A Festa - Parte 1
Olhei meu reflexo no espelho do elevador uma última vez antes que as portas metálicas pintadas de dourado brilhante (o que as faziam parecer serem feitas de ouro polido) se abrissem.
Eu estava usando um cropped branco liso e simples, de alças grosas, e um conjunto de calça e jaqueta jeans, que eram o verdadeiro charme do look e os responsáveis pelos pequenos furos e cortes nas pontas dos meus dedos. O lado direito (da calça e da jaqueta) era de um tom bem escuro de azul, quase beirando o preto, enquanto o lado esquerdo era de um bege bem claro, quase branco. A cor dos bolsos e da gola da jaqueta estavam invertidas, o que fazia com se destacassem ainda mais, assim como os bolsos da calça. Eu havia passado a última semana inteira trabalhando nessa roupa e estava orgulhosa do meu trabalho.
Meu cabelo estava solto e escorria livre e liso por minhas costas até a cintura. Suas cores recém retocadas estavam vibrantes e chamativas. Exatamente como eu gostava. Minha maquiagem se resumia a blush, iluminador, rímel, protetor labial e um lindo delineado preto (obrigada de novo, Bia!). Nos pés eu estava com minhas botas brancas de cano curto, bico quadrado e salto mediano e grosso.
Eu não estava usando joias nem sutiã, mesmo que mami Lola tivesse insistido bastante (sobre as joias, não sobre o sutiã. Ela e mamãe Bárbara sempre respeitaram minha escolha de não usá-lo).
Saí do elevador quando as portas se abriram e agradeci mentalmente Pedro por ter me avisado que as pessoas costumavam pegar as roupas mais bonitas e mais caras do armário para vestirem nas festas de sua casa. Nas festas do seu pai.
Olhei a sala ao meu redor (porque o prédio em que ele morava era esses prédios chiques em que o elevador abre no meio da sala) e as pessoas que estavam nela. Uma única peça de roupa de qualquer um ali deveria valer mais do que todas as roupas do meu armário, mas eu não estava me sentindo nenhum pouco inferior àqueles narizes empinados. Eu estava me sentindo espetacularmente linda e, modéstia à parte, eu tinha muito mais estilo do que todos ali.
Logo avistei a cabeleira loira muito bem arrumada de Pedro caminhando até mim.
- Desculpa, a demora. Alguns convidados me pararam no meio do caminho. – ele disse, parando na minha frente – Te fiz esperar muito?
- Não, eu acabei de chegar. – respondi sorrindo. Pedro estava muito bonito naquele terno azul marinho.
- Uau! – ele disse sorrindo largo – Eu não sabia que estava conversando com uma deusa todo esse tempo. Você está absurdamente maravilhosa.
- Obrigada, mas eu lamento informar que essa roupa não te deixa nem um pouco fantasmagórico. Na verdade, você tá parecendo um humano vivo muito bonito. – respondo e ele abre um sorriso grande, exibindo seus dentes perfeitamente alinhados.
- Ah, lamento por isso. – ele responde, fingindo tristeza e entrando na brincadeira.
- Tudo bem, tem meu perdão dessa vez. Mas se esforce mais da próxima.
- Com toda certeza, deusa. Obrigado por sua piedade.
E então nós gargalhamos, o que atraiu os olhares de tédio das pessoas que estavam a nossa volta. Me perguntei se os olhares eram por causa da minha risada que parecia ronco, ou por causa da de Pedro, que era realmente alta. Eu apostava que era porque fazia muito tempo que aquelas pessoas não ouviam gargalhadas verdadeiras ou invés daquela risada robótica e ensaiada, que todos ali davam por aparência ou por educação.
- Quer dá uma volta e conhecer o lugar? – ele ofereceu
- Claro. – aceito – Podemos começar pela cozinha?
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Espectro das Cores
RomanceWit tem vinte e dois anos e está no seu penúltimo ano da faculdade de medicina veterinária. Ela tem duas mães que a apoiam, uma melhor amiga incrível, um namorado perfeito e tem Arthur, o irmão mais velho da sua melhor amiga, que está no espectro au...