Uma Garota Discriminada [COMPLETO]

8.2

Vencer a confusão, é bom fazer isso do jeito certo em um jogo onde só os fortes sobrevivem. 

- Valley of Wolves.

Mordo a parte interior dos meus lábios, até sentir o gosto metálico na minha língua. Como as coisas saíram de controle dessa forma? Como pude deixar aquilo acontecer? Eu deveria ter conseguido parar!

Jacob ainda está encostado na pia ao meu lado, enquanto eu esfrego mais os meus dedos. Nunca tive muito autocontrole, mas preciso aprender a ter, caso contrário, acabarei machucando seriamente alguém e jamais me perdoaria se chegasse a esse ponto.

Não tive culpa, ela me atacou primeiro e eu só revidei. Pelo menos foi isso o que repeti para mim mesma durante todos os minutos que passei trancada naquele banheiro, tentando me livrar do sangue de uma garota que eu mal conheço.

Aos poucos tudo está começando a fazer sentido, e algumas peças do quebra cabeça estão começando a se encaixar, já outras estão ficando de fora, porque é como se não houvesse espaço para elas.

Evangeline e Jullie. Duas garotas igualmente perversas e que têm personalidades parecidas, consequentemente capacidades idênticas. Tentei impedir que matassem uma a outra e acabei apanhando também, logo tendo o ódio voltado contra mim, acompanhado de insultos racistas e até metáforas envolvendo escravos.

Por muito tempo aprendi a relevar e a escutar calada, reprimindo toda a mágoa e ódio que estão dentro de mim por tamanha injustiça, mas chega uma hora em que você se sente tão oprimida que não consegue se controlar. Foi isso o que aconteceu, eu explodi.

Pedi para a ruiva idiota repetir e ela disse: "você deveria estar lavando os meus pés e recebendo chicotadas nessas costas nojentas!". Depois disso, tudo aconteceu muito rápido. Quando vi, meu punho já havia acertado um soco em sua cara e seu nariz já estava sangrando, talvez levemente inclinado também. Ela revidou, claro, enquanto Evangeline soltava uma risada anasalada e saia dali. Com certeza a pilantra já tinha tudo arquitetado.

— Ela fez algo contra você? — Jacob pergunta, ainda assimilando as teorias que joguei em cima dele.

— Veio com o racismo nojento e eu explodi.

Termino de torcer o colete marrom aveludado, usando uma força desnecessária. Para piorar, Flynn precisava derrubar ponche na minha fantasia de Watson. Visto a camisa branca e social, que fica transparente — graças a mancha que não saiu — e reviro os olhos.

Jacob ainda está me encarando com curiosidade e eu fico sem saber o que fazer por alguns minutos, então me lembro do quadro de suspeitos de Tom e de que esse cômodo é uma bomba relógio, porque há muita informação que ele não deve descobrir. Uma delas é que está sendo investigado.

— Como conseguiu controlar seu psicológico hoje?

— Não olhei na cara das pessoas — revelo e faço menção de me afastar, mas ele impede.