capítulo 12 O que nos muda

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  Bianca acordou com um sentimento de urgência que a fez abrir os olhos com o coração saltando. Percebeu que ainda estava muito cansada, mas não conseguiu ficar na cama. Assim que se recostou na cabeceira da cama, percebeu que Frabatto estava no quarto com ela, sentado numa confortável poltrona preta com um livro nas mãos.
   – Boa tarde! – disse ele com um sorriso. – Dormiu menos do que eu esperava!
  Bianca piscou algumas vezes, tentando acordar seu cérebro.
  – É mesmo? – balbuciou ela com uma voz que não parecia a sua.
  Ela pigarreou antes de falar de novo.
  – Ainda estamos no mesmo dia? – voltou ela, preocupada. – Porque não podemos perder tempo!
  Ela se sentou rapidamente, procurando os sapatos.
  – Preciso de sua ajuda em mais uma coisa, Frabatto!
  – Lá vamos nós de novo...
  Bianca tinha pressa e não percebeu que estava sendo ríspida, chegando com sua lista de pedidos para o mago como se ele fosse algum balconista de mercadinho.
  – É Zac! Você viu como ele está! Tem alguma forma de fazer com que ele volte? O que eu tenho que fazer? Você tem um mapa? Acho que vamos precisar para...
  – Pare!
  Bianca, que já estava de pé, se virou para ele, confusa.
  – O quê?
  Frabatto se levantou e deixou o livro sobre sua poltrona. Caminhou até ela decidido e a segurou pelos ombros, fazendo-a olhar em seus olhos.
  – Pare – repetiu. – Pare e respire.
  – Mas...
  – Cale a boca. Pare e respire.
  Sem entender, Bianca obedeceu. Parou de falar e respirou profundamente com impaciência, não sentindo mudança nenhuma. Olhou para o mago, aguardando novas ordens.
  – Não está fazendo direito. Não é só parar de falar, mas parar de pensar. Esvazie a mente e respire profundamente.
  Bianca percebeu que se não fizesse direito, ele não a deixaria em paz. Então fechou os olhos, esvaziou a mente e respirou profundamente.Quando abriu os olhos, notou que estava mais lúcida e havia uma outra mudança nela que não conseguia discernir com clareza. Mas algo estava diferente, com certeza.
  – O que você fez? – perguntou ela.
Frabatto a soltou.
  – Nada. Você fez sozinha... – Caminhe comigo.
  Eles começaram a andar pelo castelo onde enormes quadros de moldura dourada mostravam pessoas e paisagens estonteantes. O tapete azul índigo abafava seus passos e nenhum som era ouvido.
  – Você disse que eu tinha mudado... – disse Bianca. – Em que sentido?
  – Sim, você mudou... E não foi para melhor.
  Bianca o olhou surpresa. Achou que era uma pessoa melhor agora, mas quando ele disse isso, percebeu que não se sentia melhor em nada.
  – A Bianca que pisou neste castelo da primeira vez podia ter medo de fantasmas, mas não tinha medo de enfrentar o que aparecesse na sua frente – disse Frabatto, chegando numa grande janela que dava para os jardins, onde fadas que pareciam flores flutuavam graciosamente e flores de formatos bizarros pontuavam árvores.
  – Agora – continuou ele, – você está com medo. E seu medo é tão grande que mudou você. Você não é mais destemida. O que aconteceu?
  Bianca se apoiou no parapeito de pedras brancas da janela com ar triste.
  – Perdi Zac. E foi horrível. Aí voltei para o meu mundo só para descobrir que eu tinha perdido tudo lá também.
  – Mas você teve uma segunda chance, não teve?
  – Tive, mas...
  – Mas o quê?
Bianca franziu o cenho, confusa.
  – Doeu demais perder as pessoas que eu amo! Não posso nem imaginar que eu possa perdê-las de novo! E se eu as perder, como saberei que terei uma segunda chance?
  Frabatto pensou um pouco. Então se virou para ela. O sol batia em seus rostos, aquecendo-os.
  – Sempre vamos perder alguma coisa... – respondeu ele. – Porque na verdade, elas não nos pertencem. Nos são... emprestadas! E nós devemos deixá-las partir quando for o momento. Você precisa aprender a se desapegar, porque o apego está gerando um medo tão terrível que está paralisando você! Quanto mais medo você tiver, mais vai construir as situações que você teme!
  – Tipo O Segredo?
  – Tipo o quê?
  – O Segredo! – tentou explicar Bianca.    – Um livro que fala que tudo o que pensamos atraímos para nós.
  – E é a mais pura verdade! É assim no seu mundo. Porém, aqui, nesse mundo, isso é muito mais perigoso – explicou Frabatto. – Tudo o que você pensar tem mais chances de acontecer nesse mundo, porque tudo aqui vibra na mesma faixa dos pensamentos. Você atrai o que você pensa. Você atrai o que você teme. Você atrai o que você odeia. Se está no seu pensamento, está sendo construído no seu futuro.
  Bianca demorou um pouco para processar todas as informações até
que finalmente arregalou os olhos em terror.
  – Ai, meu Deus!
  – Entende agora por que vi tanta diferença em você? – tornou Frabatto. –A Bianca que conheci tinha medo do perigo real, não do perigo imaginário. E ela sempre esperava o melhor. Por isso ela teve uma segunda chance.
  Ele tocou no ombro dela como um pai.
 – Domine seu medo, minha amada amiga. Ou ele vai dominar você.
 – E como faço isso, quando tenho tanto a perder? – perguntou Bianca.
 – Simples! Concentre-se no que você tem agora!
  Bianca ouviu seu nome e se virou para o fim do corredor de onde surgiam Bran e Analice. Eles se aproximaram e ela sorriu.

a canção dos quatro ventosOnde histórias criam vida. Descubra agora