capítulo 43 Reencontros e despedidas

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  Uma vez que o gigante caíra inconsciente, a turba foi ao delírio, empolgada com tamanho espetáculo. Jonas gritou por Lorena que o viu numa das saídas da murada. Um grupo de homens armados se aproximava pelo outro lado, provavelmente para impedir que os escravos fugissem. Lorena avisou os outros com um assobio e todos correram para onde Jonas estava. Leanan voou e levou Lorena para cima. Pé de Vento levou Marcos e Marcel. Urbain, como é um exibido, escalou o lugar como se usasse arames de filme chinês em filme de ação.
  Então todos correram, sendo guiados por Jonas que se ocultou sob o manto. Todos eles fizeram o mesmo, passando um manto para Urbain.
– Não contávamos com uma pessoa a mais – disse Marcel, desculpando-se por não ter um manto com capuz para Leanan.
  Ela sorriu.
– Tolinho... Eu não preciso!...
  E imediatamente ela se transformou em uma velhinha bem diante dos olhos deles.
  O lugar mergulhou no caos, com pessoas invadindo a arena para ver o gigante de perto. Começaram a chutá-lo e pisoteá-lo e eles ainda viram quando a mão do gigante começou a se mexer.
– Vamos logo que isso aqui vai pegar fogo! – gritou Marcos.
  Conseguiram correr até a saída, ouvindo o barulho atrás deles. Jack se levantara e não acordou de bom humor. Começou a esmagar pessoas, jogá-las longe e até comeu algumas. Irritado, ele começou a quebrar as muradas e a destruir as arquibancadas atrás de mais vítimas. Tentaram contê-lo com flechas, mas não adiantou.
  Já estavam a vários metros da arena quando a viram pegar fogo.
Pessoas corriam atarantadas, tentando escapar por todas as saídas.
– Viu? Eu disse que isso ia pegar fogo! – falou Marcos.
  Assim que se viram em um beco mais deserto, Jonas tirou o manto.
– Tivemos sorte! Por pouco, os...
E não conseguiu terminar, porque Urbain pegou seu pescoço e o imprensou contra a parede. Os outros tentaram segurá-lo.
– Ele é um mago que compra escravos para experiências!!! – gritou Urbain, continuando a apertar o pescoço do homem. – Eu o vi no mercado dos escravos comprando uma mulher e uma criança!
– É um disfarce! É um disfarce! – gritavam os outros. – Ele salva escravos!
  E Urbain finalmente foi retirado de cima do homem, e finalmente ouviu o que os outros estavam falando ao mesmo tempo.
– Ele compra escravos mais fracos para salvá-los! – explicou Lorena.
– Ele nos ajudou a achar você!
  Urbain ainda parecia incrédulo, mas não havia muito tempo para maiores explicações.
– Temos que ir! – disse Jonas, com a voz meio rouca por causa do estrangulamento.
  Eles correram por ruas pouco movimentadas, o que era muito difícil, pois a cidade mergulhou num caos, com pessoas e seres encantados correndo para todas as direções. Cheiro de fumaça podia ser sentido a quarteirões da arena e cinza era levada pelo vento. Mas isso não era o pior!
– La vache!!! – disse Urbain, que acabava voltando ao francês em situações limite e aquela era, sem dúvida, uma situação limite.
  Pela cidade, Jack o acorrentado, corria, pisoteando pessoas e destruindo o que podia em seu caminho. Leanan, que voltara a ser uma mulher bonita sem asas para não chamar muito a atenção, se pronunciou.
– Que ele destrua tudo! Essa cidade não presta!
  Eles continuaram correndo, se afastando do epicentro da confusão, até que finalmente chegaram em um bosque. Jonas parecia saber para onde estava indo e eles o seguiram, até que avistaram uma bela casa onde crianças brincavam e uma mulher os observava da porta. Assim que se aproximaram, as crianças, algumas encantadas, outras humanas, correram para Jonas que as abraçou. A mulher veio se aproximando com um sorriso. Urbain sentiu um amargo na boca ao lembrar-se de Eileen.
  E seus olhos se arregalaram de surpresa quando ele ouviu a vozinha chamando seu nome.
– Ban! Ban! Ban!
  Correndo na direção dele com suas asinhas pequenininhas, ele viu Eileen sem acreditar. Correu na direção dela e se abraçaram. Ele não segurou as lágrimas e quis vê-la melhor.
– Eu achei que você tinha morrido, meu anjo!
– Eu fugi!
  Ele não falou, ainda sem palavras por vê-la diante dele.
– Pela janela! – explicou ela, que achou que ele não tinha entendido.
  E então o olhar dela foi atraído por outra coisa.
– Mamãe?...
  Urbain olhou para trás e viu Lorena parada, também com um olhar surpreso.
  – Mamãe!!!! – gritou a fadinha, pondo-se a correr na direção de Leanan Sidhe.
Leanan estava atônita, olhando a menina, e a recebeu nos braços quando ela saltou. Suas asas se abriram e brilharam juntas. Urbain se levantou, aproximando-se de Lorena. Ambos estavam desapontados. De alguma forma, queriam que Eileen ficasse com eles. Urbain pegou a mulher pelos braços, fazendo-a olhar para ele.
– Você veio por mim... – disse ele. – E me salvou de novo.
  Ela sorriu, os olhos cheios de lágrimas.
– É um velho hábito...
  E se beijaram.
 
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a canção dos quatro ventosOnde histórias criam vida. Descubra agora