Capítulo 32 - Presente

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Eu não gostava de pensar nos ciclos da vida mesmo que acreditasse neles, porque da última vez que eu havia pensado sobre isso fiquei um ano inteiro fazendo fisioterapia. Mas estava acontecendo tanta coisa nessa última semana que eu simplesmente não conseguia evitar de pensar que estava iniciando uma nova fase da minha vida e deixando outro ciclo para trás.

Léo, Pedro e eu havíamos feito compras em um brechó no dia anterior e passamos a tarde conversando e matando tempo pela cidade. Eu contei a eles que estava namorando com Arthur, Pedro assumiu que também estava em um relacionamento sério com Gabi e Léo anunciou o que o namorado viria visita-lo e que ele estava extremamente nervoso e animado, já que esse seria o primeiro encontro físico deles.

Pedro também contou que havia se mudado para um Kitnet barato, mas muito mais confortável e higiênico do que a pousada onde ele estava hospedado. Disse também que estava se dando bem no novo emprego (professor de história em um cursinho), que havia trancado o curso de advocacia da faculdade (ele nunca quis esse curso, fora obrigado a fazê-lo), que não havia sido mais incomodado pelo pai ou pelos homens dele e que, com o incentivo de Gabi, havia começado a fazer terapia.

Eu fiquei feliz por ele, por Léo e por nosso trio não ter se desfeito e nossa amizade ter continuado inabalada (eu diria que ela estava ainda mais forte agora).

No teatro, contraditoriamente, as coisas estavam mais calmas, mesmo que agora faltassem apenas cinco meses para a estreia da peça. Todos estavam com as falas quase decoradas, havíamos conseguido patrocínio de três empresas, as medidas para os figurinos já haviam sido tiradas e o cenário estava sendo finalizado com rapidez e perfeição. As coisas estavam dando certo, o que tranquilizava Rafael e, automaticamente, tranquilizava todos nós do elenco e produção também.

Pietra havia me mandado pelo correio os cartazes e plaquinhas que (não sei com que tempo) ela havia feito no dia em que Beatriz embarcou para ir visita-la. Piê não teria como esconder todas essas coisas de Bia com Bia dividindo o mesmo quarto de hotel que ela. Agora uma caixa gigantesca com cartazes e placas fofas e piegas estava escondida debaixo da minha cama. Eu também havia aproveitado a minha saída com os meninos para comprar algumas luzes decorativas que a ruiva não havia conseguido sair para procurar.

O período de provas da faculdade havia acabado e o clima do lugar estava bem mais leve depois disso. Os estudantes não pareciam mais zumbis e os professores pareciam satisfeitos. No estágio as coisas continuavam como sempre e a tartaruguinha de Gabi, Eva, estava bem e já havia retornado para casa.

Beatriz estava vivendo na base de cafeína para não perder nenhum detalhe da organização final do seu aniversário, o qual ela mesma batizou de "festa do ano", e tentando descobrir como seria pedida em casamento. Eu estava sinceramente preocupada com a minha melhor amiga. Ela parecia estar beirando a loucura e me puxando junto para o precipício. E, para piorar, eu ainda não havia escolhido a minha fantasia para a festa dela.

Minhas mães, os pais de Arthur, Marta e Carlos haviam ficado felizes com a notícia de nosso namoro. Aparentemente, Art e eu éramos namoradinhos desde a infância, todos eles sabiam, menos Art e eu. De toda forma, eu havia ficado aliviada e grata pelo clima entre nós e nossas famílias não ter mudado ou ficado estranho e desconfortável.

Eu estava me sentindo uma garotinha boba e apaixonada, o que eu de fato deveria estar parecendo, mas não me envergonhava nenhum pouco. Arthur havia mudado a sua rotina para que eu pudesse vê-lo e para que nós pudéssemos fazer alguma coisa juntos todos os dias. Além disso, ele também tinha liberado os seus sábados só para mim. Não haveria programação ou cronograma nesse dia. Seria apenas nós dois e o que nos desse vontade de fazer. O que, vindo de Art, que sempre viveu seguindo à risca a sua rotina, era a mesma coisa que uma grande e extravagante declaração de amor.

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