Uma Garota Discriminada [COMPLETO]

4.2

Eu estava lá quando você caiu das nuvens e aterrissou no deserto, houve um trovão dentro do meu coração.

- BØRNS

Deixo os meus lábios se curvarem em um sorriso ao ver a porta bater e a orgulhosa sair. Coloco os dois braços no pescoço, como tenho costume de fazer todas as vezes em que estou nervoso. Olho para cima e depois para a porta, saindo desse laboratório e indo em direção aos armários pegar os livros da próxima aula, — história — uma das melhores matérias.

Vejo quando Lisa se despede do grupinho com quem estava conversando e vem em minha direção.

— Como está o melhor amigo do mundo? — ela pergunta, com um sorriso genuíno.

— De boa, mas como você tá?

— Jacob, você foi me visitar ontem e viu que eu estou ótima.

Ela revira os olhos e umedece os lábios. Franzo a testa, cerrando os olhos em sua direção, não acreditando nem um pouco em suas falsas palavras.

Ontem fui até a sua casa ver como ela estava, sua mãe me contou que já não sabia mais o que fazer, porque a filha só queria comer frutas e verduras. Descobri também que durante as férias de verão, Lisa teve um caso grave de anemia, justamente pela alimentação precária. Porém, ela é orgulhosa demais para admitir que precisa de ajuda e que não está bem.

Sua aparência exausta ainda está presente por trás das feições muito bem maquiadas, assim como o corpo entrega a sua fraqueza quando ela anda. Lisa precisa de ajuda e sabe disso.

Vejo os alunos entrando em suas salas e me lembro de que o sinal já tocou.

— Eu sei que você não está bem, mas o seu medo das pessoas descobrirem e a sua popularidade cair é maior. Entenda, Lisa, não estaremos no ensino médio para sempre — aconselho e ela me fuzila com os olhos. — Eu quero te ajudar.

— Agradeço a sua ajuda, mas é hora de cuidar da sua própria vida, Campbell!

Sem dizer mais nada, ela sai do meu campo de visão, pisando duro. Respiro fundo e volto a me concentrar em ir para a aula, fechando o meu armário com uma força desnecessária e saindo desse corredor.

Essa rebeldia dela me tira do sério. Lisa é forte, sempre foi, mas um dia, até os mais fortes precisam de ajuda. Ele quem o diga... Acontece que, às vezes é tarde demais para ajudar, por isso precisamos ficar atentos aos sinais. Foi tarde demais com ele, foi tarde demais com a Beatrice e foi tarde demais comigo mesmo. Não posso deixar ser tarde demais com a Lisa, ela não está bem e sei que não é só a anorexia.

Depois que a Trice se foi, sinto que a instabilidade é a sua fiel escudeira. Talvez elas tivessem algo além de amizade, porque ninguém fica tão mal assim quando outra pessoa se vai, não depois de 1 ano.