10 | Não posso mais viver assim

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Um coração partido é tudo que restou, eu ainda estou consertando todas as rachaduras... perdi alguns pedaços quando eu o levei pra casa.

- Duncan Laurence.

Encaro o piso branco e desgastado da quadra, que antes era a minha paixão

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Encaro o piso branco e desgastado da quadra, que antes era a minha paixão. As paredes estrategicamente pintadas com as cores do nosso time; preto e vermelho. As arquibancadas negras. As pequenas traves. Ainda posso ouvir a multidão gritando meu nome, enquanto me sentia vitorioso, até tudo desaparecer junto com a ambulância naquela maldita noite.

Eu tinha uma vida inteira planejada. Dedicaria meus dias ao hóquei, tornaria-me o melhor! Chamaria a atenção de um olheiro e ingressaria em uma das melhores universidades possíveis. Depois iria decidir o curso, mas algo me dizia que eu iria para o lado do direito, afinal, está no meu sangue.

Meu avô era juiz e meu pai advogado, além de ter alguns tios promotores. O mais engraçado na família Campbell é que todos os "doutores" são corruptos e defendem quem não presta. Tudo por dinheiro.

Lembro-me de que eu e Christian, meu falecido irmão, disputávamos para ver quem iria para a universidade primeiro. Ele queria ser arqueólogo e com certeza conseguiria, porque nunca vi alguém tão inteligente quanto Chris.

Se ele estivesse aqui teria me dado uma surra e me chamaria de vários nomes que não prestam. Eu abaixaria a cabeça e concordaria, porque ele sempre tinha razão. Lembro-me de que no começo ele até gostava da Evangeline, mas depois começou a ver algo que eu não via e foi se afastando dela aos poucos. Dela e do meu grupo de amigos. Até mudou de escola para poder recomeçar.

Ele nunca me contou o motivo para tomar essa decisão, mas desconfio que tenha tido algo a ver com sua sexualidade. Afinal, ele foi morto pelo próprio pai por causa disso. Jamais esquecerei a primeira surra no escritório. Jamais esquecerei as palavras que saiu da boca daquele que um dia eu chamei de pai. Jamais esquecerei as marcas que ficaram em seu corpo e o padre que foi chamado no dia seguinte para curá-lo.

— Ei! Campbell — Zayn me chama, deslizando pelo piso idêntico ao gelo.

Ergo o corpo e fico em pé sobre os patins, olhando os meus dedos tatuados. 08.10... Ainda dói para caramba.

— Está com a cabeça nas nuvens outra vez? — ele debocha e eu tento sorrir.

— Hoje é dia 08, Zayn — murmuro, colocando o capacete.

— Puts, nem me liguei. Sinto muito — ele se desculpa, batendo em meu ombro como sinal de consolo.

— Tudo bem. Foi bom você não ter lembrado. Compaixão é a última coisa que eu preciso.

Ele abre seu sorriso sacana e volta a se locomover, chegando até onde os rapazes estão. O treinador aparece na quadra, checando seu relógio e murmurando alguma coisa para os garotos do time. Aproximo-me deles e o treinador cruza os braços, irritado.

Uma Garota Discriminada [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora