Capítulo 7 - Passado

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- Professora, - levanto a mão - posso ir ao banheiro?

- Pode querida, mas não demore. - ela diz.

Levanto da cadeira e saio da sala. Era aula de ciências, a minha preferida, e eu realmente não precisava o usar o vaso, mas era aula de educação física para o Arthur e eu podia ver a quadra no caminho para o banheiro.

Ele sempre fazia o alongamento, mas não costumava fazer as atividades físicas, principalmente se elas envolvessem bolas. Os garotos da turma de Arthur eram bem malvados e sempre lançavam a bola com muita força na direção dele. Uma vez, Arthur ficou com o olho roxo durante três semanas por causa de uma bolada. Desde então, eu sempre pedia para ir ao banheiro no segundo tempo de terça-feira e no quarto tempo de sexta-feira (era quando ele tinha educação física, eu havia decorado) apenas para ver se ele estava bem ou se estavam o maltratando.

Hoje ele não estava na quadra, mas sua turma estava. Ele ia para a sala multifuncional poucas vezes, apenas quando estava incomodado demais com barulho dos sapatos correndo e batendo pelo piso ou quando as risadas, gritos e conversas estavam muito altas. Tudo isso o deixava mal e nervoso, então ele ia para a sala de apoio e ficava desenhando até se acalmar. Deduzi que era onde ele estava agora.

Dei meia volta e segui o caminho para minha aula, quando ouço risadas e vozes vindo de uma sala no fim do corredor. A sala de Arthur. O que era estranho, porque não deveria ter ninguém lá.

Olho para frente: o caminho para minha sala. Eu estava demorando e provavelmente levaria uma chamada da professora, mas eu precisava ver o que estava acontecendo. Entrei no corredor da direita e andei a passos rápidos para a terceira porta do lado esquerdo.

Não tive tempo de pensar em nada quando abri a porta. Meu cérebro gritou: Arthur! E meu corpo seguiu as ordens do meu sistema nervoso antes que eu pudesse processar o que exatamente ocorria em minha frente.

Corri e pulei nas costas do garoto loiro que apertava a cabeça de Arthur contra a parede. Rodeei sua barriga grande com minhas pernas, passei meus braços ao redor de seu pescoço e apertei com força, ele soltou Arthur e caiu para trás, o que me fez bater a cabeça e as costas no chão, me causando uma dor absurda e tirando o ar de meus pulmões.

O garoto loiro levantou rapidamente, segurou meus cabelos e os puxou com força, me obrigando a levantar. Eu ainda estava tonta e minha visão embaçada.

Além do garoto loiro, haviam ainda mais dois meninos. Um deles segurou os braços de Arthur e o outro foi vigiar a porta.

- Olha quem temos aqui - disse o loiro e puxou ainda mais meus fios - A garotinha do orfanato que foi adotada por aquelas duas aberrações. Você e aquelas mulheres me dão nojo!

Gemi de dor e Arthur fez um som parecido com o de um rosnado.

- O que foi, retardado? - a mão gorducha desocupada segurou meus pulsos - Você se preocupa com ela? - ele sacudiu minha cabeça - Pensei que não ligasse para ninguém.

- Solta ela! - Arthur berrou

Minha cabeça latejava e eu tentava focar minha visão em qualquer coisa. Sentia meus olhos cheios d'água, mas não permiti que as lágrimas caíssem. Eu tinha que me concentrar em ajudar Arthur.

O garoto que me prendia cuspiu em meu rosto e sua saliva escorreu por minha bochecha, ele então soltou o aperto de meu cabelo e com a mão livre puxou a orelha direita de Arthur.

No segundo seguinte tudo aconteceu muito rápido. Arthur soltou-se do aperto do menino que o prendia e avançou sobre o loiro atrás de mim. Os dois caíram no chão e eu me lancei contra o carcereiro de Arthur e mordi seu antebraço. O vigia da porta correu para ajudar os amigos, mas eu o parei no caminho quando derrubei uma mesa em seus pés. Ele gritou e sentou no chão. O garoto que eu mordia me empurrou, enfim libertando seu braço e correu chorando para fora da sala.

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