Capítulo 11 - Passado

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- Mais rápido! Mais rápido! - pedia Bia animada enquanto segurava firme em meus ombros.

Ela estava em pé nos pedais de apoio da minha bicicleta enquanto eu pedalava rapidamente entre as pessoas e mesas espalhadas pelo enorme quintal da família Lopes. Tia Zuri havia ganhado sua segunda eleição seguida, por isso organizou um grande churrasco para comemorar. Não haviam muitas pessoas e eu conhecia metade delas, no entanto, elas foram o suficiente para deixar Arthur desconfortável nos rápidos cinco minutos que esteve conosco.

Tia Zuri conversava com algumas mulheres, os gêmeos Rafael e Gabriel brincavam de pega-pega com outras crianças, mami Lola estava arrumando as travessas com comida na gigantesca mesa montada no jardim (era a maior que eu já havia visto em toda a minha vida! E olha que as mesas do orfanato eram bem grandes!). Em um canto mamãe Bárbara estava dançando pagode com padrinho Xandão (que estava com uma linda e longa saia verde hoje) e em outro o tio Antônio assava a carne na churrasqueira com o senhorzinho do mercado da esquina. Marta e Carlos estavam sem o costumeiro uniforme cinza hoje, no entanto eles continuavam ajudando e orientando tudo e todos quando tia Zuri não estava olhando.

- Bia! Wit! - chamou tio Antônio, acenando com a mão livre. Pedalo até ele. - Podem levar esse prato para o Arthur lá dentro?

Beatriz desceu da bicicleta e pegou o prato com fatias de carne da mão do pai.

- Claro, papai. - disse ela

- Por que ele não vem pegar? - abaixo o pé de apoio da bicicleta e levando - Ele sair rapidinho para pegar a própria comida não vai machucá-lo.

Tio Antônio sorri e se abaixa para ficar da minha altura.

- Tem razão, Wit. Mas me diga: como você acha que ele se sentiria aqui fora?

Olho ao redor: haviam muitas risadas e músicas. Crianças correndo e adultos conversando. Também haviam os cheiros dos diferentes desodorantes e perfumes, das travessas com comidas, da fumaça da carne assando. O quintal estava uma verdadeira algazarra.

- Acho que ele não se sentiria bem. - respondo e tio Antônio assente.

- Exatamente. Há coisas que sentimos prazer em fazer, enquanto outras nos deixam desconfortáveis. Há coisas que nos deixam felizes, enquanto outras nos deixam desconfortáveis. E está tudo bem, é normal. Temos peculiaridades, Wit, e elas fazem parte de quem somos. Você, por exemplo, não gosta de refrigerantes. Então sempre lhe servimos sucos ou outra bebida, certo? - assinto - Fazemos isso porque te respeitamos e queremos te ver feliz. A mesma coisa fazemos para Arthur. Por mais que não entendamos como pode ser tão difícil para ele conversar, brincar ou interagir com outras pessoas, devemos respeitar.

- Porque queremos vê-lo feliz - completo

- Papai, pode cortar mais carne? - perguntou Bia lambendo o dedo indicador e polegar. O prato em sua mão estava vazio.

Tio Antônio gargalha e pega o prato da mão da filha

- Claro! - ele se virou e começou a fatiar mais um pedaço de carne na tábua sobre a mesa atrás de si.

Caminhei até minhas mães, que conversavam próximas a mesa com a comida para o almoço.

- Mami, mamãe! - chamei parando em frente a elas

- Sim, cariño? - perguntou mami Lola

- Podem me ajudar a colocar comida para Arthur? Ele não se sentiria bem em vir aqui então quero levar para ele, porque quero que ele fique forte e feliz.

Minhas mães abriram grandes sorrisos amáveis.

- Claro, meu amor - concordou mamãe Bárbara - O que ele gosta de comer?

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