Epílogo

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~ Arthur ~

                         Cinco meses depois

- Agora é com você, garota. - digo para Ishtar, após ajudá-la a segurar a alça de tecido da sacola com os dentes - Vá lá e faça como combinamos, está bem? Se fizer tudo certo compro dois sacos dos biscoitos que você gosta.

Ishtar abanou o rabo animadamente e correu para o quintal atrás da casa, onde Wit brincava com Tiamat e Modron, que foi como ela nomeou a galinha de penas douradas (era admirável a quantidade de deusas de diferentes tempos e culturas que Wit conhecia).

Lilith se aproximou e miou aos meus pés, como ela sempre fazia quando queria colo. Me abaixei para pegá-la nos braços e cocei atrás de suas orelhas, para controlar meu nervosismo.

Exatamente três dias, duas horas e vinte e sete minutos atrás, Wit e eu tivemos nossa primeira briga. Bem, não fora realmente uma briga, havia sido mais uma discrepância de ideias, mas Wit havia me proibido de beijá-la enquanto eu não concordasse consigo e lhe desse a razão, então, como ela nunca selava seus lábios nos meus, por medo de me deixar desconfortável, eu estava a exatamente três dias, duas horas e vinte e oito minutos sem beijos.

O problema era: Wit não estava certa. Preto não era uma cor e nunca havia sido, não importava que 99,9% da população o considerasse uma cor. Preto era uma não-cor, pois, ao invés de refletir a luz, a absorvia. Wit deveria entender isso.

Todavia, eu estava disposto a concordar com ela e estava disposto a pedir desculpas por ter dito que seus olhos eram incolores, desde que eu pudesse voltar a beijá-la.

Acontecia que, até este momento, eu não havia reparado no quanto eu estava dependente e acostumado a lhe dar selinhos, seja como forma de despedida (isso incluía ir de um cômodo a outro), seja por algum momento fofo ou seja simplesmente por querer.

Foi assustador, no início da semana, quando eu saí do estúdio para ir ao quarto, sem nenhum motivo aparente, só para vê-la ensaiando para a apresentação da peça do teatro, que seria amanhã, sábado, e deixei minha tela de lado para repassar com ela todas as falas que ambos já sabíamos de cor.

Caminhei até a porta e me encostei no batente a tempo de ver quando Wit se abaixou na frente de Ishtar para pegar o pacote de sua boca.

Ela abriu a bolsa e retirou a tela pequena que eu havia pintado madrugada passada, quando eu não estava conseguindo dormir porque a cama parecia ser grande demais para uma só pessoa.

Na tela estava uma cena que eu havia visto no mês passado, quando nós fomos almoçar na casa das minhas sogras e eu a encontrei em seu quarto, sentada com todas as suas filhas em uma rodinha no chão, pedindo desculpas por ter ficado três dias inteiros longe (ela estava na minha casa) e sem falar com elas.

Depois desse dia concordei em deixá-la trazer três animaizinhos por vez para passar o dia conosco. Eu ainda não me sentia preparado para lidar com todos de uma só vez por mais de alguns minutos.

Wit sorriu e passou o indicador delicadamente pelo quadro antes de me notar parado na porta. Ela levantou-se do chão e caminhou até mim, parando com seu nariz a poucos centímetros do meu.

- Se quiser me beijar, por favor, faça isso agora. - ela diz e eu o faço. Encosto meus lábios nos dela com força enquanto minha mão sobe instintivamente para tocar nos piercings de sua orelha.

Lilith mia e se remexe em meus braços, fazendo Wit se afastar de mim. A gata dá uma patada no peito da dona antes de pular do meu colo. Wit coloca o quadro no pequeno armário suspenso perto de onde estamos, ao lado do meu diploma, e torna a se aproximar. Ela sorri e fecha os olhos, ato que dizia que eu podia beijá-la.

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