02 | Que pena, você parece beijar bem

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Linda, por favor, nunca se sinta como se fosse menos do que perfeita pra caramba!

- P!nk.

Esfrego os meus olhos, tentando acordar de vez. Olho as cortinas amarelas — quase transparentes — da minha janela, que estão balançando seguindo o ritmo do vento, como em uma valsa e me lembro de que hoje é o primeiro dia no inferno. Reviro os olhos e cubro a minha cabeça com o edredom, não querendo levantar.

Eu gosto de estudar, mas é o meu último primeiro dia, e o Ensino Médio não tem bons elogios, principalmente aqui na América do Norte. Preciso me esforçar mais do que no ano anterior, mas vai ser difícil. Vai ser muito difícil. Digo isso por causa dos olhares tortos, que com certeza aumentarão. Malditos olhares!

Pego o meu celular e vejo que são 07:00 horas. Desligo e volto a fechar os olhos. Só então o meu cérebro desperta, fazendo-me saltar da cama. A porcaria do alarme não tocou, que droga!

Corro até o banheiro para tomar um banho rápido e escovar os dentes. Saio alguns minutos depois e tento ouvir vozes, mas não ouço nada, o que é muito estranho.

Pego o uniforme que Dalila passou para mim ontem à noite, ela é um amor de pessoa e nos ajuda a cuidar da casa. Desconfio que ela sinta alguma coisa pelo meu pai e sei que não seria nenhuma surpresa se os dois resolvessem casar ou algo do gênero. Faço uma careta e coloco a peça — que ainda está no cabide — na frente do meu corpo, olhando-me no espelho.

É, os canadenses não têm bom gosto. Parece que tudo nesse país precisa ter vermelho e branco, o que é até bonitinho, mas vermelho e cinza... é uma combinação estranha.

Coloco primeiro a camisa social de algodão, branca, percebendo que o tecido pinica. Depois, visto a saia cinza de pregas, que fica quase no meio da coxa. Pego a gravata cinza com listras em vermelho e a penduro no pescoço, rindo em seguida. Isso é muito esquisito. Calço o all star branco e visto o casaco vermelho quentinho, com o emblema da escola na parte superior direita, um R em dourado. Percebo que o casaco cobre uma parte da saia e sorrio.

Olhando assim, não parece tão ruim, mas o vermelho fez um contraste muito chamativo com a minha pele.

Já ouvi falar sobre o Red High School. Até o nome da escola precisa ser vermelho, a paixão desse pessoal por vermelho é bem preocupante. Talvez seja uma questão patriota, como o amarelo, azul e verde para os brasileiros, mas nem todo mundo fica usando essas cores em tudo.

De qualquer forma, soube que é uma escola frequentada apenas pela Elite canadense. Entrarei como bolsista, o que foi um alívio para o meu pai e um pesadelo para mim. Sei que o Canadá é um dos países que mais recebe intercambistas e, se eu pudesse, iria para uma dessas escolas que eles vão. Porém, a escolha final não foi minha.

Pego a minha bolsa e saio do quarto, descendo as escadas e entrando na cozinha. Estou até estranhando a calmaria. Dalila e o meu pai ainda não estão aqui, o que é bem estranho, já que sempre são os primeiros a acordar.

Pego algumas coisas que encontro na geladeira e coloco em cima da bancada, depois pego o café e ligo a cafeteira, olhando o meu reflexo no vidro da janela. Seria melhor prender um pouco do meu cabelo para não chamar tanta atenção...

Tiro o lacinho branco, que está em meu pulso, e amarro um pouco dos fios rebeldes, revirando os olhos e subindo as escadas para arrumar isso direito. Preciso molhar, pentear a raiz, passar pomada ou gel para controlar os fios e só então prender.

Uma Garota Discriminada [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora