Capítulo 9 - Passado

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O sol estava forte sobre nossas cabeças, todavia, Bia e eu continuávamos pulando animadas em cima do trio elétrico e acenando para todas as pessoas que acenavam para nós. Estávamos em uma carreata política da tia Zuri, eu não fazia ideia do que isso significava, mas era divertido.

- Estão bem, pequenas? – perguntou tio Antônio.

Ele era alto, negro, musculoso e barbado. Se não fosse pela careca e por sempre estar sorrindo, pareceria assustador. Ele era muito legal e engraçado e ficou o tempo todo ao nosso lado nos servindo água.

- Sim, papai. – disse Beatriz arrumando o óculos de sol no rosto.

- Tudo, tio – respondo.

Ele sorri para nós, tira seu boné e o coloca em mim. Bia usava um igual e Arthur não havia vindo conosco.

- Que bom! – ele disse – Vamos ficar parados aqui um pouco, por que vocês não entram no carro enquanto isso? Está ficando quente e eu não quero que adoeçam.

- Vamos parar de novo? – reclama Bia

- Sim, querida. – o tio responde – A mamãe tem que conversar com as pessoas, é importante.

Beatriz fez bico, mas se conformou.

Descemos as escadas do carro e entramos em algo parecido com uma sala bem pequena, que ficava debaixo de onde estávamos. Nela haviam dois mini sofás, onde Bia e eu sentamos. Tio Antônio abriu o frigobar e pegou duas latinhas de refrigerante, uma para ele e outra para Bia, e uma caixinha de suco de uva para mim, já que eu não gostava nenhum pouco daquela bebida gasosa.

- Quer brincar de Tricilomelo? – pergunto à Beatriz.

Ela assente, coloca sua bebida no espaço vazio do estofado ao seu lado e vira para mim. Prendo minha caixinha de suco entre os joelhos e iniciamos o jogo de mãos. Cantávamos cada vez mais rápido, até que repentinamente a música repetitiva que falava o nome da tia Zuri parou de tocar e muitos gritos de diversas vozes diferentes do lado de fora se fizeram ouvir.

Tio Antônio levantou de supetão do sofá no lado oposto e Bia e eu paramos as palmas.

- O que está acontecendo? – pergunto.

- Fiquem aqui dentro, está bem? – ele disse caminhando até a escada.

- Onde o senhor vai, papai? – perguntou Bia, ficando de pé.

- Vou ver o que está acontecendo. Não saiam daqui até eu voltar, combinado?

Os sons de coisas sendo quebradas e pessoas correndo ficaram mais altos.

- Combinado, tio – levanto e seguro a mão de Bia.

- Tá bom, papai. Toma cuidado e traz a mamãe. – ela pediu

- Pode deixar, querida. – ele diz e some escadas à cima.

- Espero que a mamãe ache o papai antes que ele se machuque. – diz Bia e eu assinto. – Acha que ela está bem?

- A tia Zuri? – pergunto e ela concorda com a cabeça. – Tenho certeza. Minha mamãe Bárbara tá com ela, lembra? E minha mamãe é muito forte. – respondo levantando os punhos.

Bia sorri.

- É verdade. – concorda.

Ficamos em silêncio e olhamos para o topo da escada. O som da sirene do carro de polícia se fez presente, mas os gritos permaneciam incessantes. Voltamos a nos encarar. Eu sorri e Bia negou com a cabeça.

- Não, Wit – ela disse – Não podemos.

- Rapidinho! – peço.

- Mas o papai disse que não.

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