Capítulo 5 - Passado

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- Arthur! – abro a porta do quarto dele. – Arthur!

- Não. – ele diz.

- Por favor!

- Não.

- Por favorzinho! – insisto.

- Minha resposta continua sendo não. – ele sequer levantou os olhos do cubo mágico que montava.

Cruzo os braços e bufo.

- Você está me olhando fixamente por mais de quinze segundos. – ele joga o cubo, já montado, na cama e levanta os olhos para mim – Você disse que não se deve olhar fixamente para alguém por tanto tempo, porque é estranho e desconfortável.

- É.

Ele me encara.

- Você está brava? – ele pergunta

- É. – concordo virando o rosto para a parede.

- Por que eu não quero brincar com você e com a Bia?

- É.

- Eu quem deveria estar bravo, não você.

- É?

- Já tinha dito que não quero brincar. Você que fica insistindo.

- É.

- Só vai ficar dizendo isso?

- É.

- Você está sendo irritante.

Coloco as mãos no quadril e olho para Arthur.

- É você quem está sendo irritante. E chato. Muito chato. Estou brava com você.

- Eu não sei brincar de monstro, Wit. – ele admite baixinho.

- Ensinamos você. Não é difícil. – ele olha para a janela do quarto, de onde era possível ouvir as risadas de Beatriz – Tive uma ideia! Você pode ser o príncipe preso na torre e Bia e eu podemos ser as princesas cavaleiras mágicas que vão te salvar. O que acha?

- E o monstro?

- Bia e eu podemos imaginá-lo.

- Imaginar? – ele finalmente me olha.

- Sim. Quer brincar agora?

- Não vou precisar sair daqui?

- Não.

- Vou precisar correr?

- Não.

- Nem mentir que sou uma coisa que não existe?

- Não é mentir, é fingir. Mas não, não vai precisar.

- Então tá.

- Quando a brincadeira começar você só coloca a cabeça para fora da janela e grita: "Socorro princesas cavaleiras mágicas!" Tá bom?

- Tá bom.

- Eba! Vou falar pra Bia.

Viro as costas e caminho até a porta. Quando estou prestes a sair, Arthur pergunta baixinho:

- Você ainda está brava comigo?

Viro e o encaro. Ele estava em pé, ao lado da cama, com os braços para trás e a cabeça baixa, com seus cachinhos lhe cobrindo o rosto. Ando até ele e me inclino um pouco para baixo quando paro ao seu lado. Arthur era um ano mais velho, mas eu era mais alta.

Beijo sua bochecha.

- Não, - respondo – estou muito feliz. Obrigada.

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