capítulo 8 Com licença, onde fica o setor de informações?

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   Terem sido atacados pela mula sem cabeça deu um nó em suas cabecinhas. Mas serviu para mostrar que naquele lugar tudo era possível. Diante dos perigos da noite, preferiram ficar dentro daquele círculo mágico e dormir um pouco. Tinham mantas e comeram um pouco antes de se aninharem uns nos outros e dormirem.
  – Sabe o que isso me lembra? –perguntou Lorena, com um sorriso.
  – Hum? – murmuraram os outros dois.
  – Loudun!...
    E cada qual ficou a sós com a memória da cidade que mudou suas vidas e definiu quem se tornaram.   

   Quando a manhã despertou Lorena, Marcel já estava acordado e preparando os cavalos. Sentaram-se para comer alguma coisa enquanto tentavam espantar o sono. A fadinha tinha folhas no cabelo que Marcos tirou com cuidado.
  – Sonhei com Loudun hoje! – disse Marcos, pegando um pedaço de pão.
  – É mesmo? – espantou-se Lorena. – Que coincidência! Eu também!
  Marcel não disse nada e os outros dois continuaram falando de seus sonhos.
  – Sonhei que tínhamos voltado! – disse Marcos. – Só que era como se já soubéssemos de tudo o que aconteceria depois daquilo tudo e tínhamos que decidir se mudávamos alguma coisa ou não.
  – Nossa! – comentou Lorena, partindo um pedaço de bolo entre ela e a fada. –Que intrincado! Eu não me lembro bem. Sonhei apenas que vagava pelas suas ruas no meu cavalo.
  – E você, Marcel? – perguntou Marcos. – Sonhou com alguma coisa?
  – Não me lembro. Bem, melhor irmos!
  E então levantaram acampamento, seguindo na direção da cidade que lhes indicaram onde poderiam ter maiores informações sobre compra e venda de escravos. Pouco antes, porém, algo inusitado aconteceu.
  – AI, MEUDEUSOQUEÉISSO???!!!!! – berrou Marcos horrorizado.
  Marcel e Lorena gritaram imediatamente, assustando também a menina fada que também gritou. Numa reação em cadeia, a criatura de um pé, um olho, uma mão e uma orelha que estava diante deles também gritou, um grito meio desafinado e demente, com o único olho esbugalhado.
  – MATA!!! MATA!!! – gritava Marcel, tentando pegar uma besta.
  – VAI EMBORA!!! XÔÔ! – gritava Marcos, jogando pedaços de pão contra a criatura.
  A menina fada começou a chorar, Lorena continuou gritando, e quando Marcel finalmente conseguiu pegar a besta, a criatura assustada saiu pulando para dentro da floresta, saindo de vista. Marcel se virou para os outros, ainda de arma em mãos.
  – Eu odeio esse lugar!

   ****

   A manhã ia alta e pássaros de todas as cores coloriam as árvores, mas Bianca não notava. Ela mantinha o passo firme, concentrada no caminho. O quanto antes chegassem ao castelo de Frabatto, mais rápido teria soluções pra todos os seus problemas. Porém, uma coisa a intrigava.
   Se Frabatto teve condições de chegar até ela na noite anterior, por que não fazia isso de novo? Afinal, era meio óbvio que eles precisavam da ajuda dele.
   – Ele deveria ter vindo até nós!
  Bianca nem notara que pensara tão alto, até observar os enormes olhos de Analice nela.
  – Quem? Zac?
  – Não! Frabatto! Se ele sabe que precisamos dele, por que não veio até nós?
  – E por que viria? – perguntou Bran com toda naturalidade.
  – Ué! Porque precisamos dele!
  – Não é razão suficiente – respondeu friamente o elfo.
  – Bran tem razão – concordou Analice.   – A menos que ele seja o Super Homem.
  Vendo que Bianca continuava confusa, Bran parou a caminhada para lhe explicar.
  – Não é obrigação de ninguém ajudar quem quer que seja. Ao menos, não aqui.
  – Mas isso é horrível! No meu mundo, todos devem ajudar quem precisa! – retrucou Bianca.
  – Aqui, não! Aqui ajuda é algo que se merece.
   A ideia de que ela não era merecedora de ajuda fez Bianca parar um pouco. Mais do que isso, a fez se sentir como uma menina mimada, achando que todos deveriam se mover para ajudá-la a conseguir o que queria. Bianca se sentia um jiló. E isso a fez ficar calada pelo resto daquela manhã.
  
  
   O clima mudou na parte da tarde. Ventos mais frios sopravam do norte e nuvens cinzentas cobriram os céus. Ainda não era noite, mas escureceu rapidamente. A floresta tinha terminado e agora se encontravam em um descampado, onde uma estrada de pedras surgia sob seus pés. Uma série de seres luminosos azulados surgiu diante deles, em fileira.
  – O que é isso? – perguntou Analice.
  Bianca se lembrou que já vira aquelas fadas antes. Elas simplesmente ficavam sentadas na beira da estrada, de ambos os lados, observando quem passava em silêncio. Respondeu o que Zac dissera a ela.
   – Um tipo estranho de fadas...
  Quando passaram pela última, a luminescência desapareceu. Olharam para trás e não havia mais ninguém. Foi então que Bianca lembrou que estrada era aquela.
  – Ai, meu Deus!
  – O que foi? – perguntou Analice, já assustada.
  – Essa é a estrada do Jack, o Acorrentado!
  Bran arregalou os olhos e paralisaram por alguns momentos, esperando algum forte pisar, ou o chão tremer, ou o gemido das cabeças que Jack trazia na cintura. Mas nada aconteceu. Apenas o vento continuava soprando frio na noite escura.
   – Talvez ele esteja de folga hoje... – sugeriu Bianca.
  Continuaram seguindo o caminho, com cautela e atenção. Uma coisa era certa. Estavam mais próximos do castelo de Frabatto.

a canção dos quatro ventosOnde histórias criam vida. Descubra agora