Capítulo 4 - Presente

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- Então você quer namorar – digo descontraidamente enquanto mergulho os pelos sintéticos do pincel no potinho de tinta verde neon.

- Sim. Acho que é um bom momento.  – ele responde analisando a pintura do Abaporu que havia acabado de concluir em uma das minhas calças jeans.

- Por que? – volto a pintar a última das cabeças alienígenas desenhadas nas pernas de outra calça.

- Porque vou terminar a faculdade esse ano e porque decidi que quero morar sozinho.

- Então você quer aproveitar a mudança que vai ocorrer na sua rotina e arrumar uma namorada para encaixá-la na sua vida e não ter que mudar nada depois, de novo. – concluo seu pensamento.

- Exatamente. – ele tira o avental que vestia.

- Uau, que romântico.

- Ironia? – sinto seus olhos sobre mim.

- Sim. – respondo. 

- Eu também quero me apaixonar, obviamente.

- Ah, isso é um alívio.

- Está sendo irônica de novo?

Coloco o pincel em um pote com água ao meu lado e viro para Arthur.

- Já encontrou alguma casa do seu interesse? – mudo de assunto.

- Ainda não, mas estou procurando.

- Me avise quando achar alguma. Vou com você olhá-la.

- Está bem. Tem tinta na sua bochecha. – levanto a mão para limpar – Não nessa, na outra.

Esfrego a bochecha esquerda.

- Saiu? – pergunto.

- Não. Você só espalhou mais e ainda sujou a mão. – ele pegou um lenço umedecido em um pote na mesa, aproximou-se e começou a limpar meu rosto.

Sinto minhas bochechas arderem. Fazia muito tempo que ele não ficava assim tão perto, desde que eu havia oficializado meu namoro com Pedro, três anos atrás, para ser mais exata. Art sempre dizia algo como: “Você está fedendo o perfume dele” e então se afastava.

- Já contou para os seus pais? Que quer se mudar. – pergunto, cortando a linha dos meus pensamentos.

- Ainda não. Quero contar para os dois juntos, então estou esperando minha mãe voltar da capital.

- Pensei que ela fosse voltar ontem.

- Sim, ela ia, mas houve um imprevisto. – ele segura minha mão e passa o lenço sobre a tinta - Bia disse algo sobre algum prefeito não ter conseguido chegar a tempo, então tiveram que remarcar a reunião.

Ele sorri

- Por que está sorrindo? – questiono

- A cor verde também pode significar a juventude, mas apenas um por cento dos jovens a tem como cor favorita. – ele ri.

- E você achou isso engraçado?

- Você não?

Rolo os olhos, mas estou sorrindo, não por causa da ironia nada cômica do verde, mas porque Art está sorrindo e não há como não sorrir de volta para ele.

-  Está limpa. – anuncia se afastando.

- Obrigada.

O assisto jogar o lenço na lixeira próxima.

- Toc toc – diz Beatriz entrando na sala. Ela trazia consigo uma agenda e uma caneta – Já terminaram?

- Sim. – respondo

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