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E eu não me importo se eu perder um pouco de sangue a caminho da salvação. Lutarei com a força que tenho até morrer!

- Cynthia Erivo.

Tudo o que ouço agora são zumbidos altos e irritantes

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Tudo o que ouço agora são zumbidos altos e irritantes. Minha mente está em transe há alguns dias, assim como meu corpo que vem ativando o piloto automático. Faz dois dias que Dalila foi morta por quem supostamente deveria protegê-la e as outras autoridades não fizeram nada, apenas afastaram os culpados de seus distintivos.

Olho-me no espelho e me pergunto até quando o meu pessoal será morto injustamente. Questiono-me até quando precisaremos ter medo de sair na rua e sermos confundidos com ladrões, feitas de brinquedinhos sexuais e alvos de piadas nojentas. Dói! A dor é insuportável, mas não quero chorar. Não mais.

Olho as minhas redes sociais pela última vez, vendo todos os posts indignados sobre o ocorrido, posts pedindo justiça por Dalila e todos os outros. Pesquiso se será no centro de Toronto mesmo e mando uma mensagem para o pessoal, confirmando.

Desço as escadas e me parte o coração não sentir o aroma delicioso da comida de Dalila, o que ela mais gostava de fazer. Meu pai está com um semblante triste, os olhos cheios de lágrimas e as mãos mexendo uma panela em círculos. Quando ele me vê, força uma expressão comum, oferecendo-me um sorriso. Sorrio para ele e me aproximo, abraçando-o.

Meu pai afaga meus cabelos e suspira pesadamente. Ele se sente culpado, sei que se sente. Foi ele quem pediu para ela ir até aquela loja e agora pensa que deveria ter sido ele em seu lugar, o que machuca meu coração ainda mais.

— Estou fazendo macarrão — ele murmura, desanimado.

Aperto os olhos, impedindo que as lágrimas me vençam e balanço a cabeça, concordando.

— Vou ao centro com o pessoal, preciso resolver algumas coisas — conto e ele me encara apreensivo.

— Você não vai participar da manifestação que estão organizando, vai?

— Vou! — Confesso e ele assume uma carranca.

— Você não vai, Ana. Eles não hesitarão em atirar em mais negros.

— Pai, eles não vão atirar em mim — acalmo-o, tentando acreditar nisso. — Não me importo se perder um pouco de sangue a caminho da liberdade.

— Ana, não estou brincando!

— Eu também não, pai. Mas é por causa dessas manifestações que eu posso ir à escola hoje, que temos nossos direitos, apesar de serem precários. Eu preciso fazer isso. Preciso falar por quem não pode mais — desabafo, com o coração pulsando fortemente.

Ele tenta me impedir mais algumas vezes, mas continuo firme na minha decisão, fazendo-o ceder depois de inúmeras tentativas.

Fecho o portão e caminho até a esquina onde o carro do Jacob está estacionado. Fecho a jaqueta preta e respiro fundo, sentindo o vento soprar violentamente contra o meu rosto. O inverno está tenebroso e as ruas cobertas por uma fina camada de gelo.

Uma Garota Discriminada [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora