Capítulo 31 - Passado

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Enfim, dezoito anos.

Eu sentia que um ciclo da minha vida estava se fechando, chegando ao fim, o que era bem irônico já que eu não acreditava nesse lance de ciclos. Mas acontecia que havia algo como um renascer ao chegar na maior idade. Era como chegar ao nível dois de um jogo; como pedir uma vitamina com um sabor diferente: você não sabe o que vem pela frente, mas não tem medo porque tem muita adrenalina correndo pelo seu corpo, te dando coragem e excitação.

De toda forma, existindo um ciclo ou não, as coisas estavam mudando. Minha bicicleta estava a três meses aposentada no fundo da garagem, eu não precisava mais dela agora que tinha idade e habilitação para pilotar a moto velha da mamãe Bárbara, que agora era minha (é desnecessário dizer que havia sido o meu presente de aniversário preferido). Eu também havia colocado vários piercings na orelha direita e nos meus mamilos.

No colégio as coisas estavam caóticas. Era o último bimestre do ano e todos os finalistas da terceira série lutavam para conseguir estudar para as provas finais, estudar para os vestibulares e organizar uma festa memorável de formatura. Tudo isso ao mesmo tempo enquanto continuavam a cumprir com suas outras obrigações e tentavam não enlouquecer ou cometer algum crime de ódio.

Beatriz e eu havíamos arrumado empregos. Eu, no mesmo lugar onde coloquei os piercings, e ela, como auxiliar em um curso de Libras.

Bia não precisava trabalhar, o pai dela havia herdado muito dinheiro de seu avô e sua mãe recebia muito bem sendo prefeita da cidade, mas ela se esforçou para conseguir um emprego mesmo assim. Para Bia, trabalhar era mais como “conseguir minha própria autonomia” do que “conseguir meu próprio dinheiro”. De qualquer forma, o que importava era que ela estava feliz e satisfeita consigo mesma.

No teatro as coisas estavam ficando mais sérias também. As peças agora tinham mais atos, os roteiros eram mais longos e as falas mais rebuscadas. E mesmo que o teatro fosse apenas um hobbie para mim, errar não era mais permitido e comprometimento e esforço eram absolutamente necessários. Eu mal estava tendo tempo para respirar, mas abandonar o teatro nunca foi uma opção; eu o amava demais para isso. Felizmente, Rafael e Gabriel pareciam compartilhar do mesmo sentimento e determinação que eu, porque mesmo com toda a cacofonia que estava em nossas vidas, eles nunca haviam faltado a um ensaio sequer.

Continuar no teatro, no entanto, não era a única coisa com a qual eu estava determinada. Eu havia decidido que iria superar Arthur e me abrir para outras pessoas, como, por exemplo, o Pedro. Nós havíamos nos beijado semana passada. Foi o nosso primeiro beijo e foi estranho e babado, mas de alguma forma também havia sido bom e eu havia gostado. Eu não havia pensado em Art enquanto beijava o loiro e nem quando beijei uma garota (por curiosidade) no começo dessa semana (havia sido menos babado do que meu beijo com Pedro), o que eu considerei um passo grande e importante no meu processo de superação.

Arthur estava seguindo a vida dele e estava tendo encontros ocasionais com uma tal de Alice, que estudava na mesma faculdade que Art e fazia desenhos em seus sapatos. Eu estava morrendo de ciúmes, era óbvio mesmo que eu negasse e tentasse esconder, não tinha orgulho desse sentimento, mas também não conseguia evitar de senti-lo. Entretanto, eu também estava feliz por ele, apesar de não parecer. Acontecia que eu amava tanto Art (porque sim, a paixão já havia se transformado em amor) que vê-lo quebrando barreiras e superando seus limites me deixava feliz.

Okay, eu também fiquei feliz quando ele admitiu não ter beijado Alice na boca, o que foi ridículo e infantil. Mas isso não importa mais agora porque, bem, eu estou superando Arthur.

- Wit? – Ariel chama meu nome, me tirando de meus pensamentos – O tempo está fechando, acabei de ver a previsão do tempo e parece que vai cair uma daquelas chuvas fortes. Pega suas coisas e vai para casa.

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