes gostava de entender o porquê de você nunca chegar no horário certo.- o tom dela era de alguém que parecia ter acordado à 5 minutos, e de quem estava pronta para reclamar da vida.

     - Porque você não tira logo esse chapeuzinho?! Você usa ele à anos e nunca se livrou dele, missão quase impossível sabe? Mais a sua altura fica parecendo uma criança.- começo a rir e a zombar dela, mesmo para a deixar em total irritação. Ela odiava quando dizia algo em relação a sua altura, honestamente já me habituei, então não ligo mais para o que ela irá falar em seguida.

      - Mano, eu juro por Deus, que ele te lance uma maldição e que você cale essa sua boca para sempre. Faça logo o seu pedido estamos ficando sem tempo, e eu ao contrário de você não me atraso nunca.- eu assenti e dei um sorrisinho de lado, ela nunca se atrasava era facto e cumpria sempre o seu trabalho bem e a tempo, a chefe até mesmo já pensou em lhe dar o cargo quando ela se reforma-se, então ela meio que de vez em quando  me atira na cara essa mesma informação como se eu me importasse tanto assim. Tem dias que ela é meio iludida.

Fiz o meu pedido, como sempre peço panquecas com recheio de mel e um chá verde para aliviar os estreasses, e a garota pede umas 3 fatias de bolo com sabor a morango e um copo de café com leite, ela pode até ser baixinha mas come imenso.

       Ao terminarmos fomos na caixa de pagamento e como mais um dia comum na minha vida, esqueci a carteira no apartamento. Tornou-se tão vulnerável para mim que eu já nem sinto a falta dela, tenho um amigo que sempre me paga as contas em casos como este, nunca lhe impliquei para fazer tais atos, mas ele sempre insistia em os cometer.

        Ela me olhou e logo entendeu a situação de que estávamos passando, rivirou os olhos e pagou a minha conta.

      - Não entendo porque você trabalha se não se importa com dinheiro...vive como?! Você ainda por cima mora sozinho não tem nem como alguém o ajudar nessa parte.

       - Contas da casa é impossível eu esquecer. Se esquece-se já estaria na rua à muito tempo. E você me conhece não é mesmo?- digo num tom normal, e começámos o caminho para a agência que por sinal era a dois prédios de distância.
Ao chegar lá, observámos logo uma imensidão de pessoas, seria provável que estivesse a acontecer o enterro de alguém, então apenas chegámos perto o suficiente.

Me Desculpe Onde histórias criam vida. Descubra agora