Bastou dois dias e um aniversário à fantasia no final de semana para descobrir que Arthur e eu éramos um casal proativo que se complementava perfeitamente. Ele desenhava e eu cortava. Ele coloria e eu costurava. Ele contornava e eu concluía o acabamento. Trinta horas de trabalho em dupla (e de alguns amassos) e tínhamos feito nossas próprias fantasias.
Não pude segurar o sorriso bobo que saiu de meus lábios enquanto eu preparava a pele dele para a maquiagem artística da sua fantasia. Terminei passando rímel em seus cílios, saí do banheiro e fui para o espelho do quarto começar a minha própria maquiagem enquanto ele começava a contornar suas sobrancelhas com um pincel melado em tinta laranja.
Peguei a palheta de sombras na escrivaninha, olhei meu reflexo no espelho e comecei a passar o pigmento amarelo em minhas pálpebras, tendo cuidado para não borrar a pintura de A Noite Estrelada, que Art havia feito descendo de minha bochecha esquerda para o maxilar, pescoço, ombro e braço desnudos.
Algumas horas depois estávamos prontos e eu encarava nossos reflexos no espelho enquanto Art prendia um colar longo, prateado, brilhante e com pingente de lua em meu pescoço.
Ele estava com uma calça preta e uma camisa social azul pastel de botões por debaixo de um paletó azul marinho com listras circulares de tintas em variados tons de azul e verde. Um chapéu de palha lhe caia sobre os cabelos, cujas pontas eu havia o convencido a pintar com tinha spray alaranjada, para combinar com a barba e a sobrancelha pintadas com a mesma cor em seu rosto. Gaze circulava sua cabeça e lhe protegia os ouvidos de possíveis toques acidentais e ajudava a abafar o som. Arthur estava absurdamente lindo e gostoso fantasiado de Van Gogh.
E eu, para completar o clichê, estava fazendo par com a fantasia dele vestida de A Noite Estrelada, ou algo bem sexy próximo a isso.
Eu estava usando um macacão curto azul royal com gola “V”. O sustento da roupa no lado esquerdo era proporcionado apenas por uma alça extremamente fina, que ficava camuflada com a pintura que cobria minha pele. No lado direito o macacão continuou em sua forma original, ou seja, com a manga longa o suficiente para cobrir meu pulso. Minha cintura estava firmemente contornada por um corpete estampado com a pintura da qual eu estava me fantasiando, assim como as botas que eu estava calçando. O salto era alto, grosso e espelhado, me cobria até um palmo aberto acima dos meus joelhos e continuavam em pé devido a liga que rodeava minhas coxas (pouca coisa abaixo do meu short). O pequeno espaço visível da pele de minhas pernas também havia sido pintada.
- Você está uma verdadeira obra de arte. – Arthur diz olhando para nós através do espelho – Eu achava que não havia maneira de você ficar mais linda do que já é, mas toda vez que te vejo suja de tinta vejo que há sim, principalmente quando sou eu quem te sujou.
Me viro para olhá-lo nos olhos e coloco meus braços em seus ombros.
- Sabe por que eu te chamo de Art?
- Porque são as três primeiras letras do meu nome. – ele respondeu colocando suas mãos na curva de minha cintura.
- Não. Eu te chamo de Art porque você é isso: arte. Desde o seu dedão do pé ao seu fio mais rebelde do cabelo. De um dedo mindinho ao outro. Você é a expressão mais honesta e pura da beleza e do talento. Você me anima mais do que qualquer música, me impressiona mais do que qualquer escultura, me acalma mais do que qualquer pintura e me agita mais do que qualquer dança. Você, Arthur, é a minha arte preferida em todo o universo.
- Eu posso beijar você? – Art pergunta e eu tenho uma leve parada cardíaca
- Me beijar? Meu discurso foi tão emocionante assim? – solto um riso nervoso
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Espectro das Cores
RomanceWit tem vinte e dois anos e está no seu penúltimo ano da faculdade de medicina veterinária. Ela tem duas mães que a apoiam, uma melhor amiga incrível, um namorado perfeito e tem Arthur, o irmão mais velho da sua melhor amiga, que está no espectro au...